Kamala Harris: o plano B
- 4 de setembro de 2024
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- Theillyson Lima
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Um currículo que se resume no fato de ser mulher e negra.
Herdeira política de Biden, primeira mulher negra a ser vice-presidente, socialista e radical. Essas são apenas algumas das características atribuídas pela mídia à Kamala Harris, que participa da corrida eleitoral para a presidência dos Estados Unidos.
Para compreender a interpretação do olhar midiático sobre Kamala Harris, produtos de alguns portais de notícias foram utilizados. Dentre eles estão: The Economist, The New York Times, BBC, CNN, Estadão e Folha de São Paulo.
Trajetória de Kamala Harris
Nascida em 1964 na Califórnia, filha de uma médica e pesquisadora indiana com um professor jamaicano de Stanford, Kamala graduou-se em Economia e Ciências Políticas em 1986, e no ano de 1989, se formou em Direito. Em 1990 iniciou sua carreira como procuradora-geral adjunta do Condado de Alameda onde permaneceu até 1998.
Em 2003, tornou-se procuradora-geral de São Francisco, cargo que ocupou durante dois mandatos, depois venceu as eleições por duas vezes consecutivas para exercer a mesma função no estado da Califórnia. No ano de 2016, foi eleita senadora e em 2020 vice-presidente dos Estados Unidos ao lado de Joe Biden.
Candidata irrelevante
A mulher sempre foi vista como secundária dentro do contexto político, prova disso é que a primeira mulher candidata à presidência dos EUA por um grande e relevante partido foi Hillary Clinton no ano de 2016. E é claro que, a despeito de Kamala Harris esse olhar secundário não seria diferente, os veículos de comunicação por diversas vezes a retratam como um plano B. Exemplo disso foi que o The Economist publicou há alguns dias que ela só está no páreo eleitoral porque não é idosa e rabugenta como Biden ou agressiva como Trump. Ou seja, a candidata não é definida por suas competências e habilidades, e sim por aquilo que ela não é.
A CNN e a BBC enfatizam bastante o fato de Kamala ser mulher e negra, como se esses dois fatores fossem as duas questões mais relevantes sobre a sua candidatura. Afirmações como essas, apenas reproduzem um estereótipo e mais uma vez reforçam que de alguma forma suas competências e habilidades pouco interessam.
A Folha de São Paulo publicou recentemente 23 curiosidades a respeito da mandatária e entre elas, destacaram: ela ama Doritos, seus pares de sapatos preferidos são da marca All Star, se eleita será um dos governantes mais baixos que o país já teve, reprovada em seu primeiro exame da ordem, sabe como servir batata frita e operar máquina de sorvete, gosta de cozinhar e ler receitas. Outro padrão que se destaca é a associação da imagem dela como mulher à cozinha e ao fato de gostar de sapatos. Em mais uma oportunidade, a economista, cientista política e a advogada Kamala Harris é simplesmente irrelevante e praticamente inexistente.
Não ser reconhecida por suas formações e por sua atuação eficiente como procuradora e ser lembrada por um prisma de estereótipos é a prova de que o preconceito ao invés de ser combatido pela mídia, é fortalecido e ainda ampliado por ela.