Orgulho e Preconceito: uma história que vai da aversão ao amor
- 19 de abril de 2023
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- Theillyson Lima
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Como um romance pode transmitir a mesma essência ao sair do papel para as telas?
Camilly Inacio
Como um bom romance de época, o filme “Orgulho e Preconceito” (2005), dirigido por Joe Wright com adaptação de roteiro por Deborah Moggach, consegue nos transportar para um período em que os vestidos longos e bailes cercavam a vida de uma família com cinco filhas solteiras à espera de um casamento. Com suas imagens e representações, o longa-metragem consegue levar quem está assistindo a sentir emoções originalmente descritas na obra de Jane Austen, publicada em 1813.
Enemies to lovers
A história, que se passa no início do século XIX, e mesmo após 200 anos de sua publicação, ainda faz muito sucesso. O enredo se passa na cidade fictícia de Meryton, em Hertfordshire, não muito longe de Londres, onde mora a família Bennet, que conta com cinco filhas solteiras, um pai despreocupado e uma mãe sem noção que tem como principal objetivo de vida casar suas filhas.
A trama tem início quando dois jovens ricos, bonitos e solteiros se mudam para uma propriedade na vizinhança da família Bennet. O primeiro se chama Bingley, é simpático, amável e altamente influenciável, e logo se apaixona pela irmã mais velha e mais bonita da família, Jane.
O segundo jovem, o Sr. Darcy, tem uma aparência arrogante e ar de superioridade. Logo que a protagonista, Elizabeth Bennet, a segunda das filhas no nascimento e em beleza o conhece, começa a nutrir um sentimento de aversão a ele por suas maneiras orgulhosas de agir.
O livro inicia com a frase “é verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro e muito rico precisa de uma esposa”. No entanto, essa frase é uma “afronta” à época em que a história se passa, em que o pensamento comum era justamente o oposto, principalmente falando em mulheres de origem inferior.
A personagem principal da trama, conhecida também como Lizzy ou Eliza, é descrita sendo bela e inteligente. Além disso, ela é uma jovem além do seu tempo. Possui uma personalidade forte e determinada. Durante a narrativa, é possível perceber que a moça se recusa a se conformar com as expectativas sociais de sua época, especialmente em relação ao casamento. A protagonista se mostra irredutível em suas ideias.
Fazendo jus ao nome da obra, o orgulho é um traço que acompanha a personalidade de Elizabeth Bennet. Conforme a história se desenrola, o “ranço” de Eliza por Darcy vai crescendo e a relação dos dois é definida pelo preconceito, desejo, tensão, orgulho e paixão. Ela não imagina que ele, contra a própria vontade, começa a sentir uma profunda admiração por ela.
Ele se apaixona de uma forma que não tinha experimentado antes, mas se recusa a assumir tais sentimentos por conta da origem inferior de Elizabeth. A trama segue até que ele decide pedi-la em casamento, mas ela o rejeita de forma repulsiva.
O pedido de casamento resultou em ofensas e uma carta de explicação de Darcy para Lizzy. Após isso, diversos encontros inesperados acontecem entre eles e a moça, aos poucos, começa a enxergá-lo com bons olhos. Ela percebe a mudança em sua forma de agir e descobre a verdade sobre alguns mal entendidos. No final, Elizabeth e Darcy superam seus preconceitos, se apaixonam e tempos depois, ele refaz o pedido de casamento, que dessa vez é aceito, surpreendendo a todos, pois acreditavam que ambos se odiassem.
“Orgulho e Preconceito”, considerado um dos maiores clássicos da literatura inglesa, é um romance irônico e perspicaz que satiriza as convenções sociais e os preconceitos de classe da Inglaterra do século XVIII.
Alterações necessárias para a compreensão
Essa história representa um clássico de inimigos que se apaixonam. No entanto, nesse tipo de romance é preciso tempo, pois o ódio não se torna amor em poucos dias. Contudo, ao trazer tal enredo do papel para as telas, o tempo é curto a fim de representar o desenrolar da trama.
O livro tem uma narrativa mais longa e detalhada, enquanto o filme tem uma duração limitada e precisa condensar a história em 127 minutos, trazendo a necessidade de possuir alguns acontecimentos diferentes, para que esse tempo seja sentido de alguma forma pelos espectadores. O mesmo inclui cenas que não existem originalmente e altera outras adaptando ao meio cinematográfico.
Se fosse uma série, talvez os eventos acontecessem de forma semelhante em sua ordem e número, bem como a percepção de tempo poderia ser mais adequada. A adaptação feita por Joe Wright foi a que possuiu mais diferenças da obra original, adotando uma abordagem mais romântica, misturando traços tradicionais de filmes de época com uma abordagem moderna. Todavia, isso fez de “Orgulho e Preconceito” uma adaptação melhor que as anteriores que tinham sido mais fiéis.
Além de alterações de cenário, interpretações e descrições familiares, o filme de Wright trouxe alguns personagens com a aparência diferente da descrita na obra original, cortou a aparição de diversos personagens menores, e fez um resumo muito grande da história de outros, como no escândalo de Lydia e Wickham, utilizando o tempo com foco no romance entre Elizabeth e Darcy.
Apesar das diversas mudanças, as abordagens feitas foram apropriadas para o meio cinematográfico, tornando a obra bela. Sendo a melhor adaptação do livro, tornando-o melhor e mais estiloso.
Cada adaptação é feita de uma forma a depender da mídia em que está inserida. Apesar de não ter eventos exatamente iguais ao livro, o longa consegue comunicar esse romance de uma forma equivalente. Em resumo, embora o filme “Orgulho e Preconceito” seja uma adaptação fiel ao livro de Jane Austen, há diferenças inevitáveis entre os dois meios artísticos, e cada um pode ser apreciado de forma independente como uma obra de arte distinta.
Por isso, mesmo com alterações significativas na trama ao longo da história, “Orgulho e Preconceito” consegue preservar suas mensagens e temas centrais, garantindo assim a manutenção de sua essência.
Melhor adaptação
Transformar um livro em filme preservando a essência da história não é uma tarefa fácil. No caso de “Orgulho e Preconceito”, várias adaptações cinematográficas já foram feitas do clássico, mas o longa de 2005, em termos gerais, se mantém muito fiel e correspondente à obra, fazendo um ótimo trabalho em mostrar as questões históricas e trazendo falas essenciais apresentadas originalmente.
Tanto o livro quanto o filme abordam a sociedade inglesa do século XIX, com suas convenções e preconceitos, especialmente aqueles relacionados ao casamento e à posição social. Ambas as versões exploram as expectativas impostas às mulheres da época e a pressão sobre elas para que se casem com homens ricos e influentes.
Ambos apresentam diálogos eloquentes e bem-humorados, que são uma marca registrada da escrita de Austen e que também foram incorporados na adaptação. Uma das características mais fortes do filme de Joe Wright é a preservação de muitos diálogos e falas da obra de Jane Austen, mantendo assim o estilo literário característico da autora.
Como exemplo podemos ver a icônica frase do Sr.Bennet para Elizabeth, que acaba de ser pedida em casamento por seu primo e o recusa, causando a revolta de sua mãe, e então o pai diz: “A partir de hoje você será uma estranha a um de nós. Sua mãe nunca mais olhará para você se não se casar com o Sr.Collins, e eu nunca mais olharei para você se casar com ele”.
Bem como outros diversos momentos, Quando Elizabeth conhece Mr. Collins pela primeira vez, ele se apresenta e elogia a beleza de Jane, irmã de Elizabeth. Essa cena é retratada de forma semelhante no livro e no filme, com Mr. Collins falando com entusiasmo sobre a beleza da “encantadora Miss Bennet”. Essas similaridades fazem com que a essência da história não se perca e deixa o espectador mais inserido na trama.
Além disso, o filme possui várias representações visuais de cenas ou locais descritos na obra. Muitas dessas menções são extremamente fiéis, e essas essas técnicas são utilizadas para trazer à vida o ambiente e a atmosfera do romance de Jane Austen, fazendo com que o espectador sinta a realidade da época e do local em que a história se passa.
O filme foi gravado em locais históricos, como a casa de Chatsworth, em Derbyshire, que foi usada para a locação para a casa de Mr. Darcy, e Lyme Park, em Cheshire, que serviu no cenário da casa de Mr. Collins. As cenas externas do longa mostram paisagens rurais e campestres da Inglaterra, com campos verdes, rios e pontes de pedra. Essas paisagens ajudam a criar uma sensação de autenticidade e ajudam a trazer o ambiente da época à tela.
Em resumo, o filme “Orgulho e Preconceito” e o livro de Jane Austen compartilham muitas semelhanças, especialmente em termos de abordagem da sociedade inglesa do século XIX, trama e personagens. O filme consegue mudar muitos elementos da história original, sem se afastar da ideia central. São duas experiências únicas, cada uma com suas particularidades que acrescentam de formas diferentes para o entendimento social, histórico e cultural da época de quem lê e assiste “Orgulho e Preconceito”.