O vazio depois do protagonismo
- 6 de abril de 2022
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Depois da aposentadoria, alguns famosos não sabem o que fazer com suas vidas e caem nas drogas.
Franciele Borges
Viver nos holofotes da mídia acrescenta à pessoa um estresse a mais, pois todos os seus passos são controlados e avaliados por quem vive e consome sua imagem. Pensando nessa questão, o indivíduo, em certo grau, precisa manter-se dentro do esperado pelo público que admira o seu trabalho. Aceitando ou não, quem se expõe torna-se um produto para diversas pessoas desconhecidas.
O estrelato de alguns famosos desanda em virtude de problemas pessoais, crise na carreira e por algum escândalo envolvendo uma ou as duas situações. O uso de drogas, então, vira uma válvula de escape para preencher o vazio que, porventura, surgiu através desses abalos.
Dos campos para a reabilitação
A fama chegou cedo para o ex-jogador de futebol Walter Casagrande Jr, hoje com 58 anos. Aos dezoito, estreou profissionalmente no Corinthians, passando pelo São Paulo e clubes europeus conhecidos como Porto, em Portugal, Ascoli e Torino, na Itália. Depois de um tempo na Europa, Casão, como era chamado pelos torcedores, retornou ao Brasil para jogar no Flamengo.
Era mais um jovem a fixar sua atenção na carreira de jogador. Afinal, tinha talento e reconhecimento. Jogava ao lado de outros grandes nomes como Biro Biro, Sócrates e Zenon. Mantinha um saldo de gols e vitórias dignos de reconhecimento. Talento nos pés realmente não faltava.
Casagrande viveu nos gramados até os 34 anos. Com a aposentadoria, ele virou comentarista, primeiro na ESPN e fixando seu espaço na mesma função na TV Globo. Estando ausente dos jogos, sua fama não ficou limitada. Todavia, abriu a brecha para o início da dependência química. Longe do protagonismo, o vazio da rotina de jogador o levou a conhecer algo que favorecesse a adrenalina que não tinha mais nos campos. Além da adrenalina, Casagrande sofreu com o falecimento da sua irmã em 1979, vítima de um infarto. Ao usar cocaína, segundo ele, “eu parei de sofrer pela morte dela”.
O site UOL publicou uma matéria relevante para expor a disposição do jogador de contar sobre sua vida e os 20 anos dedicados a intoxicar seu corpo com a dependência química. Para registrar e contar detalhadamente a convivência com o vício, o escritor Gilvan Ribeiro escreveu a biografia de Casagrande.
Em relato no livro, ele sofreu um acidente de carro em 2007 por consequência de ficar dez dias sem dormir, se alimentar, ficando apenas acordado com efeito de remédios para a pressão e a mistura de cocaína com heroína. Alucinado, Walter conta que dirigia em alta velocidade por estar fugindo do diabo.
O acidente foi crucial para um de seus filhos e a sua mãe tomarem a decisão de interná-lo em uma clínica de reabilitação, saindo de lá meses depois somente com a permissão dos médicos.
O incentivo para parar
O portal Uol trabalhou na imagem de Casagrande no sentido de reintegração na sociedade quando disse que ele foi bem-sucedido em sua reabilitação em 2015. Ou seja, era necessário mostrar os próximos passos de Casão pós dependência.
Mostraram como foi importante se unir com a deputada Tabata Amaral para criar projetos públicos em combate às drogas. O leitor, em análise, é levado a ver o contexto do ex-jogador como facilidade a ascensão na mídia e tendo feito o caminho inverso da dependência, incentivando outros usuários a buscarem tratamento.
Outro ponto que se destacou na entrevista foi a abordagem do vício ter arruinado seu relacionamento com seus filhos e dado fim ao casamento de 20 anos. O seu filho caçula, Simon, em uma participação do pai no antigo Domingão do Faustão, mostrou o impacto que o uso de drogas gera na desintegração familiar. “Eu senti raiva e tristeza, porque ele fazia uma coisa que falava para a gente não fazer”, comentou.
A abordagem, além de mostrar os altos e baixos de Casagrande, foi facilitador para comentar um assunto que não é comum de se falar. Casão não é o único caso de famosos se envolvendo com drogas, mas ele foi a pauta por ter uma fama de mais de 40 anos. Desde a sua geração até a mais recente, pôde entender o sofrimento que a dependência química causa.