Refugiados Árabes e a xenofobia na Europa
- 27 de outubro de 2015
- comments
- Thamires Mattos
- Posted in Análises
- 0
Diante do quadro de horror instaurado, milhares de sírios em busca de sobrevivência e melhoria de vida, tentam cruzar as fronteiras da Europa. Uma busca por abrigo nos países que fingem ajudar a conter os conflitos mas que fecham suas fronteiras para o pedido de abrigo dessa população em fuga.
Luciana Ferreira
Imagine um grupo de formigas vivendo organizadamente em sua colônia. De repente outro agrupamento resolve invadir aquela comunidade, escravizar as formigas e impor suas “ideias”. A guerra está armada e para não serem obrigadas a se submeter a nova rainha, os insetos do formigueiro invadido fogem em busca de outro lugar na tentativa de sobreviver ao conflito instaurado em seu lar. O processo descrito é bem semelhante ao que ocorre com formigas dos grupos Polyergus rufescens e Formica sanguínea . Estas últimas são apontadas por pesquisadores como escravizadoras.
O mundo tem presenciado notícias do conflito envolvendo países do Oriente Médio. De acordo com o site controvercia.com.br , nove conflitos marcados pela impiedade e intolerância acontecem no mundo Islâmico. As pessoas dormem pacificamente e acordam aos sons de bombas de grupos que se digladiam pela manutenção do poder. Como as formigas que tem seu ninho invadido, cidadãos da Síria, por exemplo, são obrigados a abandonar suas casas em busca de outro lugar para viver, seja nos países vizinhos ou em terras europeias.
Antes que alguém comece a lançar seus dardos inflamados afirmando que inferiorizamos o ser humano ao utilizar a alegoria das formigas para ilustrar as guerras no Oriente, far-se-á necessário levá-lo a refletir sobre o fato de esse inseto ser reconhecido por sua excepcional organização e manutenção do espaço. Na verdade, de certa forma,seria uma ofensa para o formigueiro compará-lo a homens. Pois estes, sem nenhum instinto de proteção ao próximo, lutam para satisfazer seus desejos mais individualistas possíveis e se manter no poder a custa de ceifar dezenas e dezenas de vidas.
Vida é o que parece ter sido desconsiderada por governos ditatoriais. Na ânsia por manter sua hegemonia estes lutam ferozmente contra grupos classificados por eles como rebeldes dando continuidade à guerras civis nos países do Oriente. Não bastasse a disputa interna, países como Estados Unidos, França e Reino Unido sempre entram em cena. Exemplo disto foi o caso da empreitada pela deposição de Bashar Al-Assad. Com o objetivo de “defender” os interesses do grupo que buscava derrubar o governante os países citados disponibilizaram armas, soldados e até promoveram bombardeios aéreos. A resposta do governo Sírio contou com apoio (também externo) de países como a Rússia.
Diante de todo o quadro de horror instaurado, milhares de sírios em busca de sobrevivência e consequente melhoria de vida, não veem outro caminho senão o de cruzar fronteiras e mares tortuosos.Tudo isso em busca de abrigo nesses mesmos países europeus, que dizem ajudar na guerra, mas que fecham suas fronteiras para o pedido de abrigo dessa população. Fugindo de uma guerra civil que lhes arrancou casa, emprego, família, enfim, a dignidade, sonham chegar à tão sonhada “Canãa”. O problema é que no caminho os refugiados se colocam sob o fogo cruzado de outra guerra: as farpas trocadas entre grupos a favor e contra a estadia de estrangeiros em seus países.
Os países que mais levam imigrantes para a Europa são justamente aqueles que mais sofreram com a política imperialista dos países de destino dos refugiados. O governo alemão, por exemplo, participou juntamente com os EUA do massacre que desintegrou economicamente os Bálcãs e hoje nega asilo aos refugiados de Kosovo. Na verdade, as nações europeias já recebem imigrantes há muito tempo e estes são utilizados, na maioria das vezes, como mão de obra barata. Por estarem longe de suas regiões, eles aceitam os mais diversos e duros tipos de trabalhos a fim de subsistirem. Os dados foram divulgados pelo site esquerdadiário.com.br .
A mídia, diante a temática, faz “bem” o seu papel de passar as informações, todavia, ela vai, além disso. Nos países orientais, os meios de comunicação foram responsáveis por, juntamente com a população, ir às ruas contra as atrocidades dos governos ditatoriais e contra a falta de liberdade de expressão, instaurando o movimento da Primavera Árabe. E no atual cenário ela também continua cumprindo seu papel de informar.
O jornal El País trás, no dia 28 de setembro, uma matéria em que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, destaca em um discurso proferido na ONU a importância do investimento em desenvolvimento aos países envolvidos em conflitos. Além disso, ele apelou aos governos nacionais que intensifiquem o recebimento dos refugiados em seus países. O presidente afirma que a ajuda “não é caridade, e sim um investimento inteligente no futuro”.
Em outra matéria, o mesmo jornal mostrou que o candidato à presidência do EUA, Donald Trump, diz que vai expulsar os refugiados do país, caso chegue á presidência, pois cogita a possível existência de terroristas no meio dos árabes que pediram refugio no país. O candidato salienta que “são todos homens, e todos parecem ser sujeitos fortes”, que estão fugindo ao invés de ficar e lutar por seus territórios e que na verdade podem ser parte de um grande exército terrorista.
A chanceler alemã Angela Merkel também foi pauta do El País , pois perdeu apoio de seu partido e caiu nas pesquisas em razão de sua política de asilo permissiva com relação aos refugiados. Em meio a essa discussão acirrada, os meios de comunicação continuam a noticiar que os refugiados sírios estão vivendo em condições desumanas nos países para os quais estão fugindo.Isso quando não morrem em naufrágios ou em caminhões que transportam essas pessoas para passarem pelas fronteiras.
As manifestações xenofóbicas não ficam simplesmente na fala do candidato americano. A sessão Carta Maior (publicada na versão online de Carta Capital ) veiculou uma matéria onde o primeiro-ministro britânico David Cameron classificou os imigrantes que tentam atravessar o Eurotúnel, como “enxames” ou “pragas humanas”. Políticas de contenção desses refugiados já tem sido intensificadas por meio da “construção de novas barreiras de segurança, aumento do contingente policial, câmeras de vigilância e cães adestrados nas fronteiras”.
Justificativas das mais diversas são divulgadas para tentar amenizar a relutância dos europeus em não aceitar os refugiados. Dentre estas, o medo do terrorismo, a indignação em ter que trabalhar e pagar impostos por estes imigrantes que são acusados de não querer trabalhar, mas sim viver por conta dos nativos. Aliado a tudo isso, tem o receio dos refugiados não voltarem para seus países de origem quando a guerra terminar.
Talvez esses refugiados sírios desejem até voltar para suas terras, sua cultura, suas casas, suas famílias, mas como retornar se a guerra só se intensifica a cada dia mais? Por outro lado, como ficar em um lugar onde as pessoas fazem questão de ser xenofóbicas e deixar bem claro que eles são “pragas” que só fazem mal para o ambiente, economia e vida do país?
Entendemos que é difícil para um individuo ver a sua casa sendo “invadida” por pessoas com cultura, costumes diferentes e que estão desesperadas por uma oportunidade. Mas enquanto não aprendermos a nós colocar no lugar do outro, possivelmente os maiores conflitos da humanidade continuarão. Talvez, bom seria se, como diz o filósofo Baruch Spinoza, conseguíssemos entender que todo ser humano é fruto dos afetos trocados em seus diversos encontros. Isso justifica muito o jeito de ser do outro e a forma como retribuímos ao próximo. Provavelmente assim, teríamos uma sociedade menos xenofóbica.