FOLHA DE SÃO PAULO – Os dois lados da Folha
- 8 de junho de 2015
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- Thamires Mattos
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Juliana Dorneles
Falar sobre saúde em um jornal é algo complicado, principalmente se você é usuário insatisfeito dos serviços dessa área. É preciso se despir das experiências pessoais e mostrar ao leitor o que realmente acontece. Longas filas nos hospitais, falta de médicos e de aparelhagem, ausência de remédios, pacientes sendo atendidos nos corredores, enfim, essa é a realidade que compõe o cenário do sistema de saúde brasileiro.
Mas não é só isso. Mudanças e avanços positivos sucederam nos últimos anos. Houve aumento no investimento de recursos humanos, em ciência e tecnologia e na atenção básica. Além disso, um intenso processo de descentralização foi implantado e conferiu maior responsabilidade gerencial aos municípios. É difícil ponderar e retratar os dois lados da história em uma cultura em que, muitas vezes, o jornalismo expõe apenas o lado que lhe convém. Porém há quem consiga cumprir esse papel.
A Folha de São Paulo – influente jornal que possui mais de um milhão de leitores –, por exemplo, lida de forma equilibrada. Na reportagem Gestão Haddad e entidades culpam falta de médicos por precariedade, o problema exposto explorou a visão tanto da oposição quanto da situação. Explicou as causas do problema e as possíveis soluções, ou seja, foi direta, clara, imparcial (dentro do possível) e baseada em fontes e dados oficiais. Este foi apenas um exemplo, mas quase todas as matérias seguem este padrão.
Reportagens positivas e negativas sobre o sistema de saúde brasileiro foram publicadas e em ambos os casos, os dois lados da história foram apresentados, gerando um equilíbrio ao assunto.
Outra característica positiva que a Folha apresenta, é a forma ponderada com que conduz a temática. Ao contrário de muitos jornais que usam do sensacionalismo para vender, a Folha consegue expor a realidade sem tornar a situação um escândalo. Um exemplo claro é a reportagem intitulada Governo barra 55,4% dos pedidos de novos remédios ao SUS, diz Interfarma. O governo barrou? Barrou! A sociedade foi prejudicada? Foi! Mas não é só isso. Existe um motivo, um histórico e um contexto, que ao decorrer da reportagem são explicitados. O Ministério da Saúde ao longo do texto se defendeu alegando que os medicamentos precisam passar por estudos que comprovem a sua eficácia. Assim, o leitor foi, mais uma vez, sutilmente estimulado e educado a não agir impulsivamente no seu julgamento.
Porém, nos dois últimos meses, apenas 9 reportagens sobre o sistema de saúde brasileiro foram publicadas, um número reduzido de publicações diante da realidade vivida no país. Assim, Folha deixa um espaço em branco que é preenchido em seu portal pela seção “Equilíbrio e Saúde”. A maioria das matérias publicadas falam sobre temas mais leves, como curiosidades e dicas. As pautas quentes são dificilmente encontradas. O fato do jornal não se aprofundar é uma forma sutil de encobrir a realidade. Dessa maneira, o jornal transfere a atenção do leitor de temas importantes para temas secundários. Não que outros assuntos de saúde não sejam relevantes, mas cabe ao jornal informar sob todos os aspectos.
As notícias têm um grande poder sobre o leitor. A mesma informação contada de forma diferente pode despertar no leitor sentimentos diversos. Por isso, a abordagem feita pelo jornalista deve estar de comum acordo com a responsabilidade de informar e suscitar debates que apontem para a solução de problemas como os enfrentados no sistema de saúde do Brasil.