Pra que discutir?
- 17 de junho de 2019
- comments
- Thamires Mattos
- Posted in Análises
- 0
A BBC desempenha papel educativo e conscientiza seus leitores sobre a importância da imunização
Amanda Ferelli
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as vacinas são consideradas uma das intervenções de saúde pública mais eficazes e rentáveis. Por que então existem discussões sobre sua importância? Quem são as pessoas antivacina?
O movimento antivacina tem crescido mundialmente. Seu crescimento dá-se principalmente em país desenvolvidos. Prova disso são surtos de doenças em países como Itália, Espanha e Estados Unidos. Os ativistas da causa não se resumem à pessoas que acreditam na falácia de que as vacinas causam autismo.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Pittisburgh, nos Estados Unidos, estudou diferentes perfis no Facebook para entender quem eram as pessoas e os motivos pelos quais aderiram a causa antivacina. O objetivo era criar mensagens específicas para cada público a fim de conscientizá-los sobre a importância da imunização. Com o resultado da pesquisa foi possível dividir o público em quatro subcategorias, sendo estas: confiança – com ênfase nas pessoas desconfiadas na ciência e preocupadas com a liberdade pessoal –; processos alternativos – focados em meios alternativos para tratamentos de doenças, como a homeopatia –; segurança – no qual remete a questão de crenças, levantando a questão da imoralidade –; por fim, conspiração – categoria que sugere que o governo e outras entidades escondem informações do público, no qual os mesmos acreditam serem fatos reais.
BBC e as vacinas
O portal britânico BBC News deixa bem claro seu posicionamento quanto ao debate. Com os recentes casos de doenças – anteriormente erradicadas – no Reino Unido, o portal se manifestou sobre o tema com diferentes matérias. Títulos chamativos chamam atenção para o debate. Em uma de suas reportagens, o portal traz a chamada “Trump tells Americans to ‘get their shots’”, ou, em tradução livre: “Trump diz para americanos tomarem suas vacinas”. O uso do aviso do presidente norte americano é uma jogada para atingir todos os públicos, tendo em vista que Donald Trump já se posicionou contra as vacinas. Inclusive, em suas redes sociais, Trump já as relacionou com o autismo.
Por não se tratar de um portal Hard News, seus conteúdos tendem a ser mais aprofundados. Por mais que sejam parágrafos curtos – uma questão de linha editorial – e sentenças objetivas, as reportagens sobre temas polêmicos são mais longas. Se o objetivo de acesso ao portal for de aprofundamento sobre um tema específico, o site facilita essa pesquisa. Em meio as reportagens, é possível encontrar inúmeros links que ligam à outras matérias sobre o assunto, criando uma teia de aranha.
O jornalista norte-americano Anthony Zurcher discorre sobre o tema, em seu blog, utilizando parágrafos mais longos. Isso ocorre em sua maioria nos blogs do portal e seus artigos de opinião. Em 2014, o jornalista já debatia a questão da vacina. Em seu artigo, Zurcher tratava sobre o crescente número de casos de sarampo em Nova York. Neste ano, foram reportados 1022 casos de sarampo nos Estados Unidos. Em maio, 41 casos foram notificados e trinta deles foram no estado de Nova York. O debate não é recente, e, desde o começo – através de dados e entrevistas com especialistas – o BBC News tem conscientizado seus diferentes públicos sobre a importância das vacinas.
“Que bobagem branca é essa?”
No Brasil, o número de apoiadores da causa antivacina ainda não é grande como nos outros países citados. Entretanto, esse número vem crescendo progressivamente. Analisando o portal BBC Brasil, o corpo das matérias tem as mesmas características: parágrafos e sentenças curtas. Ainda seguindo a linha editorial, as frases são objetivas, contendo toda a informação no começo do texto. Contudo, diferente da versão internacional, seus títulos têm um teor mais educativo.
Outro fator é que, em sua maioria, as notícias referentes ao tema abordam questões internacionais. Países desenvolvidos afetados por doenças são citados, assim como métodos de defesas que eles aderiram, como brasileiros podem viajar para outros territórios, pesquisas internacionais, entre outros fatores. Essas questões, desde os títulos educativos e o foco internacional, podem estar ligados ao fato de o grupo antivacina ainda não ser grande no Brasil. Além disso, aparentam ser métodos de chamar atenção de um público que ainda não tem uma opinião formada sobre o assunto. Pode-se afirmar que a discussão ocorre com maior frequência em países que detém condição monetária para disponibilizar vacinas para a maior parte – se não toda – da população. Enquanto isso, a discussão anda dormente nos países em desenvolvimento. O movimento, nestes casos, gira em torno de soluções para alcançar toda a população com as imunizações a fim de evitar mais mortes.