VEJA – Marketing x responsabilidade
- 23 de maio de 2015
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- Thamires Mattos
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Daniela Fernandes
Infelizmente, a realidade prisional brasileira é degradante. De volta a discussão da redução da maioridade penal, Veja prova através da sua cobertura jornalística que a adesão a essa ideia não passa de um tiro pela culatra, simplesmente porque o sistema prisional no Brasil não é educativo; pelo contrário, é única e exclusivamente punitivo. O objetivo da revista não é esse, entretanto acaba gerando reflexões críticas nessa direção.
O indivíduo que sai de dentro de uma penitenciária tem ínfimas chances de se reintegrar à sociedade. Na maioria dos casos, não consegue e a única saída é retornar ao mundo do crime. Esse fato ocorre com adultos maiores de 18 anos. Agora imagine só um menor de idade que é ainda mais influenciável… É por esses motivos que a semanária sob análise prova que criminoso – mesmo sendo criança ou adolescente – deve manter-se em cárcere. E, mais ainda, deixa evidente que a chance de nos tornarmos vítimas daqueles que são encarcerados é grande. Mas que fique claro, a culpa não é apenas deles.
No dia 1º de abril deste ano, parece até mentira, Veja publica uma matéria com o seguinte título: Cunha monta comissão com deputados favoráveis à redução da maioridade penal. O texto possui apenas uma fonte, cuja opinião é a favor da redução da maioridade penal. André Moura (PSC-SE), o entrevistado, é nada mais nada menos do que o presidente da comissão especial encarregada de analisar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que visa diminui a maioridade penal de 18 para 16 anos. Dar voz a somente um lado do debate: esse é um fato, no mínimo, curioso.
Ao contrário do que se percebe hoje, Veja em 2007 após a fatídica morte do menino João Hélio, de 6 anos, arrastado por um carro após um assalto no Rio de Janeiro protagonizado por menores de idade, criou uma seção on-line de perguntas e respostas acerca dos principais argumentos dos defensores e dos críticos da medida de redução da maioridade penal. Na época, a revista apesar da sua linha editorial, presou pela informação.
Talvez seja tempo da semanária resgatar alguns pontos positivos do passado e cultivar leitores. Atualmente, a Veja perde público de duas maneiras. Primeiro, seus leitores envelhecem. Segundo, os jovens não se sentem tão atraídos pelo seu conteúdo. A preocupação, a longo prazo, pode ser a chave para a permanência e competitividade da publicação. O consumidor jovem está cada dia mais exigente mas, além disso, busca qualidade nos produtos. Assim, cabe a Veja atender ou as prioridades de seus anunciantes ou o seu conteúdo jornalístico.
Com a escolha de um posicionamento que fere os princípios jornalísticos, a revista empobrece o tema maioridade penal e reacende a discussão da necessidade de se ter uma regulamentação dos meios de comunicação. Os marcos regulatórios abrangem diversos setores e relações. Nesse caso específico, a atenção se volta a necessidade da pluralidade. Muitos agentes importantes, como ONG`s e movimentos sociais, exercem algum tipo de função na sociedade rotineiramente, contudo não têm visibilidade e ficam de fora dos debates, o que leva a desinformação dos leitores e a violação do direito à informação.
O que a revista ganha ao apoiar a redução da maioridade penal? O que move a Veja? Seus anunciantes e seu interesse político ou a responsabilidade em transmitir os fatos? Marketing versus responsabilidade, o conflito diário.