O mito filho da mídia
- 26 de abril de 2017
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- Thamires Mattos
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Jair Bolsonaro ganha todos os dias milhares de seguidores/eleitores que garantem apoio e voto em 2018. Essa comoção acontece graças às redes sociais e, é claro, à mídia
Victória Coelho
“A semana passou voando”, assim como os meses e o ano, logo mais é natal e 2018 começa. Constatações sobre a passagem rápida do tempo em nossas vidas é assunto comum de conversas rotineiras. Em conversa com amigos da faculdade falávamos justamente sobre o tempo. Após vários exemplos, avançamos 1 ano e chegamos a um momento que vai ser épico (assim esperamos) em nossas vidas: a formatura na faculdade. “2018 vai ser o ano! ”,ele dizia sorrindo, “ me formo e Bolsonaro se torna presidente”. A partir dessa fala, outra discussão começou. Ficamos mais boas horas falando dele, o cara que virou pauta universal: Jair Messias Bolsonaro, para os mais íntimos, o Bolsomito.
Jair Bolsonaro cumpre o seu sexto mandato na Câmara dos Deputados. Em 2014, foi o deputado mais votado do estado do Rio de Janeiro com o apoiode 6% do eleitorado fluminense. Entretanto, os mais de 400 mil votos conquistados em uma eleição não é o que torna o Bolsonaro um “mito”. A pré-candidatura do deputado à presidência do Brasil em 2018 e sua possível vitória coloca o em pauta nas discussões de família, nos intervalos de trabalho e até mesmo na roda de amigos, em um churrasco de domingo.
Segundo pesquisas e nossa própria realidade, a internet é o meio que mais cresce entre os brasileiros. As redes sociais se tornaram mais uma ferramenta onde a figura de Jair Bolsonaro é popularmente conhecida. O pré-candidato coleciona milhares de seguidores que não poupam apoio aos discursos de defesa do candidato, sempre validados pela hastag “Bolsomito2018”.
A apresentação de Bolsonaro nas redes vem ganhando espaço de forma veloz. Hoje, nas pesquisas eleitorais, Lula é o preferido, mas faltando 1 ano e meio para as eleições, Jair Bolsonaro mostra crescimento. Isto se dá graças às redes, como também à salve, salve grande mídia verde e amarela.
#Bolsomito2018
A pré-candidatura de Jair Bolsonaro teve seu start logo após o término das eleições municipais do ano passado. Desde então, Bolsonaro é pauta diária dos conglomerados comunicacionais. A chamada grande mídia apresenta o candidato de forma nua e crua. Seria a desconstrução da imagem de Bolsonaro?
Lendo um periódico, me deparei com os seguintes dizeres: “Representante da extrema-direita brasileira, Jair Bolsonaro é homofóbico, machista, arruaceiro, antidemocrático, racista, para citar apenas algumas de suas “qualidades” e, mesmo assim ou por isso mesmo, vem sendo considerado um sério candidato à presidência”.
Por isso, julguei mais coerente chamar o fenômeno de construção negativa ou, para quem achar melhor, construção real da imagem do candidato. Entretanto, ao apresentar o “mito” nu e cru, a mídia peca. O excesso de informações, sejam elas negativas ou não, acaba por ser vantagem. Afinal, Bolsonaro faz questão de manter sua imagem atrelada a assuntos polêmicos.Sendo assim, ponto para a mídia na visão de Bolsonaro.
Ao falar de uma cobertura recente e tão intensa, nos voltamos ao sensacionalismo. Essa linha fina que faz uma apologia à Dilma e Bolsonaro explica melhor: “Pesquisa realizada recentemente surpreende e coloca ‘Mito’ à frente da ‘Jararaca’”. Apesar de tanta informação sobre o pré-candidato, não há como negar que, para os brasileiros, as revelações sobre o processo Lava Jato, por exemplo, criaram uma descrença nos políticos e nos pretensos líderes da esquerda, abrindo caminho para líderes com linguagem como a de Bolsonaro, na visão do mesmo, ponto para a mídia mais uma vez.
Seria Bolsonaro o Trump brasileiro?
Do outro lado das terras tupiniquins, a mídia internacional não demonstra empatia com o pré-candidatura de Jair Bolsonaro. Motivos para tal repulsa não faltam e são apresentados de forma clara pelos portais estrangeiros. O periódico Le Monde apresenta Bolsonaro como homofóbico, racista, atrevido e misógino. Tais adjetivos são justificados com a seguinte afirmação: “ O deputado gosta de ser apresentado como um homem que incomoda as pessoas, se diz perseguido pelos partidos e insiste em interpretar uma caricatura”.
Ao buscar por notícias de Bolsonaro nas mídias internacionais me deparei com manchetes que demonstram um posicionamento forte e decisivo.”Assim como Trump, Bolsonaro é frequentemente criticado pela mídia de esquerda, e assim como Trump, ele aceita as críticas com orgulho”. “Uma vergonha nacional única” no Brasil: ‘Ele tem uma longa história de racismo revoltante, homofobia e outras formas variadas de fanatismo’”.
As comparações de Bolsonaro com Trump feitas pela mídia internacional revelam uma posição contraria à candidatura do atual deputado, mas não negam as chances de uma possível vitória em 2018. O constrangimento do pré-candidato vem em escala global, contudo, ele parece não se importar. Em uma entrevista concedida a um veículo estrangeiro, Bolsonaro afirmou: “Gosto da posição de Trump. A única diferença é que eu sou mais rico!” Qualquer semelhança e comparação não seria mera coincidência.
Jair Bolsonaro: o filho da mídia
Desde que o mundo é mundo e que existem eleições, os veículos comunicacionais acabam se aproximando dos candidatos que possuem mais chances de se destacar. Após toda leitura que a mídia tem feito da figura de Jair Bolsonaro e toda polêmica que ele traz consigo, chega-se facilmente à constatação de que o Bolsomito é um tiro certeiro no quesito se destacar e, consequentemente, gerar audiência.
De forma positiva ou não, vemos uma mídia bem alinhada com o Bolsonaro. Responsável por fazê-lo deslanchar e, por conseguinte, ficar tão conhecido ao ponto de ser chamado de mito. Essa figura emblemáticacativa uma porção significativa do eleitorado, até agora um público que não seria suficiente para fazê-lo chegar à presidência do Brasil, mas que sem dúvida o oferece garantia de ser conhecido por todos. Aos eleitores que buscam novidades, a mãe mídia apresenta o seu mais novo filho rebelde.