Solidariedade ou conveniência?
- 5 de junho de 2024
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- Theillyson Lima
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A linha tênue entre solidariedade genuína e conveniência pessoal.
Maria Fernanda de la Cruz Chire
Nos últimos anos, os influenciadores digitais ganharam um papel central na disseminação de informações e na formação de opiniões. No entanto, a recente tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul destacou tanto o potencial positivo quanto os perigos das ações desses formadores de opinião.
Enquanto alguns influenciadores se mobilizaram para ajudar e conscientizar, outros tomaram atitudes questionáveis que merecem uma análise crítica.
Ações positivas: mobilização e conscientização
Há influenciadores que utilizaram suas plataformas de maneira exemplar durante as enchentes. Eles mobilizaram seus seguidores para doações, compartilharam informações úteis sobre como e onde ajudar e deram visibilidade às necessidades mais urgentes das vítimas. Esses esforços são vitais em momentos de crise, pois ampliam a capacidade de resposta imediata e eficaz, muitas vezes preenchendo lacunas deixadas pela atuação governamental.
Celebridades como Virginia Fonseca, Eliezer e a cantora Luisa Sonza foram alguns dos influenciadores que se destacaram por sua mobilização. Virginia Fonseca afirmou em seu Instagram que reverterá todos os lucros de sua empresa de cosméticos, a Wepink, para as vítimas das enchentes. Ela também mencionou que além de orações, que considera importantes, está se informando sobre as cidades afetadas para direcionar a ajuda e divulgará campanhas solidárias em suas redes sociais.
Eliezer, ex-participante do “BBB”, demonstrou apoio ao divulgar o link da campanha solidária organizada pelo Instituto Vakinha, Pretinho Básico e Badin Colono, que arrecadou cerca de R$ 440 mil. Ele destacou a gravidade da situação e pediu para que seus seguidores também contribuíssem.
A cantora Luisa Sonza também usou sua visibilidade para demonstrar solidariedade, compartilhando uma campanha organizada pela CUFA (Central Única das Favelas) do Rio Grande do Sul. Essas ações mostram o impacto positivo que influenciadores podem ter ao mobilizar recursos e atenção para crises humanitárias.
Casos polêmicos
Por outro lado, algumas atitudes de influenciadores, como a de Davi Brito, vencedor do “Big Brother Brasil 24”, levantam sérias questões éticas. Davi admitiu ter utilizado parte das doações arrecadadas para custear sua própria viagem ao estado. Embora ele tenha justificado essa ação afirmando que não tinha condições financeiras para a viagem, essa atitude pode ser vista como uma exploração da boa vontade do público.
A prioridade deveria ter sido direcionar todos os recursos para as vítimas, sem desviar fundos para uso pessoal, especialmente considerando sua recente ascensão financeira. Davi, como alguém que ganhou um prêmio substancial, deveria ter encontrado outras formas de financiar sua viagem, preservando as doações exclusivamente para aqueles em necessidade urgente.
Essa conduta não apenas compromete a confiança do público em campanhas de arrecadação de fundos, mas também destaca a importância da transparência e da responsabilidade no uso dos recursos coletivos. A percepção de que os fundos doados podem ser desviados para usos pessoais pode desencorajar futuras doações, o que é prejudicial em momentos onde cada contribuição conta.
De encorajamento da solidariedade
Outros influenciadores, como Lady, ex-participante do “BBB24”, tomaram uma postura ainda mais controversa ao desencorajar seus seguidores a ajudar. Lady afirmou que a responsabilidade de ajudar era exclusivamente do governo, desconsiderando o importante papel da ação comunitária em crises.
Essa visão promove um senso de desengajamento e passividade, negligenciando o impacto positivo que a mobilização individual e coletiva pode ter. Da mesma forma, o jornalista Léo Dias criticou as campanhas de arrecadação de fundos, reforçando a ideia de que a responsabilidade é inteiramente do governo e desencorajando as doações.
A declaração de Lady é particularmente preocupante porque subestima a capacidade da sociedade civil de atuar de forma eficaz em situações de emergência. Em muitos casos, a resposta do governo pode ser insuficiente ou tardia, e a mobilização da população pode suprir essas deficiências, oferecendo ajuda imediata e recursos essenciais. Ao desencorajar a participação ativa de seus seguidores, Lady não apenas contribui para a perpetuação da inação, mas também desvaloriza os esforços de inúmeras pessoas que, movidas pela empatia e solidariedade, poderiam fazer a diferença na vida das vítimas.
Léo Dias, por sua vez, ao criticar as campanhas de arrecadação, reforça uma visão que pode ser percebida como cínica e desmotivadora. Embora seja crucial exigir transparência e eficácia na utilização dos recursos públicos, a crítica indiscriminada às iniciativas de doação pode resultar em um enfraquecimento do apoio comunitário, essencial em momentos de crise. As doações privadas muitas vezes fornecem um alívio que é mais rápido e direto, complementando os esforços governamentais e aliviando o sofrimento imediato das vítimas.
O impacto das palavras e ações dos influenciadores
As palavras e ações de influenciadores têm um impacto significativo e podem moldar a resposta pública em momentos críticos. Declarações que desmotivam a ajuda comunitária ou que desviam recursos doados para fins pessoais não apenas comprometem a eficácia do socorro imediato, mas também podem minar a confiança do público na solidariedade como um todo. Em contraste, influenciadores que utilizam sua plataforma para promover a ajuda mútua e a conscientização demonstram um compromisso com o bem-estar coletivo e inspiram ações positivas.