A marola virou Tsunami
- 5 de setembro de 2017
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- Thamires Mattos
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É difícil descrever em palavras o poder de uma ideia ou o impacto de uma informação quando é tomada como verdade. Cada nova notícia, verdadeira ou não, é como uma brisa, uma marola que o tempo pode transformar em tsunami
Thaís Alencar
É difícil descrever em palavras o poder de uma ideia. Muito menos o impacto de uma informação quando é tomada como verdade. Cada nova notícia, verdadeira ou não, é como uma brisa, uma marola. Se esta se transformará em tsunami ou furacão, só o tempo pode dizer, mas em uma sociedade imersa em pós-verdades, onde quase tudo é relativo e onde há tantas vozes falando coisas diferentes sobre determinado assunto e defendendo o seu ponto de vista como verdadeiro, talvez o tempo seja o menor dos fatores.
Em abril deste ano, a repercussão do jogo Baleia azul, um game online supostamente capaz de incentivar adolescentes e jovens ao suicídio através de 50 desafios, foi tão grande na mídia que, por alguns dias, esteve entre os principais assuntos das famílias. A cada nova manchete, a preocupação aumentava. No entanto, cabe questionar: será que todo esse alarde foi verdadeiro? Terá valido de alguma coisa? Saber do fato (ou seria factoide?) certamente trará alguma luz ao fim do túnel.
Tudo começou na Rússia em maio de 2016. O site russo Novaya Gazeta publicou um artigo a respeito do aumento do índice de suicídio entre adolescentes e jovens no país. De acordo com o texto, dezenas de jovens haviam decidido dar cabo a sua vida em um período de seis meses. O texto enfatizou que parte dos jovens fazia parte de uma comunidade de jogadores em uma rede social russa. Das 130 mortes em seis meses, o site relacionou 80 a este jogo.
Não demorou muito para que a mídia local se manifestasse. O autor do artigo foi extremamente criticado por associar as mortes ao jogo. O argumento principal era que os participantes do grupo já tinham tendências a doenças psíquicas capazes de levar ao suicídio, assim sendo, não seria justo atrelar os suicídios ao jogo. Até então, porém, o Baleia azul não existia. Após a decisão da jovem russa Rina Palenkova de postar uma foto na rede social antes de tirar a própria vida, surgiu uma comunidade chamada “Mar de Baleias”. Esta tinha o objetivo de divulgar fotos e exaltar o suicídio. Desta comunidade surgiu o game Baleia Azul.
O site Scoopes, reconhecido por comprovar a veracidade de boatos divulgados na internet, replicou um entrevista com More Kitov, idealizador da comunidade “Mar de baleias”. No texto, ele admitiu a criação de perfis e páginas falsas com as imagens de Rina apenas para trazer visibilidade e anunciantes para a sua página. O Baleia azul já nasceu imerso em falsidades e meias verdade, mesmo assim, ganhou destaque nos jornais americanos e mundiais por conta de seu “crescimento” e por representar uma ameaça às sociedades.
A marola virou tsunami. Basta uma pesquisa rápida no google para encontrar manchetes e mais manchetes sobre o tema. No entanto, a facilidade é a mesma para encontrar fontes ora confirmando, ora desmentindo o que foi veiculado pelos grandes meios. Por isso, talvez nunca consigamos chegar a uma conclusão a respeito dos fatos envolvendo este jogo. São muitas vozes disputando a nossa atenção e todas elas afirmando ter a tao desejada verdade.
A sede da mídia em sempre estar a frente e dar o furo de reportagem funcionou como uma armadilha na qual nós caímos. Os impactos disso são imensuráveis. Quantas pessoas criaram perfis falsos e se passaram por curadores? Será que fortalecemos o desejo em alguém de tirar a própria vida? São perguntas para as quais nunca teremos respostas conclusivas. Fato é que toda esta conjuntura tem trazido uma crise de credibilidade para o jornalismo.
Se tudo isso de nada valeu, o dialogo promovido entre pais e filhos a respeito da importância do cuidado da navegação da internet nutre a esperança de um dia termos uma sociedade mais empática e calorosa, onde as pessoas tenham o prazer de viver.