• Home
  • Sobre o Site
  • Quem Somos
  • Edições Anteriores
Log In

  • Home
  • Sobre o Site
  • Quem Somos
  • Edições Anteriores

HomeAnálisesO IBOPE de uma infância adultizada

O IBOPE de uma infância adultizada

  • 3 de setembro de 2025
  • comments
  • Theillyson Lima
  • Posted in Análises
  • 0

As consequências do trabalho precoce para atores e atrizes mirins. 

Raíssa Oliveira

A palavra adultização poderia até ser desconhecida há algumas semanas atrás, mas o seu significado já ecoava nas telinhas, vezes em Hollywood, vezes na novela das sete, porém, sempre trazendo grandes consequências para atores e atrizes mirins, positivas e negativas.  

Maísa Silva é um dos principais exemplos atuais de trabalho precoce em frente às câmeras. Aos três anos foi exposta em um programa de auditório para todo país, conquistou o público com a sua esperteza com as palavras e a sua desenvoltura na frente das câmeras mesmo sendo novinha e, logo em seguida, aos cinco anos de idade, fechou o contrato com o SBT. A neta de consideração do Sílvio Santos construiu uma carreira sólida e nunca soube o que é viver debaixo dos panos e de maneira privada.   

Outro exemplo muito conhecido é o da atriz Larissa Manoela, que estreou na televisão aos seis anos de idade, mas foi reconhecida nacionalmente especialmente aos seus onze anos quando interpretou Maria Joaquina da novela Carrossel, papel que alavancou sua carreira. Muitas oportunidades surgiram a partir disso e Larissa se tornou uma celebridade infantil, tanto que seu aniversário de 15 anos foi exibido em TV aberta em 2016, no Domingo Legal.     

Autoestima das atrizes mirins

Essas atrizes mirins, assim como muitas crianças, cresceram na frente das câmeras, vigiadas por um grande público que, com a crescente de redes sociais, possui o poder e a liberdade para expor as opiniões sem pudor algum, aumentando o carinho em cima das pessoas públicas, porém também, as críticas nada construtivas. Alguns desses comentários giram em torno da aparência, que, quando criança, nem importa tanto, mas na adolescência, essas críticas se manifestam em resultados negativos na autoestima.

Larissa Manoela virou meme e alvo de comentários maldosos na adolescência sobre o tamanho da sua testa. Maísa demorou para aceitar seu cabelo cacheado e passou por uma transição capilar dolorosa aos 18 anos, porque o cabelo encaracolado se tornou um símbolo infantilizado e alisá-lo foi a solução que ela encontrou para se desvincular dessa imagem. 

Anaju Dorigon, a eterna Jade de Malhação, passou por rinoplastia após trabalhar desde os três anos de idade na frente das câmeras em comerciais e, em sequência, como modelo, atuando em novelas na juventude. Em entrevista para Globo ela comenta que, por trabalhar desde pequena com estética, ela se tornou muito perfeccionista e exigente consigo mesma.            

A linha tênue entre profissional e personagem  

Além disso, quando se trata de atuação, as próprias crianças têm dificuldade em discernir o que é a realidade. Larissa Manoela revelou que, quando interpretou a Maria Joaquina, pedia desculpas ao Jean Paulo, que interpretava o Cirilo, pelas cenas maldosas de racismo contra ele e que já chorou com a situação, com medo de que ele, por ser mais novo, pensasse que as cenas fossem reais e acreditasse em tudo que dizia. Já Maísa revela que sofria bullying na escola quando era pequena e a época foi mais complicada quando o Pânico produzia a “Malisa, menina monstro”. Maísa ficava chateada porque entendia que era brincadeira, mas os seus colegas ficavam fugindo com medo e chamando ela de monstro.

Casos como esse não ocorrem apenas na mídia brasileira. Para produzir o filme “Malévola”, por exemplo, foi necessária uma adaptação pela inocência das crianças não desassociar a realidade da atuação. Angelina Jolie precisou contracenar com a própria filha, já que outras possíveis atrizes mirins tinham muito medo dos seus chifres e fantasia. 

Necessidade de audiência

A necessidade de vender um produto, trabalho ou ideia, faz com que alguns pontos de ética sejam deixados totalmente de lado. Mais do que apresentadora e atrizes, Maísa e Larissa Manoela se tornaram celebridades que todo mundo acompanhava, e tudo que dizia respeito à vida delas era interessante acompanhar de camarote. Para lucrar e repercutir os talentos, as vidas delas desde pequenas eram expostas na vitrine e, quanto mais aplausos, melhor.   

Festas de 15 anos, foguinhos no Snapchat, crush na adolescência e desentendimentos com algumas amigas. Tudo normal para qualquer menina no auge do ano de 2016. O diferencial eram apenas as milhões de pessoas que acompanhavam de perto, como se estivessem na sala de estar da casa da Larissa. Um dos principais assuntos que comentavam da atriz era sobre quantos namorados ela levava para a Disney desde novinha, porque, enquanto ainda se é criança tudo é bonito, é só crescer um pouco para que críticas venham a todo o vapor.  

Um dos primeiros namorados da atriz e um dos mais marcantes para o público foi João Guilherme, que contracenava com a Larissa Manoela na novela Cúmplices de um Resgate. Namoraram durante um ano e o casal fez um grande sucesso porque já era par romântico na novela e levaram para a vida real a fantasia do público. Entretanto, após acabarem o relacionamento, a audiência ainda queria acompanhar o casal Jolari e o SBT atendeu os pedidos do público, juntando eles novamente em 2018 como par romântico na novela As Aventuras de Poliana. 

Em um período confuso como a adolescência, o que ela menos precisava era atuar com ex, mas ela precisava ser madura, porque já era uma atriz experiente que todos esperavam por profissionalismo e responsabilidade da sua parte, mesmo ainda com seus 18 anos de idade.   

A Maísa também sentiu na pele o profissionalismo que todos esperavam que ela tivesse, já que ainda quando pequena precisava ser maior que as crianças da sua idade, porque todos tinham expectativa que isso acontecesse. Telefonemas atendidos, brincadeiras explicadas para crianças com o dobro da sua idade e várias frases marcantes na conta, tendo que lidar com uma rotina lotada, audiência, jogo de cintura na frente das câmeras e a fama precoce. Enquanto isso, do outro lado da telinha, eu acordava às oito horas, tomava achocolatado e tentava a sorte de que uma garota da minha idade, mas que já tinha uma carteira assinada, me atendesse em rede nacional enquanto eu ainda aprendia a escrever com a letra cursiva.  

No fim das contas, dá para entender crianças no campo da atuação, porque personagens infantis necessitam de artistas infantis para interpretá-los. Porém, quando se trata da Maísa, é difícil entender o porquê de uma criança apresentar um programa que poderia facilmente ser protagonizado por um adulto qualquer. Qual a necessidade de expor uma criança que não tem consciência de suas atitudes para um dos maiores públicos da televisão brasileira? 

Uma hora a conta chega    

E pra tudo isso, uma hora a conta chega. Os pais da Larissa Manoela cuidavam da carreira da filha desde pequena e continuaram administrando os seus negócios quando ela cresceu, afinal, eram as pessoas em que ela mais confiava para exercitar essa atividade. Entretanto, em 2023 Larissa buscou entender sobre suas finanças e descobriu que possuía apenas 2% da cota da empresa que era sócia com seus pais, primeira em seu nome e mais importante, na qual acumulava a maior parte do patrimônio adquirido durante toda sua vida profissional.  

Em uma outra empresa, em que apenas ela era dona, havia uma cláusula que dizia que os pais tinham total liberdade de administração sem necessidade de autorização prévia da filha para qualquer negócio. Além disso, mesmo depois dos vinte anos, ela nunca soube quanto ganhava ao certo e precisava pedir uma espécie de mesada aos pais para gastos simples. A atriz pediu uma redistribuição de percentual, os pais negaram, romperam com a filha e ela abriu mão de um patrimônio de 18 milhões de reais para evitar disputa judicial com os pais. 

O desenrolar dessa história gera o questionamento de quando a fama precoce deixa de ser oportunidade de crescimento e se torna exploração, mas não existe apenas uma resposta para essa pergunta, cada caso tem sua particularidade. Apesar de Larissa Manoela ter tido experiências ruins quanto ao dinheiro, ela se consolidou na carreira e consegue conquistar todo prejuízo novamente, tendo apoio e inteligência emocional para lidar com toda situação. Além disso, famosa ou anônima, o caráter de seus pais iria ser revelado uma hora ou outra.  

Claro que nem todas as situações têm o desfecho igual. Algumas crianças são exploradas financeiramente por responsáveis ou empresas e ficam sem possibilidade de recuperação, tanto financeiramente quanto mentalmente, outras conseguem seguir em frente mesmo com todos os desafios. Também tem aquelas que a responsabilidade dos seus pais auxilia para um futuro próspero, como Maísa, que obteve a sua independência financeira na maioridade. Cada caso deve contar com respaldo legal e a assistência para crianças deve ser realizada.   

Infância válida, assim como todas as outras

Nenhuma infância é perfeita, mas nenhuma pode ser invalidada. Maísa e Larissa Manoela aparentam ter muito orgulho das crianças que foram e das infâncias que tiveram, porque realizaram sonhos e brincaram enquanto trabalhavam, mas ainda assim com grande carga de responsabilidade que deve ser direcionada apenas para adultos. Tudo o que construíram levou elas ao lugar que desfrutam hoje em dia, além de expandir o espaço restrito da televisão e se aventurarem na música, moda e empreendedorismo. 

Como telespectadora, eu adorei acompanhar o trabalho dessas atrizes mirins, era bom acordar com o bom dia animado da Maísa e cantarolar as músicas que a Larissa Manoela protagonizava nas novelas durante o dia inteiro. Mas quando vai chegar a vez delas viverem as suas infâncias se gastaram as delas precisando sustentar a minha? 

Post Views: 319

Related Posts

comments
Análises

Os amigos da vizinhança cinematográfica

comments
Análises

Como salvar quem salva todo mundo?

comments
Análises

A exaustão dos filmes de super-heróis

Adultização infantil é crime pra quem?

  • 3 de setembro de 2025
  • comments

São apenas crianças sem infância

  • 3 de setembro de 2025
  • comments

Share this

0
SHARES
ShareTweet

About author

Theillyson Lima

Related Posts

comments
Análises

Os amigos da vizinhança cinematográfica

comments
Análises

Como salvar quem salva todo mundo?

comments
Análises

A exaustão dos filmes de super-heróis

comments
Análises

A “militância” enfraqueceu a Marvel ou só escancarou os medos do público?

Tags

  • #edição233
  • #televisão
  • adultização
  • audiência
  • larissa manoela
  • maísa
  • trabalho precoce

Comments

Copyright © 2019 Unasp Engenheiro Coelho