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Mania de pureza

  • 27 de outubro de 2015
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  • Thamires Mattos
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A tendência de alguns indivíduos se intitularem donos da verdade, intocáveis, com direito a abalar sentimentos, menosprezar o Outro, demonstra uma característica de fraqueza e impotência diante do diferente

Ruben Holdorf

Havia imaginado outra composição de texto para este artigo. Entretanto, a fala estúpida do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) me deixou indignado com a total ausência de humanidade, além do cinismo. Se ele considera os refugiados de guerra como “escória do mundo”, o que dizer da origem do deputado, descendente de imigrantes italianos, chegados ao Brasil na virada do século 19 para o 20 com uma mão atrás e outra na frente? Italianos, alemães, holandeses, russos, ucranianos, poloneses, libaneses, judeus e outros vieram ao Brasil sob condições deprimentes, humilhantes. Passou da hora de o Congresso Nacional processá-lo por falta de decoro, educação, pundonor e civilidade.

A tendência de alguns indivíduos se intitularem donos da verdade, intocáveis, com direito a abalar sentimentos, menosprezar o Outro, demonstra uma característica de fraqueza e impotência diante do diferente. O deputado não suporta a presença do Outro com atributos superiores àqueles dos quais ele é desprovido. Diante da falta de argumentos ou da incapacidade de se calar, Bolsonaro traz à luz dispositivos agressivos que revelam um caráter desprezível. Trata-se de um político cujo autoritarismo contumaz precisa receber resposta imediata da sociedade. Não dá mais para suportar quem atrasa o país com comentários estapafúrdios.

Völkisch

O primeiro-ministro britânico da rainha Vitória, Benjamin Disraeli, frequentemente difundia discursos de conteúdo pseudocientífico a fim de corroborar, segundo Tom Reiss (O orientalista ), crenças no orgulho racial. Disraeli descendia de judeus italianos e acreditava na genialidade e inteligência superiores concedidas aos descendentes de Abraão. É óbvio que houve reação às gabolices de Disraeli e daqueles que tentavam impor nas comunidades judaicas espalhadas pela Europa a ideologia sionista.

Os antissemitas völkisch (expressão que designa a etnicidade criativa e romântica dos alemães) acusavam os judeus de furto da cultura e da propriedade criativa de outros povos. Para Reiss, o próprio sionismo se inspirou no völkisch alemão. Isto é, os judeus também se consideravam diante dos opositores uma raça pura, eleita, diferenciada, merecedora da herança divina. O sionismo dividiu o pensamento interno do judaísmo.

Voltando no tempo: há cerca de dois mil anos, durante a dominação romana na Palestina, os judeus se situavam entre diversas correntes. Saduceus, zelotes, essênios e os mais destacados, os fariseus, formavam os elos das principais correntes político-ideológico-religiosas da ocasião. Todos detestavam os samaritanos, uma mistura de povos expulsos de outras terras dominadas pelos impérios anteriores à Roma, habitantes autóctones e alguns poucos sobreviventes das tribos do Reino de Israel, ao norte.

Desprezo ao Outro

Em recente vídeo – https://www.youtube.com/watch?v=HcQ6gVOIeGk -, o rabino Yisroel Dovid Weiss critica a política israelense e explica as diferenças entre os pensamentos da corrente à qual ele pertence da ideologia sionista do Estado de Israel. Shin Bet e Mossad são instrumentos da opressão sionista sobre qualquer voz contrária à dominação israelense na Palestina, mesmo que seja a da tradição ortodoxa. Weiss constrói uma narrativa estabelecendo um muro divisor entre o povo hebreu, tal qual o perscrutado por Reiss na misteriosa história do escritor Lev Nussimbaum. Nussimbaum ou Kurban Said, outro cognome, relata as tensões entre as culturas orientais e ocidentais, esclarecendo que o judaísmo se situava muito mais próximo ao islamismo, ao contrário do que pregam os cristãos.

O ódio ao Outro conduz, inclusive, líderes políticos a tentarem de todos os modos rever e reescrever a História, na busca incessante atrás de uma justificativa que o torne superior ao Outro, mesmo em um passado distante. Exemplo dessa desfaçatez se exteriorizou nos discursos anti-israelenses do ex-presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad. O nanico de voz rouca chegou à petulância de duvidar do Holocausto enquanto fato histórico comprovado, alegando que os sionistas inventaram tal artimanha a fim de conquistar o apoio dos aliados e, posteriormente, da comunidade internacional. Ao pensar incessantemente em Israel, o desleixado filhote de aiatolá transforma o Outro-israelense ou judeu naquele que deve ser aniquilado. Analisando o Outro, Franklin Silva afirma que este se encontra sempre “diante de mim”. Ou seja, é Israel que constitui a figura de Ahmadinejad em decorrência da força de sua presença diante do líder iraniano.

São os imigrantes que fazem Bolsonaro construir sua própria figura. A presença deles revela o caráter do deputado. Ahmadinejad é um xiita extremista. Bolsonaro é católico e militar linha dura. Dois extremos no ódio milenar aos judeus ou à qualquer um que se apresente como o Outro-diferente, transformado em seguida no Outro-inimigo, aquele a ser afastado, repelido ou até mesmo destruído.

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