Medellín: aos olhos de quem não se vê
- 16 de novembro de 2022
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- Theillyson Lima
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A representatividade colombiana na série “Narcos”.
Bruno Sousa Gomes
Quero começar essa análise de forma diferente. Fazendo uma pergunta a você, caro leitor. Até que ponto você estaria disposto a fazer algo, para conseguir o que deseja? Pensou? Então, hoje quero lhe apresentar um homem chamado Pablo Emilio Escobar Gaviria. Sim, ele mesmo, o maior narcotraficante já visto em toda história do mundo. Se você não entendeu nada até aqui, calma, eu vou te explicar.
Pablo Escobar foi um grande marco na história da Colômbia, chefe do Cartel de Medellín, uma organização criminosa sustentada pelo dinheiro do tráfico e responsável pelo fornecimento de 80% da cocaína que foi despejada em vários países entre os anos de 1980 e 1990. Carregava consigo o seguinte lema: dinheiro, ou chumbo! Ele construiu um império e se tornou um dos homens mais ricos do mundo na sua época, além de ter sido um assassino frio que tirava a vida de todos aqueles que entravam no seu caminho.
Ele sempre buscou uma forma de ganhar dinheiro e um dos seus maiores sonhos era se tornar um homem milionário aos 22 anos. Inclusive se ele chegasse até os 30 anos sem sua liberdade financeira ele se mataria.
Representatividade em “Narcos”
A série “Narcos” estreou na Netflix no ano de 2015 e foi dirigida por José Padilha, o mesmo produtor que dirigiu o filme Tropa de Elite em 2007, abordando a relação entre traficantes de drogas, policiais militares e milicianos na cidade do Rio de Janeiro. Mas o foco aqui é falar especificamente de “Narcos”, em análise a primeira temporada, pude avaliar vários pontos nos episódios apresentados de como essa história foi representada. Inclusive de como a cidade de Medellín é exibida na série.
O enredo em si, trouxe muito bem o que aconteceu nos anos 80 na Colômbia. A história de Pablo Escobar foi perfeitamente interpretada pelo ator Wagner Moura, que procurou retratar a verdadeira maldade, sociopatia e psicopatia de Escobar. Fatos que confirmam isso, foi durante os episódios terem inserts documentais que confirmaram a veracidade do que aconteceu na época. Assim, provocando sentimento de indignação aos espectadores que assistiram a série. Porém, como tudo sempre é motivo de polêmica, me fez refletir sobre alguns pontos falhos trazidos na narrativa.
Sotaque colombiano
Por meio de uma pesquisa de campo feita pela BBC, os colombianos se manifestaram comentando sobre como a cultura colombiana foi representada na série, referente ao sotaque. Wagner Moura é ator brasileiro e até então nunca havia interpretado um papel falando em espanhol. Portanto, meses antes da gravação começou a estudar a língua, por isso algumas frases soam de forma diferente, perdendo um pouco da identidade da Colômbia.
Isso é possível de perceber no primeiro episódio, quando Pablo estava indo contrabandear drogas para os EUA e a polícia estava supervisionando as cargas na estrada. Ele é parado pelos os policiais e neste diálogo entre ele e os civis é possível notar essa diferença de sotaque e pronúncia das palavras. Os civis que são nativos da língua falam de forma mais rápida, já quando é Pablo as palavras são mais fáceis de entender.
O país das drogas
Quando pensamos em produtos midiáticos de comunicação, especialmente televisivos, identificamos constantemente a presença de estereótipos que aparecem como uma maneira de padronização generalizada da realidade. Assim, como a cidade de Medellín foi drasticamente exibida na trama. Claro que na Colômbia existe sim, uma representatividade do narcotráfico, mas não é só nesse país que existe essa questão.
Medellín é conhecida como a cidade da primavera, por conta do seu clima. Além de ser a segunda maior cidade da Colômbia e possuir uma população estimada em 2,5 milhões de pessoas, de acordo com dados de 2017. Inclusive, é rica em turismo conhecida pela sua famosa gastronomia. Em fevereiro de 2013, o Urban Land Institute escolheu Medellín como a cidade mais inovadora do mundo devido aos recentes avanços na política, educação e desenvolvimento social.
Durante as cenas isso não foi mostrado a não ser as belas mansões de Escobar. Sendo assim, parece que Medellín é uma cidade horrível que só tem favela, tráfico, pobreza e morte. Provocando no espectador a vontade de nunca ir para um lugar assim, além de aumentar o senso crítico sobre essa questão. Como se as pessoas que vivem nas zonas mais pobres da cidade, não fossem felizes.
Nem tudo é o que parece
Apesar de toda essa análise, pode-se perceber que a série “Narcos” não foi feita para a Colômbia. O povo colombiano está cansado de ouvir essa história. Estão cansados de serem vistos como narcotraficantes. A série foi feita para o mundo todo, a fim de mostrar quem foi Escobar, e para entender como o dinheiro, vagabundo e a perversidade podem se apoderar do sistema.
E faço aqui uma crítica a toda indústria capitalista que utiliza de temas delicados para estereotipar a Colômbia como um país “narcotraficante, guerrilheiro, de prostituição, de drogas”. Devemos sim, assistir para entendermos o que se passou na época, mas é o nosso dever como cidadão procurar entender e olhar os dois lados da história.