KondZilla: o sinônimo do sucesso
- 23 de novembro de 2023
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- Theillyson Lima
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O império criado no YouTube através do funk.
Natália Goes
Nascido e criado na comunidade Vila Santo Antônio, no Guarujá, no litoral paulista, Konrad Dantas, o “KondZilla”, de 34 anos, fundou em 2012, o canal que hoje tem mais de 66 milhões de inscritos. Ele começou dirigindo videoclipes de artistas de funk, exaltando a ostentação, roupas, jóias, bebidas e carros de luxo.
Todos os seus vídeos possuem uma assinatura artística misturando as letras do seu primeiro nome( Konrad) com o GodZilla. Seu primeiro videoclipe publicado no Canal Kondzilla foi “É o Fluxo”, do Mc Nego Blue, em 2012. As produções foram aumentando e o canal começou a se destacar e se tornar o maior canal do YouTube no Brasil.
Apesar de ter fundado seu canal no YouTube em 2012, apenas em 2015 sua audiência explodiu com o lançamento do clipe “Baile de Favela”, do artista MC João. O clipe foi o primeiro a superar as 100 milhões de visualizações.
KondZilla: o sinônimo do sucesso
O sucesso do canal no YouTube se deu a obstinação de Kond, a sacada do público achando um nicho no funk, o uso da linguagem certa para os jovens da comunidade, a transformação do seu canal em referência do funk no Brasil e a transformação do seu nome em uma marca.
A linguagem certa em colocar a música, no caso o funk, como entretenimento para quem é da comunidade, fez o canal KondZilla ter o título de maior canal do YouTube no Brasil, na América Latina, o maior canal de Funk do mundo e o 4º maior canal de música do mundo, servindo como porta de entrada para novos artistas saídos da periferia.
KondZilla deixou apenas de ser um canal no YouTube para ser um “lifestyle”. Em 2017, Kond foi incluído na Forbes Brasil como um dos empresários mais influentes com menos de 30 anos. Atualmente ele está com uma produtora e uma gravadora, uma marca que vende bonés, camisetas, agasalhos, acessórios e etc. Além disso, uma produção de séries, filmes documentários, bem como um portal de notícias especializado em funk.
Em 2019, a KondZilla fez sucesso ao lançar a série Sintonia na Netflix, que foi disponível em 190 países. A série mostra a vida de três jovens de quebrada e a sua correria no dia a dia. A marca também criou o KondZilla Festival, como se fosse um Lollapalooza do funk, bem como o primeiro bloco de carnaval com atrações voltadas para o funk.
Recentemente, em 2021, a marca cresceu ainda mais tornando-se um programa de TV aberta. O programa é protagonizado por mulheres, com o nome de Hervolution, contendo uma programação semanal na Redetv. Além disso, o sucesso da marca também está associado ao podcast com o nome ParçasZilla que vai ao ar semanalmente.
Funcionamento do canal
Em abril de 2017, quando o canal estava bombando, 35 pessoas trabalhavam no canal. Uma equipe considerada grande em relação a outros canais de YouTube, porém, não para as produções que o canal do Konrad produzia e produz. Os clipes eram produzidos, em sua maioria, em uma casa na Zona Leste de São Paulo e com pelo menos um clipe lançado por dia batendo 1 milhão de views em 24 horas.
Na época, empresa que tinha virado a maior produtora de vídeos de funk, também tinha se tornado vitrine do estilo. Ou seja, qualquer artista lançado pela KondZilla era sinal de sucesso. O canal se transformou em agência, negociando shows e gravações dos artistas como, MC Guimê, Bin Laden, Tati Zaqui e outros.
São mais de 66 milhões de inscritos, mais de 34 bilhões de visualizações e mais de 1.800 videoclipes lançados. Os maiores sucessos brasileiros que alcançaram 1 bilhão de views no YouTube foram: Olha a Explosão, do Kevinho e Bum Bum Tam Tam do MC Fioti.
Boa parte do sucesso do Canal KondZilla se deu a estética que Konrad criou para os vídeos, que possuem cores contrastadas, muito brilho, corpos torneados, dança e todo tipo de ostentação material, o que chama a atenção do público da periferia. É notável que o crescimento da KondZilla diversificou o mercado e abriu para outras pessoas produzirem, como sua principal rival a GR6, o Doug, Lifestyle ON e outros.
Em uma entrevista para o G1, Konrad falou que não tinha ideia do quanto faturava por mês com os vídeos no seu canal no YouTube, pois trabalhava por amor e se soubesse e tivesse focado no dinheiro não estaria trabalhando por amor e realizando o sonho dele e de outros que acreditam no trabalho dele.
O fim do sucesso?
Quem acompanha o Canal KondZilla no YouTube desde o começo, percebe que mudanças estão acontecendo. Uma das mudanças que levou os vídeos para o grande público foi o lançamento de versões de músicas mais “leves”, substituindo os palavrões.
Hoje com cerca de 60 colaboradores em torno da marca KondZilla, o canal sofre uma queda de acesso por conta da mudança na linguagem. O que era feito em 2017, foi mudado a partir de 2019. As novas regras banem dos clipes da KondZilla armas, drogas, objetificação da mulher, violência e palavras de baixo calão.
Apesar das visualizações caírem, o filtro abriu portas para a KondZilla tornar-se comercial. Marcas como Tic Tac passaram a invadir os clipes do canal. Porém, isso não agrada ao que a rua pede, pois o funk tem raízes na favela e lá a linguagem não segue filtros.
Outro dilema enfrentado é que por ser uma fábrica e vitrine de clipes; e com o crescimento do canal, muitos aspirantes ao sucesso de qualidade duvidosa procuram a produtora que ganha dinheiro fazendo vídeos por encomenda. O resultado é uma “poluição” de clipes de pessoas que investiram, mas que não agrada ao público.
Para isso Konrad já planeja um novo canal extra de videoclipes para jovens iniciantes da favela. A queda de audiência nos clipes não desanimou, apenas impulsionou a Konrad a ter novas ideias. Com novas opções de modelos de negócios e conteúdo, será que vem um novo canal no YouTube por aí?