Para ser gay, é necessário ser engraçado?
- 10 de novembro de 2021
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As pessoas gostam de quem as faz rir
Adalie Pritchard
É claro que não é aceitável fazer piadas homofóbicas, ou deveria ficar claro. O humor é uma via para as pessoas se expressarem, onde não conseguiriam de outra forma. Muitas “piadas” são preconceitos mascarados. Em outros casos, são uma forma de expressar dor ou inconformidade. Ainda hoje, não é fácil para quem faz parte da comunidade LGBT se sentir aceito em qualquer ambiente. Muitos são até rejeitados por suas próprias famílias. Muitas pessoas consideram seus amigos gays pessoas divertidas e engraçadas. Mas será que essas são características fixas nelas?
O termo “gay”, usado para se referir a alguém homosexual, é recente. A palavra inglesa por séculos significava “feliz ou alegre”. No século XVII, foi utilizada para aludir a uma pessoa promíscua. Nos anos 1950 evoluiu até ser usada para descrever uma pessoa com atração sexual para o mesmo sexo, mas era considerado uma doença mental. O primeiro uso da palavra “homossexual” veio de Karl-Maria Kertbeny, um jornalista húngaro que escreveu apaixonadamente em oposição às leis antissodomitas da Alemanha no século XIX. Até então, uma pessoa gay era um sodomita, um termo simplesmente vulgar.
Nas últimas décadas, surgiu o estereótipo homosexual do “melhor amigo gay”. Não apenas nos filmes, mas também na vida real. O melhor amigo gay tem uma reputação de ser divertido, um bom amigo e obviamente não um homem hetero, uma virtude nos olhos de alguns. Em muitos filmes, entre eles Sex and the City, esse personagem serve para ajudar a protagonista a aprender algo sobre ela mesma. É comum ouvir mulheres falarem que querem um melhor amigo gay, como se fosse um acessório.
Esse personagem, na maioria das vezes secundário, é uma pessoa rasa e focada nas aparências. Ninguém sabe nada da vida dele, e as conversas que rolam entre ele e a protagonista são sobre ela. Ele é engraçado e em ocasiões até cruel com outras pessoas. Mas é aceito por ser engraçado. Um acontecimento comum na realidade também. Dessa forma, homens gays conseguem visibilidade na mídia. Antes disso era proibido por causa do Código Hays, um conjunto de normas morais aplicadas aos filmes lançados nos Estados Unidos entre 1930 e 1968 pelos grandes estúdios cinematográficos.
Estereótipos podem borrar nossas visões sobre as pessoas e impedir-nos de conhecê-los de verdade. É um erro agir como protagonistas pela vida, pois corremos o risco de tratar aos outros como personagens secundários. O valor de uma pessoa não está no quão divertida ela é. É preciso refletir sobre a origem das nossas concepções, porque muitas vezes não vem da gente.