Do povo, para o povo
- 30 de outubro de 2019
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- Thamires Mattos
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Popular entre os cariocas e com ampla cobertura policial, o jornal Extra tenta ser equilibrado e mostrar respeito a todos, pelo menos, em suas matérias e reportagens
Gabriel Buss
O preconceito midiático infelizmente é comum, e, às vezes, penaliza pessoas inocentes. Aos profissionais da área, uma autocrítica é necessária, principalmente em relação à maneira como descrevemos as pessoas em nossos textos e produções. O problema é maior ao tratarmos de negros e pobres que moram na periferia. Mas será que todos os veículos são assim? O jornal Extra é um exemplo de que o preconceito não está presente em todo lugar, ao menos no tangente à títulos de reportagens e matérias de seu portal de notícias.
Tanto a edição impressa quanto o portal de notícias são leituras habituais dos cariocas, principalmente por ter uma editoria de polícia, que procura cobrir tudo referente à Segurança Pública do Rio de Janeiro. Além disso, o jornal encomenda pesquisas e estudos nessa área, o que o torna ainda mais atraente para quem vive inserido em um contexto de criminalidade e medo frequente. Ademais, possui linguagem e formato coloquiais, e busca com frequência não fazer apologia a acusações precipitadas e preconceituosas, usando sempre o termo “suspeitos” ao tratar de prisão de cidadãos e acusados de algum crime – ao invés de outros vocáculos mais comuns, como “bandidos” ou “criminosos”.
O jornal é extremamente focado em mostrar o crime e suas facetas, com indiferença a gênero, raça, classe social, entre outros. Essa indiferença existe no sentido de configurar que o Extra não foca nas aparências e características do cidadão, e sim no delito que ocorreu. Sua ideia jornalística busca veementemente mostrar o que acontece e procurar alertar sobre a urgência de melhorias em diversas áreas da segurança, inclusive na infraestrutura e valorização dos policiais militares do estado.
Na coluna de opinião, a situação é outra
Diferente do que é observado nas reportagens, pesquisas e matérias do Extra – que, de fato, não possuem nenhum caráter de preconceito –, a coluna de opinião na editoria de polícia possui sim seus julgamentos. Desta maneira, mancha, mais uma vez, o olhar da população em relação a certos grupos. Com isso, corrobora para altos índices de intolerância no Brasil.
Em um dos blogs da editoria, intitulado “Comissário de Polícia”, o colunista resolve abordar um tema que é alvo de muitos debates: a guerra às drogas. O texto “Guerra às drogas: a falácia da derrota”, fala, no último parágrafo, que se o leitor se “defrontar” com alguma pessoa, independente do cargo e profissão, defendendo a liberação de drogas, deve-se entender que ela, de alguma forma, está ligada a questões e interesses escusos e/ou ganha para isto. Preconceito explicito? Sim! Esperava-se mais de um jornal que faz tantos levantamentos sobre a criminalidade e as drogas. Entretanto, vale ressaltar: o espaço é de coluna de opinião, e não reflete necessariamente a opinião do jornal. No entanto, vale o alerta: opinião carregada de preconceito deve ser desconsiderada, afinal, pode estimular mais crimes de racismo, xenofobia, homofobia e tantos outros no que se refere a intolerância em um país que, infelizmente, já possui altos índices de crimes deste aspecto.
Por essas e outras, a imprensa deve ter menos “pré-conceitos” e mais estudo, a fim de construir narrativas que colaborem para um país mais justo e acolhedor, e que dê tratamento igual a todos, independente de cor, sexualidade e classe social.