Ser adulto não é o problema, esquecer é que é
- 19 de abril de 2023
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- Theillyson Lima
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O Pequeno Príncipe e o mundo das, decididamente estranhas, pessoas grandes!
Sâmilla Oliveira
Criança ou adulto, não importa. Se você sabe ler e tem o mínimo de imaginação, O Pequeno Príncipe é capaz de despertar a criança que existe em algum lugar dentro de você. Publicado pela primeira vez em 1943, uma das obras literárias mais traduzidas no mundo e disponível em mais de 220 idiomas e dialetos. Sim! Estamos falando da clássica literatura reconhecida mundialmente por abrigar tantas lições a crianças e adultos: O Pequeno Príncipe.
Você já deve saber, mas não custa relembrar. O livro conta a história de um principezinho que provavelmente viera de um pequeno asteróide. Ele viaja pelo universo em busca de amizade e significado. Com linguagem simples, a história é sensível e rica em simbolismo e metáforas.
O autor do livro também é narrador-personagem e evolui sua reflexão sobre questões fundamentais da vida, junto com o leitor no decorrer da história. Antoine de Saint-Exupéry foi escritor, ilustrador e piloto francês. Na história, ele é exatamente a mesma pessoa. Ele é um piloto que escreve e desenha, apesar de ter tido sua carreira como pintor frustrada aos 6 anos (como lamenta continuamente nas páginas do livro).
O filme
Assuntos sérios como amizade, amor, vida profissional, personalidade, caráter… Tudo isso, com uma pitada de ironia sem papas na língua. O Pequeno Príncipe recentemente ganhou uma adaptação para as telinhas. O filme, que carrega o mesmo título, foi lançado em agosto de 2015. Dirigido por Mark Osborne, a produção logo declarou que a proposta do longa nunca foi reproduzir o livro. De fato, isso não aconteceu.
A história do aviador que encontra no deserto um menino doce e cheio de perguntas está no filme, mas em segundo plano. O roteiro incluiu o drama de vida de uma garotinha que é conduzida por uma mãe controladora e cheia de objetivos elevados para a vida da jovem criança. A menina segue um quadro chamado “plano de vida”, que controla tudo ao seu redor. Desde a hora certa de comer até a hora certa de fazer um amigo.
No filme, enquanto a menina está sendo milimetricamente programada para viver como uma adulta, um vizinho singular apresenta um novo mundo, o mundo do pequeno príncipe que ele conheceu no deserto, quando ainda era aviador. Se você ainda não assistiu o filme e está pensando em uma produção repleta de rosas, raposas e mini planetas o tempo todo, talvez você se decepcione.
Uma adaptação distante
Mas, antes de lutar com unhas e dentes contra a produção, lembre-se do que já contei antes: a ideia nunca foi fazer uma cópia. São experiências diferentes. Para quem ama a riqueza de detalhes do livro e esperou anos para um dia materializar suas ideias do que foi escrito, o filme é como um refresco que não sacia totalmente. Podemos, então, concordar que as animações de Dimitri Rassan e Aton Soumache foram feitas sob a preocupação de satisfazer o público.
O afastamento da história pura do livro me faz questionar se o filme merece ser chamado pelo mesmo nome. A nova camada criada para fundamentar o livro ditou um fim que antes o leitor tinha a possibilidade de criar. O pequeno príncipe morreu? Voltou para seu planeta natal? Antes, podíamos olhar para as estrelas e imaginar sua risada. Mas a produção apresenta outro caminho para a história, desmanchando o final feliz que poderíamos imaginar. O pequeno príncipe nunca teria voltado ao asteroide B-612 para cuidar de sua rosa.
Quão triste é encarar uma história tão aclamada sendo usada como um simples pano de fundo? Afinal, penso que exista uma grande responsabilidade em carregar na sua produção o mesmo nome da obra em que foi inspirada.
O fim do final feliz?
Quem sabe, a possibilidade de decidir o final do livro trazia um encanto especial para a obra. Com outro nome, poderíamos até encarar as duas obras como coisas totalmente diferentes. Convenhamos que não há como não criar expectativas ao ouvir que seu livro preferido seria traduzido para o “idioma do cinema”.
Deixando de lado a expectativa de uma leitora inconformada, cabe aqui o reconhecimento da liberdade de expressão na transposição de literatura e cinema. É certo que aqueles desenhos em aquarela que marcaram gerações foram bem homenageados no filme. As técnicas de animação, colocando desenhos dentro de desenhos, com certeza refinaram a produção.
Independente do formato, O Pequeno Príncipe é uma obra atemporal que continua encantando e emocionando leitores de todas as idades e culturas. Sem dúvidas, só há ganhos em dedicar um tempo para conhecer a história que se preocupou com questões tão singulares da vida. Dentre elas, a importância de ter amigos em um mundo que se faz deserto, a responsabilidade que existe ao cativar pessoas, a loucura que é jogar fora todas as chances de ser feliz porque uma tentativa não deu certo.
Em meio a tantas lições, deixo aqui a que não poderia terminar o texto sem citar. Me despeço lembrando da icônica frase (e a minha preferida): ser adulto não é o problema, esquecer é que é.