Melhor sozinho do que descartado, ou roubado
- 24 de novembro de 2020
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Além da objetivação de homens e mulheres, os usuários das plataformas de sites e aplicativos de relacionamento nunca sabem realmente quem está por trás das telas
Hellen Piris
A maioria de nós provavelmente já ouviu ou leu a famosa manchete: “Mulher é encontrada morta após marcar encontro pela internet”. As visões sobre as plataformas de encontros são diversificadas. Alguns têm uma percepção negativa e receosa, outros acreditam que seja uma proposta interessante e inovadora. Contudo, independente da opinião pública, o certo é que até hoje, há mais vítimas frustradas e solitárias, ao invés de homens e mulheres que encontraram o amor das suas vidas.
Também conhecido como “Império do amor”, o Match Group é a maior empresa de sites para namoro e relacionamento, faturando cada ano mais de US $1,1 bilhão. Eles têm um carinho especial pelo Brasil, já que representam o segundo maior público do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. No Brasil, são oito os sites para encontro administrados pela empresa, sendo Tinder, ParPerfeito e Badoo os mais populares e com maior quantidade de usuários entre os brasileiros.
Atualmente existem sites de relacionamento para qualquer indivíduo, independente da sua situação sentimental ou preferência sexual. Há sites para divorciados, idosos, evangélicos, homossexuais, jovens e deficientes. Assim, mais uma vez a indústria – cujo lucro ocorre em cima do amor – demonstra sua eficiência e esperteza em proporcionar a mesma experiência para diferentes públicos.
Porém, o fator mais agravante e negativo das plataformas virtuais de relacionamento é a incerteza em saber quem realmente está por trás da tela. Se a pessoa do seu interesse é alta ou baixa, bonita ou feia, reservada ou espalhafatosa, rica ou pobre, é apenas um detalhe se comparada aos crimes cometidos nesse meio.
Melhor sozinho do que mal acompanhado, ou roubado
Segundo pesquisa realizada pela Happn, aplicativo de paquera, a faixa etária mais ativa no aplicativo são adultos de 35 a 44 anos, superando os de 25 a 34. Ou seja, os indivíduos mais engajados e interessados em conseguir um par, são majoritariamente pessoas divorciadas ou cuja idade habitual para se casar já passou. Essas pessoas geralmente buscam um relacionamento sério, e estão dispostas a se envolver sentimentalmente. Tal fator, somado aos dados pessoais exigidos pelas plataformas, e também a facilidade em iniciar um relacionamento, propicia o meio para golpes, crimes e extorsão.
São inúmeros os casos de vítimas de roubos ou até mesmo que perderam a vida, após sua “metade da laranja”, na realidade ser um criminoso. Além do mais, muitos deles se aproveitam do momento de fragilidade ou vulnerabilidade emocional para convencer as suas vítimas de realizar envios de dinheiro, sustentados por argumentos falsos.
Se não gostou, arrasta pro lado
Outro ponto negativo referente a esse sistema, é a objetivação do ser humano como produto de mercado, pelo próprio formato da maioria dos aplicativos. O usuário escolhe a partir da aparência do indivíduo, e pelo que pode lhe oferecer, se irá dar um like, um super like ou iniciar uma conversa. É literalmente uma vitrine humana, e quem não se encaixa no padrão de beleza e interesse do usuário, é descartado com a facilidade em um deslize de tela. A oportunidade de conhecer alguém realmente, e explorar o indivíduo com a totalidade dos sentidos, se limita a escolha rápida que os olhos fazem, pautados pela percepção da futilidade.