O ESTADO DE SÃO PAULO – Se é para falar de uma, que fale de todas
- 5 de setembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Aline Oliveira
Quando o assunto é religião, as pessoas tendem a se sentirem desconfortáveis. A maioria opta por não debater o tema. Afinal, possuímos opiniões e crenças divergentes, que acabam gerando conflitos. O uso da frase “prefiro não dar a minha opinião sobre religião” se torna genérica nas rodinhas de conversa. Apesar de empregarem essa sentença, no final das contas o indivíduo acaba dando sua opinião e inicia uma luta para provar quem detém a crença verdadeira.
A mídia, por sua vez, também privilegia ou prejudica uma ou mais doutrinas religiosas. Nas abordagens, a religião é ligada com a política e leitor é forçado a se submeter a esse tipo de cobertura. Isso fica claro ao procurar a palavra religião na caixa de busca do site do Estado de S.Paulo: política, cultura, geral, papa e vaticano são as editorias principais.
Uma religião que é pautada com frequência pelo Estadão é o islamismo. O Islã é valorizado, e preconceitos concebidos pelo próprio veículo não se aplicam aos artigos atuais. A matéria Cresce o número de brasileiros que se convertem ao Islã aborda exatamente a hostilidade a respeito dessa crença, considerada a causa do terrorismo. “Intrigados pelo estigma da religião associado ao terrorismo desde o ataque ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001, os curiosos encontram um universo diferente na mesquitas”. No decorrer do texto fontes afirmam como o islamismo é agradável, prazeroso, ameno, seguro e sem nenhuma ligação com os grupos extremistas e que infelizmente as pessoas possuem uma visão distorcida desta religião.
Já na reportagem Papa canoniza duas freiras palestinas, mesmo que não fale diretamente do islamismo, mostra nem todos os indivíduos do estado islâmico podem ser considerados terroristas insanos e que pode existir uma saudável relação entre as diversas crenças, no caso o islã e o catolicismo. No mesmo texto é narrado os bons feitos realizado pelo papa Francisco, como há um esforço em unificar a fé cristã presente na Palestina, “a cerimônia, com a presença do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e uma delegação de importantes clérigos […] mostra a iniciativa do papa para ajudar as comunidades cristãs do Oriente Médio”.
Os elogios à doutrina islâmica vão se expandindo no decorrer das diversificadas matérias realizadas pelo veículo. No entanto, o Estadão aliena e confunde os leitores, ao informar (ou advertir, no caso) que o terrorismo está sempre associado ao islamismo e ao Oriente Médio, como é o caso das matérias “‘Muçulmanos precisam reformar linguagem para alcançar mais a periferia’, diz rapper convertido” e “Presidiários trocam cartas sobre religião com associação islâmica”. Isso chega a ser irônico, visto que o próprio jornal contribuiu com a criação do estereótipo de que terroristas são religiosos islâmicos. Ler matérias que trazem sentidos completamente opostos gera confusão na mente de quem lê.
Mesmo o Estadão elaborando matérias que tratem de outras religiões, as que sobressaem são o catolicismo e islamismo. Esse fato é injusto com a diversidade religiosa presente no Brasil e no mundo. Falar sobre religião não é abordar apenas uma ou outra. Todas devem ter voz e o mesmo tratamento pela mídia. Não é uma questão de imparcialidade, pois a mesma não existe. Na realidade, é uma questão de devolver a liberdade de expressão perdida pela sociedade. Se é pra falar de uma, que fale de todas.