Quem é o culpado pela alta do gás?
- 20 de outubro de 2021
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O gás de cozinha aumenta 34% em meio a pandemia, e tende a piorar
Gabriel Dias
Já não é segredo que a crise que afeta diversos produtos essenciais do dia a dia vem afetando diretamente o bolso do consumidor. Não é diferente com o gás de cozinha. Somente em 2021, o valor do botijão de 13kg já sofreu um aumento de 34% no seu valor médio. O primeiro aumento, de 6%, ocorreu no mês de janeiro. Já no último dia 8, a Petrobras anunciou um novo reajuste de 7,2% do valor do gás para as distribuidoras.
Em dois anos pandêmicos o desemprego aumentou 2,2%. Nesse mesmo período, vimos o botijão subir de R$ 64,54 para R$ 93,48. Essa lamentável realidade faz com que famílias tenham que se apropriar de diversas estratégias para driblar esse problema.
Para a classe média alta é possível investir em fogões elétricos ou em energia solar. Mas para a maioria dos brasileiros essa opção é inviável. Por isso, a alternativa mais comum é através da lenha ou do carvão vegetal. Que significa um retrocesso de anos.
Com toda essa mudança de valores, a demanda teve uma pequena redução. Mas infelizmente não é o suficiente para sofrer uma queda no preço. O pior é que o consumidor tem um poder bem restrito, nesse caso. Em entrevista para a Agência Brasil, o economista Mauro Rochlin explica que a variante principal no valor é externa, como o dólar e a cotação de petróleo. Assim vemos que mesmo na crise que enfrentamos, a tendência do GLP é continuar subindo.
É importante frisar que, de acordo com a Petrobras, houve um aumento de 5,9% nas vendas de botijões de 2019 para 2020, mesmo com reajustes. Até então, o gás não passava de 8% do salário mínimo. Entretanto, em 2021 nota-se que essa porcentagem chega a quase 10%. É a mais alta desde 2007. A Petrobras alegou também que a última vez que o GLP havia sofrido um reajuste, foi há 95 dias.
No fim de setembro foi apresentado um projeto na Câmara dos Deputados que procura auxiliar famílias de baixa renda. O objetivo é que quem tem o salário abaixo ou igual ao salário mínimo, compre o botijão por 50% do valor. E o governo arcaria com a outra metade, através de duas fontes: o royalties e o Cide-combustíveis.
Logicamente que essa variação de valores tem sido foco de debates na mídia e todos jogam a culpa em algum lugar. Ao analisarmos o G1, por exemplo, podemos ver que ele utiliza um método para destacar o aumento feito pela Petrobras. Ele mostra que esse aumento de 7,2% significa 26 centavos por quilo. Deixando esse valor mais palpável.
Fazendo uma conta básica com esses dados, multiplicando os 26 centavos por 13kg (que é o peso do botijão) as distribuidoras pagam R$3,38 a mais no GLP. Com isso, o valor repassado ao consumidor é de pelo menos R$7,11 acima do anterior. Pois o preço pago é cerca do dobro das distribuidoras.
Já a Folha de São Paulo mostra como explodiu o preço no mercado internacional e deixa claro que isso refletiria no nosso bolso. Ainda explica que a Petrobras segurou o aumento desde julho deste ano, e como tem se esforçado para manter o valor em “baixa”.
Vemos os veículos da imprensa, constantemente, pressionando o governo, a Petrobras ou fatores externos pelos reajustes atrás de reajustes. A empresa é o alvo maior de ataques, devido a porcentagem alta do botijão e os escândalos que ocorreram nos últimos anos. Existe outra porcentagem alta que a mídia não questiona. A revenda e distribuição fica com 37% do valor do gás.
Enquanto isso, a Petrobras se esquiva das acusações direcionando a culpa do aumento, tanto da GLP quanto de outros combustíveis, para o mercado internacional. Argumentam que sempre trabalham abaixo da cotação externa e seguram o máximo para não prejudicar o consumidor.
O irônico é pensar que, com toda essa discussão de onde vem a real causa e como é possível diminuir valores do GLP, é exatamente o consumidor que vem arcando com as consequências do preço. Vemos o governo fazendo projetos que demoram meses para ficarem prontos, a mídia procurando quem pressionar, e economistas revelando que o problema é a inflação alta. Mas quem necessita do gás e não tem condição, sente o real peso desse valor. Enquanto discutimos de onde vem e quando teremos uma solução, existem famílias que precisam optar se compram gás ou alimentos. Vivem na espera, entrando num buraco cada vez mais fundo.