Para o Brasil, uma tragédia, mas e para o mundo?
- 5 de junho de 2024
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- Theillyson Lima
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Os principais jornais internacionais se posicionaram quanto às enchentes pontuando falhas do sistema brasileiro, por meio de abordagens informativas.
Yasmim Larissa
As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul após incessantes chuvas, tiveram proporções físicas e midiáticas. Afinal, a população nem ao menos imaginava que, o que parecia ser apenas uma chuva forte, viria a destruir lares, ceifar vidas e inundar olhos de lágrimas que se depararam com a nova “paisagem” e realidade do estado gaúcho. Embora seja uma tragédia de grande proporção na mídia brasileira, é de se questionar como essa situação foi retratada nos jornais internacionais.
Há quem preferiu se abster sobre o assunto e quem, além de fazer uma cobertura informativa, trouxe uma análise questionando as falhas do país em meio a um desastre como esse. Neste artigo, analisamos alguns dos maiores jornais internacionais, sendo: The New York Times, The Guardian, Le Monde e El Clarín
The New York Times
Fundado em 18 de setembro de 1851, o veículo é considerado o maior jornal do mundo e de circulação entre os jornais impressos dos Estados Unidos. Para encontrar uma matéria sobre o Brasil, não basta apenas entrar no site e procurar nas manchetes o tópico “mundo”, pois o país aparentemente não merecia esse palco, mesmo em uma situação que milhares de pessoas perderam a vida, casas e diversas coisas de valor emocional e financeiro.
Para encontrar matérias relacionadas ao tema foi necessário buscar por “Brasil” na aba de pesquisa. Apenas duas matérias foram publicadas, sendo elas: Inundações mortais no Brasil foram agravadas pelas mudanças climáticas, conclui estudo’ e ‘Inundações catastróficas no Brasil desencadearam outra crise: animais de estimação sem teto’.
Ao analisar a primeira reportagem publicada, vemos que o veículo se atentou mais a uma frente informativa sobre a situação ao falar sobre o que foi danificado, o fechamento das escolas e o número de mortos. Em sua reportagem, trouxe entrevistados que levantaram a pauta política e a pouca ação em relação aos riscos climáticos, além da estimativa de especialistas e grupos empresariais ao dizerem que “poderá tornar este o desastre mais dispendioso alguma vez registrado no Brasil”.
Mesmo com esses pensamentos, a matéria não apontou o Brasil como culpado por falta de estrutura ou preparo e trouxe um relatório que apontou a influência do homem nas alterações climáticas, além de citar o El niño, o padrão climático no pacifico, como um fenômeno que tende a causar a formação de áreas de alta pressão atmosférica no centro do Brasil.
Já a segunda reportagem, optou em contar a história de animais perdidos e com medo em meio às enchentes. A pauta é importante, especialmente após o cavalo caramelo ter ganhado as manchetes nacionais ao estar preso em cima de um telhado. Mas será que isso é mais importante do que as famílias que perderam suas casas, familiares e amigos?
No texto, é possível encontrar a seguinte frase: “eles permaneceram na água durante horas, lutando para sobreviver enquanto as enchentes submergiram a cidade, transformando as ruas em rios”, algo que claramente escancara a realidade que muitas famílias estavam vivendo naquele momento. Claro que ambos são vidas, mas o que levou o New York Times a falar sobre os animais e não sobre as pessoas que estavam morrendo? Se era uma tentativa de “falar algo que nem todos estavam falando”, talvez valha a pena pensar que se todos estão falando, é porque é algo extremamente preocupante.
The Guardian
O jornal diário britânico independente, fundado em 1821, é conhecido por seu jornalismo investigativo e cobertura abrangente de notícias nacionais e internacionais. Antes mesmo de procurar pelas notícias, já se esperava que o veículo comentasse algo sobre as enchentes no RS, o que acabou causando uma superação das expectativas ao encontrar, pelo menos, 5 matérias publicadas sobre o tema.
Cada reportagem trouxe um novo ponto, desde o cavalo caramelo preso no telhado, antes e depois das inundações até a classificação da enchente como uma das piores de todos os tempos. Com um tom mais crítico, suas publicações se atentaram a falar sobre a realidade das pessoas, informando suas perdas, seu sofrimento e o medo do que o futuro reservava.
O veículo não poupou caracteres ao questionar as falhas na preparação para desastres no Brasil e foi a fundo em suas pesquisas, trazendo estudos produzidos há 20 anos que já alertavam o aumento significativo de precipitação no Sul do Brasil e suas possíveis consequências.
Le Monde
Mesmo que recentemente o presidente brasileiro Lula tenha se encontrado com o presidente Macron, da França, demonstrando uma aliança dos países, o Le Monde, um dos jornais mais prestigiados da França, não foi um dos maiores aliados ao compartilhar para imprensa a situação no Brasil. É difícil encontrar se há matérias publicadas, abrindo espaço ao questionamento de que se esse é um problema na interface do jornal, dos algoritmos ou se foi algo planejado.
De toda forma, é possível encontrar boas coberturas que se destacaram com sua objetividade informativa. Assim, mesmo sem se deter em análises críticas, conseguiram esclarecer que as enchentes no Brasil, iam muito além de “chuvas fortes” e que esse era um dos piores desastres climáticos na história do Brasil.
Em algumas de suas reportagens, a palavra dilúvio chama atenção. O que será que levou o Le Monde a optar por usar uma palavra que, geralmente remete a uma grande inundação, enviada por uma divindade e que destroi uma civilização? Se a escolha foi devido a Global Religion 2023, colocar o Brasil como um dos países que mais acreditam em Deus, foi uma opção inteligente, mas apelativa.
El Clarín
O Clarín é um dos maiores jornais da Argentina. Fundado em 1945, é publicado na capital do país, Buenos Aires, e ao longo de sua história vem desempenhando um grande papel no cenário midiático e político argentino. Sabendo que o país faz fronteira com o Rio Grande do Sul, era de se esperar que o jornal optasse em trazer notícias contando que as chuvas que estavam atingindo o Brasil, também afetam o próprio país. Mas é possível notar uma falha na cobertura do jornal.
Em meio a um dos “ápices” das enchentes, ao buscar pelo nome do estado na lupa do site, vemos notícias que aparentemente são realmente importantes para eles, como: Bolsonaro ter entrada negada para ver o jogo entre Santos e Grêmio. Mesmo com uma má cobertura, relativizando o impacto da tragédia no país, é possível encontrar matérias informativas que classificam as enchentes como uma tragédia.
Em geral, os jornais internacionais reconheceram a gravidade das chuvas no Rio Grande do Sul e ficou claro que as reflexões e informações sobre o tema foram de acordo com as prioridades e linha editorial de cada veículo jornalístico. Entretanto, é de extrema importância analisar e ler atentamente as publicações internacionais sobre o Brasil e suas tragédias, pensando que isso irá refletir em como cada população pode vir a enxergar o país, mas principalmente para entender como a variação das coberturas demonstra o que realmente tem sido importante sobre nosso país, para o os outros locais do mundo.