Mangás: sombras que se tornaram arte
- 20 de setembro de 2023
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O mundo dos mangás e o seu impacto mercadológico.
Bruno Sousa
Eu tenho certeza que você já consumiu histórias em quadrinhos. Durante nossa fase de aprendizado da leitura, os gibis desempenham um papel importante, pois nos auxiliam a desenvolver habilidades linguísticas e até mesmo estimulam nossa criatividade. Quem nunca passou horas e horas lendo Turma da Mônica, rindo das falas do Cebolinha e das confusões entre a Mônica e o Cascão? Pessoalmente, eu me aventurava muito naqueles quadrinhos.
Mas existem vários outros gêneros de quadrinhos, e um deles que tem conquistado o solo brasileiro é o mangá. Ele se trata, essencialmente, de uma expressão artística e literária japonesa. Portanto, nesta análise, entenderemos mais sobre os mangás, incluindo sua origem, formato, características e seu impacto tanto cultural quanto econômico.
O que é mangá?
O mangá surgiu no período feudal no Japão no século XVII. Naquela época, havia o Teatro das Sombras, onde os artistas saíam pelo vilarejo contando lendas por meio de sombras de marionetes projetadas em um telão. Essas histórias acabaram sendo escritas e ilustradas em rolos de papel, dando início a uma sequência, que acabou sendo chamada de mangá. O nome é a junção de dois vocábulos: “man”, que significa involuntário e “gá”, que significa desenho ou imagem. Existem outras definições como: rabisco descompromissado.
As suas primeiras publicações se iniciaram por volta da década de 20, e só se tornou famosa a partir da década de 40. Importante comentar que no período da Segunda Guerra Mundial, os quadrinhos tiveram suas publicações interrompidas. Mas ao final da guerra, em 1945, eles retornaram, sendo inclusive uma forma de lazer e fuga da realidade para os japoneses, que saíram do conflito. Após essa época, o mangá ganhou força e Osamu Tezuka ficou conhecido como “deus do mangá” e até como o Walt Disney japonês.
No Brasil, a estreia da publicação de mangás ocorreu em 1988 pela editora Cedibra. Nessa ocasião, as ilustrações foram dispostas de forma invertida, permitindo uma leitura convencional. Foi somente a partir dos anos 2000 que a editora Conrad lançou Dragon Ball, marcando o início da publicação de mangás em seus formatos originais.
Mídia ou formato?
Para entender os mangás, é essencial percebê-los como uma mídia e não apenas como um formato específico de história em quadrinhos. No Japão, a palavra “mangá” abrange todas as formas de histórias em quadrinhos, independentemente do estilo de arte, gênero ou público-alvo. Isso resulta em uma ampla gama de mangás, desde os populares shonen e shoujo até os mais maduros seinen e josei. A flexibilidade do termo permite que os mangás abordem uma variedade de tópicos e atraiam públicos diversificados.
No entanto, sua forma mais reconhecível é aquela encontrada nas páginas impressas, em que o leitor é imerso em uma rica narrativa visual, que varia de gêneros como ação, romance, fantasia, ficção científica e muitos outros. O formato único dos mangás, com quadros sequenciais e leitura orientada da direita para a esquerda é uma característica distintiva que o diferencia de outros meios de comunicação.
Essa mídia possui uma capacidade única de transmitir emoções, movimento e ação de uma forma que cativa os leitores, tornando-os cúmplices das aventuras dos personagens. Além disso, a riqueza de detalhes nas ilustrações permite uma apreciação profunda do trabalho artístico, muitas vezes enriquecendo a experiência.
Diferenças entre as HQs no Japão e no Brasil
A diferença mais evidente entre os mangás no Japão e no Brasil é o estilo de desenho. Enquanto os mangás japoneses têm um estilo distintivo, com olhos grandes e expressivos e traços precisos, os mangás brasileiros frequentemente adaptam esse estilo de acordo com as preferências locais. Isso pode fazer com que os personagens fiquem mais parecidos com pessoas ocidentais e tenham um estilo artístico especial. Um exemplo notável é a “Turma da Mônica Jovem”, que combina elementos do estilo mangá com a cultura brasileira.
Além disso, a impressão também desempenha um papel importante. Os mangás japoneses geralmente são lançados em revistas todas as semanas ou todos os meses, e depois eles são reunidos em livros com capa dura muito bem feitos. No Brasil, os mangás podem ser impressos em papel de qualidade variável, o que influencia a experiência de leitura. A cultura japonesa tem uma grande influência nos mangás brasileiros, afetando coisas como os assuntos que são abordados e a maneira como as histórias são contadas. A cultura japonesa é retratada e explorada de maneiras únicas, frequentemente misturando elementos do cotidiano brasileiro com os valores e tradições japonesas.
Os estilos de arte e temas únicos dos mangás foram tão populares que conquistaram fãs em todo o mundo, mesmo em diferentes culturas. Isso não apenas introduziu as pessoas à cultura japonesa, mas também criou um grande grupo de fãs global. Aliás, os mangás se tornaram um grande sucesso econômico e cultural, ajudando o Japão a ser reconhecido internacionalmente como um grande exportador de produtos culturais.
Movimentação econômica
Os mangás têm um impacto econômico significativo, tanto no Japão quanto em outros lugares. No Japão, a indústria de mangás é uma das maiores do mundo, gerando bilhões de dólares em receita todos os anos. A venda de mangás, produtos relacionados e adaptações para anime desempenha um papel fundamental na economia japonesa.
No Brasil, a popularidade dos mangás tem crescido muito nas últimas décadas, o que ajudou o mercado de livros a se expandir. As editoras brasileiras começaram a traduzir e publicar mangás, atingindo um público variado. Além disso, essa popularidade trouxe oportunidades de negócios, como a venda de produtos relacionados, como camisetas e bonecos, e a realização de eventos de cultura pop, que movimentam a economia local.
De acordo com informações divulgadas em março pela Associação de Editores e Editores de Revistas e Livros do Japão, as vendas totais de livros impressos, quadrinhos eletrônicos e revistas aumentaram um pouquinho em 2022, cerca de 0,2%. Isso equivale a aproximadamente 677 bilhões de ienes, que são cerca de 4,62 bilhões de euros ou 5,05 bilhões de dólares.
As vendas de mangás ultrapassam os 600 bilhões de ienes pela primeira vez em 2020, principalmente devido à popularidade da série “Demon Slayer”. Além disso, as vendas aumentaram porque as pessoas estavam lendo mais, especialmente quando as saídas estavam restritas durante a pandemia da covid-19. Embora as vendas de mangás impressos tenham permanecido relativamente estáveis, em torno de 250 bilhões de ienes no total, isso foi um pouco menos do que as vendas de 335,7 bilhões de ienes relatadas em 1995. No entanto, os mangás digitais, que você lê em smartphones ou outros dispositivos móveis, tiveram um aumento significativo. As vendas de mangás digitais aumentaram 8,9% em 2022.
One Piece
Vale ressaltar o sucesso de “One Piece”, uma série de mangá e anime criada por Eiichiro Oda que já dura há mais de 20 anos, com milhares de capítulos e episódios. É uma das séries mais longas e populares de todos os tempos, com fãs em todo o mundo. A história segue Monkey D. Luffy e sua equipe em busca do One Piece, um tesouro lendário de piratas. A narrativa é cheia de ação, reviravoltas e personagens adoráveis, e a cada novo arco, há novos desafios e mistérios para manter os leitores e espectadores entusiasmados.
O que é notável também é como os personagens crescem e mudam ao longo da série. Por exemplo, personagens como Luffy, Zoro e Nami têm motivações profundas e evoluem muito ao longo da história. Além disso, o mundo onde a história acontece é vasto e cheio de ilhas incríveis, criaturas marinhas gigantes e nações fascinantes. O anime também transmite mensagens importantes sobre temas como amizade, coragem, justiça e aventura. A saga nos ensina sobre perseverança, aceitação e a luta pelo que é certo.
“One Piece” é um ótimo exemplo de como uma história pode afetar a cultura de forma duradoura. Ela deixou sua marca tanto no Japão quanto em todo o mundo, influenciando muitas coisas, como brinquedos, filmes e até mesmo piadas que fazem referência à série. Um ponto legal é que a série tem muitos personagens diferentes, de diferentes lugares e com habilidades variadas. Isso é importante porque muitas histórias têm personagens parecidos, mas “One Piece” mostra que todos são importantes, não importa de onde venham.
Além disso, o anime não é apenas uma história legal, é também um grande sucesso financeiro. Isso significa que não só as pessoas gostam de ler e assistir, mas também compram produtos relacionados, o que ajuda a economia japonesa. Por último, é incrível como “One Piece” tem sido popular por tanto tempo. Isso mostra que é uma história muito boa e que as pessoas realmente gostam dela. Isso também é um elogio ao autor, Eiichiro Oda, e aos fãs que continuam gostando da série ao longo dos anos.
Relevância
Os mangás só têm a crescer. Quando vemos esse consumo no Brasil, fica claro como diferentes culturas podem se misturar e como as histórias visuais podem ser influentes em todo o mundo. Sendo assim, o dinheiro que as pessoas gastam em mangás e coisas relacionadas mostra que essas histórias são muito importantes para a indústria do entretenimento e para as pessoas que gostam. Entender como as culturas são diferentes e o investimento nos mangás nos dá uma visão melhor do que eles representam.