Mozart In The Jungle e a quebra de estereótipos
- 16 de novembro de 2022
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- Theillyson Lima
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A série traz um olhar diferenciado sobre os latinos pertencentes à Hollywood, quebrando o pensamento dos espectadores, sobre os personagens latinos precisarem ser problemáticos.
Laura Rezzuto
É indiscutível que hoje existem diversos programas e seriados com todo tipo de gênero, particularidade e inclusão. Olhando para trás e tentando enxergar os últimos 10 anos, é possível entender a variedade de produtos, o crescimento da mídia e a tentativa de representatividade por trás. Há grandes produções com latinos sendo realizadas e outras que já estão nas nossas queridas plataformas de streaming. Produções que instigam, ganham o coração dos espectadores e até mesmo, derrubam lágrimas.
Não importa se é um suspense de 30 minutos ou uma comédia de duas horas, existem seriados que ultrapassam os limites de expectativas e nos prendem de certa forma que podemos terminar cinco temporadas sem ao menos perceber, e então surge a observação do espectador “eu não sabia que o latino era assim”. Mas, será esse o caso de Mozart In The Jungle?
A aclamada Mozart In The Jungle
Produzida em 2014 pela Amazon Prime, a série é inspirada no livro “Mozart in The Jungle”. O roteiro se baseia na história de Hailey Rutledge, que tem o sonho de tocar na orquestra sinfônica de Nova York, regida pelo Maestro Rodrigo de Souza (nosso latino). Hailey consegue a oportunidade de tocar na orquestra, mas não da forma que ela imagina.
Mozart In The Jungle foi aclamada pelo público, ganhando dois Globos de Ouro, como a melhor série de comédia, além disso, foi super elogiada por trabalhar com a inclusão de personagens latinos.
O episódio piloto
Já no primeiro episódio, após a saída do regente anterior, Rodrigo é apresentado ao público como um gênio. “É uma honra apresentar a vocês alguém especial. Aos doze anos ele foi a pessoa mais jovem a ganhar o prêmio ‘maestros’. Aos 23 ele regeu no Scala de Milão. Aos 25 tirou a Sinfônica de Oslo da falência. Ele foi disputado por diversos lugares”, disse a presidente da orquestra.
Através dessa fala é possível ver que nessa série, em específico, a imagem do latino, encrenqueiro e sem futuro é quebrada, e abre espaço para um personagem grande, criativo e facilmente elogiável. Mozart In The Jungle foi capaz de nos trazer um rompimento de estereótipos desnecessariamente ligados à latinos, que muitas vezes são postos em produções para representar papéis duvidosos, como criminosos.
Porém, apesar da grandiosidade de como o personagem latino é apresentado ao público, Rodrigo ainda passa por momentos preconceituosos vindo de alguns personagens, como o antigo maestro Thomas, a quem substituiu. Em certa parte do episódio, após o regente anterior questionar os novos métodos estipulados por Rodrigo, Thomas o pede para explicar a situação “e de preferência, em sua língua”, tentando menosprezar Rodrigo por ser mexicano.
O maestro Rodrigo tem os seus traços duvidosos, por ser mulherengo e sempre fazer de tudo para ser o melhor e fazer do seu projeto o melhor. Independente disso, o seu perfil criado pela série, o mostra determinado, inteligente e dono do seu próprio futuro, o que normalmente não nos mostram em outros personagens latinos.
Estereótipos invisíveis
Rodrigo é visto com encantamento pelos espectadores. Já que, é incomum um homem latino ser apresentado como intenso, fascinante, brilhante, criativo e com opiniões políticas polêmicas, ou seja, provavelmente ele seria de esquerda, o que seria diferente nos Estados Unidos, logo aí, já temos um estereótipo quebrado.
Se foi intencional, não saberemos, mas Mozart In The Jungle não nos traz somente música ou debates sobre as condições de trabalho dos musicistas, mas, também, uma nova perspectiva sobre o latino ser gente. Gente que cai e levanta. Gente que estuda e se torna um gênio. Gente que luta e oferece o seu melhor. Quebrando a expectativa tradicional de esperar que um branco, pertencente à classe alta, seja a estrela famosa e com um ouvido super afinado.