O silêncio econômico das queimadas
- 25 de setembro de 2024
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- Theillyson Lima
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As queimadas dos últimos meses estão afetando não somente o meio ambiental, mas também, o bolso dos brasileiros.
Yasmim Larissa
Em meio ao cenário assustador no qual as chamas consomem vegetações inteiras, existe uma outra queimada, dessa vez silenciosa, avançando sobre o bolso dos brasileiros. Os focos de incêndio espalhados por diversas regiões do país não deveriam gerar apenas uma preocupação ambiental, mas também econômica, coisa que a mídia parece ignorar.
As consequências econômicas das queimadas são tão reais quanto as cinzas que ultimamente cobrem os céus. O aumento no custo dos alimentos, a degradação do solo que compromete safras futuras, e os danos à biodiversidade que afetam toda a cadeia produtiva são apenas a ponta do iceberg. No entanto, onde está a cobertura desses impactos econômicos nos grandes veículos de comunicação? Será que estão cumprindo com a preocupação em levar a verdade ao público?
Este texto busca entender o impacto econômico vindo dos focos de incêndio que há meses vêm assolando o nosso país e deixando rastros em diversas esferas.
O silêncio da mídia
Ao analisar alguns portais de notícias, é possível notar uma escassez preocupante de reportagens que conectem as queimadas à economia do dia a dia do brasileiro comum. A Globo, por exemplo, conhecida por seu forte marketing e defesa do “agro é pop”, parece se esquivar de tudo que ligam as chamas ao agronegócio.
Em práticas antigas da agricultura, o fogo era utilizado para se preparar a terra antes dos novos plantios. Com o tempo, viram que só encontrariam vantagens ao abandonar a queima, especialmente na parte financeira.
Em uma rara exceção, o G1 publicou uma matéria relacionando a seca histórica aos impactos na energia, alimentos e transporte. No entanto, a abordagem superficial e a falta de continuidade na cobertura deixam muito a desejar. Já o portal Terra mencionou brevemente que as queimadas devem impactar o mercado e elevar os custos dos alimentos, mas sem aprofundar na questão ou manter o tema em pauta.
A pergunta que ecoa é: por que a mídia não está dando a devida atenção a este aspecto crucial das queimadas? Podemos levantar algumas hipóteses, como os interesses corporativos, visto que os conglomerados de mídia muitas vezes têm laços estreitos com o agronegócio, um dos principais setores associados às queimadas.
O tema em si também é complexo, então a interconexão entre queimadas e economia exige uma análise mais profunda e multidisciplinar, algo que nem sempre se encaixa no formato de notícias rápidas e sensacionalistas que temos visto ultimamente. Afinal, a mídia tende a priorizar os efeitos visíveis e imediatos das queimadas, como a destruição da fauna e flora, em detrimento dos impactos econômicos de longo prazo.
Quem paga pelo silêncio?
Enquanto a mídia se cala, o brasileiro paga a conta. Segundo dados da UDOP, as secas e queimadas já estão encarecendo alimentos básicos como açúcar, feijão e carne. O impacto se estende a produtos como café, soja, milho, leite e seus derivados. A alta nos preços é significativa e afeta diretamente o poder de compra da população.
Além disso, os danos ambientais causados pelas queimadas comprometem a sustentabilidade das atividades agrícolas a longo prazo, criando um ciclo vicioso de degradação ambiental e econômica que, se não for combatido, pode levar anos para ser revertido.
A necessidade de uma cobertura responsável
É necessário que a mídia assuma seu papel de informar de maneira abrangente e responsável. A cobertura das queimadas não pode se limitar às imagens chocantes de florestas em chamas, apesar de ser de extrema importância. Ainda é preciso mostrar ao brasileiro como esse fogo também queima seu salário, suas economias e o seu futuro econômico.
A mídia tem o poder e o dever de despertar uma discussão séria sobre práticas sustentáveis, políticas públicas eficientes e a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento que não sacrifique nosso meio ambiente e, por consequência, nossa economia. Enquanto o fogo consome nossas reservas naturais e financeiras, não podemos nos dar ao luxo de uma imprensa que se omite. É hora de acender os holofotes sobre essa questão crucial e exigir uma cobertura que vá além das chamas.