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O império que escalou o futebol Brasileiro

  • 4 de junho de 2025
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  • Theillyson Lima
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Muito além da transmissão, o grupo Globo moldou o futebol como um espetáculo sob medida para seus interesses.

Victor Bernardo

Se o Brasil é o país do futebol, foi a Globo quem narrou essa história – e, por vezes, quem apitou o jogo. Ao completar 100 anos de existência enquanto grupo de comunicação, a Globo carrega no currículo muito mais do que novelas e jornais: ela também moldou o imaginário esportivo brasileiro. Mais que transmissora, foi arquiteta da paixão nacional, dona das câmeras, dos microfones e até do cronograma.

Num país em que são os direitos de transmissão que dão valor aos campeonatos, é impossível falar de futebol sem falar da Globo. Assim como é impossível falar do maior grupo de comunicação do país sem passar pelo esporte.

Essa simbiose, construída ao longo de décadas, tem nomes, rostos, cifras e polêmicas que ajudam a entender não só o centenário do maior grupo de mídia da América Latina, mas também os bastidores daquilo que o torcedor vê e daquilo que ele nunca verá.

Uma história de amor (e interesse)

A relação entre o grupo Globo e o esporte não tem uma data específica de início. Enquanto jornal e emissora de rádio, a empresa da família Marinho sempre esteve presente nos principais eventos esportivos do Brasil, fosse cobrindo ou transmitindo.

No entanto, tudo ganhou força em meados da década de 1970, com a consolidação da TV Globo como a principal vitrine televisiva do país. A criação do Globo Esporte, em 1978, consolidou uma linguagem própria – mais leve, com trilha sonora marcante, bordões e um jornalismo que mais entretinha do que investigava. A cobertura da Copa do Mundo de 1982, com narração de Luciano do Valle, já dava sinais da grandiosidade técnica que viria a se tornar padrão.

Nos anos 1990, o “padrão Globo de transmissão” se tornou hegemônico. A figura de Galvão Bueno, voz oficial da Seleção por mais de três décadas, tornou-se sinônimo de Copa do Mundo. Na Globo, ele narrou os dois últimos títulos mundiais do Brasil e viveu em primeira mão as derrotas que se seguiram. Galvão criou um estilo próprio que misturava emoção a nacionalista com um certo filtro editorial: os heróis e vilões do esporte tinham sempre o selo da emissora carioca.

Durante anos, o grupo deteve com exclusividade os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, da Copa do Brasil, da Libertadores e da Fórmula 1. Toda tentativa de mudança (desde o Clube dos 13 até, mais recentemente, a LIBRA/LFU) acaba voltando a ceder a maior parte dos jogos à Globo.

Quando a Globo apita o jogo

A força do grupo não estava apenas na frente das câmeras. A Globo interferiu diretamente em horários de jogos, por exemplo, exigindo partidas às 22h de quarta-feira para coincidir com o fim da novela. Durante anos, foi a grade da programação que ditou o ritmo do futebol brasileiro, e não o contrário.

A relação entre Globo, CBF e clubes também sempre foi nebulosa. Acusações de favorecimento em contratos e a centralização dos lucros em poucos times (especialmente Flamengo e Corinthians) sempre foram motivo de discórdia entre os principais clubes do Brasil. Cada renegociação de contrato mostrava que o futebol era também uma guerra de bastidores, que a Globo costumava vencer.

Enquanto isso, a emissora reforçava sua marca em outras frentes: o SporTV, criado em 1991, tornou-se um dos canais por assinatura mais relevantes em esportes no país. Em 2024, por exemplo, o canal liderou o ranking de audiência da TV por assinatura.

O ge.globo, lançado em 2005, virou o maior portal esportivo nacional, com média de 35 milhões de usuários por mês, mesmo em tempos de explosão das redes sociais.

O monopólio ameaçado

O império, no entanto, começou a ruir. A partir de 2019, a Globo enfrentou a concorrência direta de plataformas digitais e outros grupos de mídia. Perdeu a Libertadores para o SBT, a Fórmula 1 para a Band e a Champions League para a TNT Sports. Também rompeu contratos com federações estaduais, como a Paulista e a Carioca, em meio a disputas judiciais.

Segundo a Folha de São Paulo, nos últimos dez anos de medição na Grande SP, principal mercado econômico do país, a audiência das partidas do Campeonato Brasileiro na Globo caiu em torno de 20%.

A tentativa de manter a hegemonia levou à reformulação de seus canais e à migração para o digital. O Globoplay passou a transmitir jogos, o SporTV criou programas mais analíticos e o grupo apostou em parcerias com influenciadores em redes sociais. Mesmo assim, figuras como Casimiro Miguel passaram a atrair milhares de espectadores para transmissões alternativas, mais espontâneas e menos institucionalizadas.

A Globo segue na liderança absoluta de audiência, mas sem o monopólio visto anteriormente. Quanto às tentativas de reinvenção, estão acontecendo, mas ainda parecem incertas quando comparadas às concorrentes do mundo digital, como a Cazé TV. 

O que a Globo não mostra

Ao longo de décadas, a Globo construiu ídolos, mas também apagou histórias. A cobertura esportiva da emissora raramente abordava temas incômodos, como racismo, machismo e homofobia. Em 1987, por exemplo, quando Cuca e outros três jogadores do Grêmio foram condenados na Suiça pelo estupro de uma adolescente, o jornal O Globo dedicou só uma pequena nota ao caso.

Apenas recentemente o grupo começou a dar a devida atenção a esses problemas, o que aparenta ser mais um reflexo de pressão popular do que um verdadeiro compromisso com as causas.

As atletas mulheres também tiveram menos visibilidade historicamente, com exceção pontual das Olimpíadas. O futebol feminino, por exemplo, só ganhou transmissão regular do grupo Globo em meados de 2022 – e raramente na TV aberta. 

Além disso, a emissora sempre tratou com superficialidade temas como a politização do esporte, a corrupção em federações e as articulações políticas da CBF (talvez em nome de seus próprios negócios com a Confederação). Na última crise, por exemplo, que culminou na destituição do presidente Ednaldo Rodrigues e eleição conturbada de Samir Xaud, pouco se viu de análise na programação dos canais Globo.

O centenário e os bastidores da paixão

Ao completar 100 anos, a Globo comemora o que poucos grupos de mídia no mundo conseguiram: ser referência absoluta em entretenimento, informação e esporte. Seu protagonismo na construção do imaginário do “país do futebol” é inegável. Afinal, sem a Globo, o Brasil seria tão apaixonado por futebol? Ou seria apaixonado de outro jeito?

Esse protagonismo, no entanto, custou caro à autonomia do esporte enquanto expressão popular. A Globo transformou o futebol em espetáculo televisivo, mas também contribuiu para sua mercantilização extrema.

O centenário do grupo, portanto, deve ser visto como um marco não apenas de sucesso, mas de responsabilidade histórica. Porque, ao relembrar a história que a Globo contou, é preciso também lembrar dos detalhes que ela escolheu não contar. É nessa diferença que mora o verdadeiro poder do maior conglomerado de mídia do país.

 

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