Mais equilibrado?
- 30 de outubro de 2019
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- Thamires Mattos
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Mesmo com cuidado nas apurações e uma maneira de escrever mais coerente em 2019, o G1 nem sempre acertou
Ana Clara Silveira
O grupo Globo foi fundado pelo jornalista Roberto Marinho. Criado no século XX, trilhou diversos momentos da história do Brasil. Em função disso, notam-se nuances em seus produtos como consequência de suas ideologias e idiossincrasias. Dentre suas inúmeras áreas de atuação, o G1 é o portal virtual de notícias da organização que viabiliza o acesso do público diariamente a conteúdos diversos.
Em seus princípios editoriais, o grupo Globo defende que “será sempre independente, apartidário, laico, e praticará um jornalismo que busque a isenção, a correção e a agilidade”. Isso sugere que não há qualquer ponto de tangência ou inclinação para opiniões particulares – exceto em espaços exclusivos para essa finalidade. Portanto, de acordo com eles, as informações que são levadas ao leitor, ouvinte ou telespectador devem ser plurilaterais.
No entanto, para alguns críticos, a Globo se comporta politicamente favorável à esquerda ou à direita. Para outros, se norteia apenas pelos próprios interesses e se posiciona de acordo com os benefícios que um lado ou outro poderiam ocasionar, ou seja, plena manutenção de interesses e privilégios em busca do lucro.
As notícias do G1 costumam agregar o contraditório – termo usado no jornalismo para o direito às falas de todos os lados de uma história –, porém, alguns fatos comprovam que há preconceito nos termos utilizados por certos redatores. Esses não são necessariamente orientados pela política da empresa, mas suas palavras são permitidas por ela.
Ao buscar especificamente as palavras “negro”, “branco”, “homossexual”, “hétero”, “religião”, não há evidências de que o veículo seja tendencioso. As publicações de outubro de 2019 utilizaram o termo “negro” apenas em situações em que a cor era relevante para a matéria. A maioria dos casos, na verdade, mostravam algum caso de racismo. Tal evidência se repete em matérias de anos anteriores, como 2014 e 2015.
O preconceito midiático envolve aspectos de gênero, religião, orientação sexual, raça e afins. No G1, notícias que envolvem feminicídios, por exemplo, não isentam o homem do crime ou o romantizam, de acordo com as últimas publicações.
Por outro lado, ainda que, aparentemente, o cuidado nas apurações e maneira de escrever sejam visíveis, o portal nem sempre acerta. Uma das maiores provas é uma matéria publicada em 2018 sobre tráfico de drogas. Nela, a suspeita do crime é descrita como “jovem, moradora de Florianópolis” que estava presa na Itália por haver transportado 3,2 kg de cocaína para o país. Além disso, a imagem da acusada parece selecionada de forma que o leitor esqueça o princípio da notícia, e, assim, visualize a ação dela como um delito de pequeno porte.
Em um caso semelhante de tráfico de drogas, a imagem do criminoso não é exposta. Pelo contrário, se evidencia a quantidade de drogas que ele tinha em seu domínio. O termo utilizado para descrevê-lo não é “jovem”, mas, “traficante”. A matéria não deixa claro qual a classe social, cor ou qualquer outra característica do homem. Por que há diferenças na forma de tratar crimes semelhantes?
Não há situações claras de que o G1 seja preconceituoso em suas abordagens. Parece ter, ao menos nas últimas publicações, equilíbrio. No entanto, não é possível dizer que não se encontram erros de preconceito midiático em seu portal. O ideal é que o jornalismo, em qualquer um dos seus formatos e veículos, busque informar sem tendenciosidade, para que o leitor seja capaz refletir e tirar suas conclusões.