Jogo vs vida real
- 29 de março de 2021
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BBB é um jogo, mas também é vida real. Agora, o que acontece quando um “cancelado” sai do programa?
Matheus Figueiredo Marques
Existe um filme chamado “O Show de Truman”, cujo personagem principal é interpretado por Jim Carrey. O protagonista Truman tem a vida toda gravada e acompanhada por milhares de pessoas ao redor do mundo. É, literalmente, um reality show. Suas conquistas, medos, inseguranças, tristezas e tudo mais é exibido 24 horas por dia, para quem quiser assistir e comentar.
Na vida real, nunca existiu um programa tão invasivo assim, certo? Mais ou menos. No Brasil, no início do ano, desde 2001, é exibido o Big Brother Brasil (BBB). Funciona assim, são 20 participantes, divididos em: pipoca e camarote. Os participantes do grupo “pipoca” são pessoas “anônimas” que não eram famosas e fizeram sua inscrição online; os participantes do grupo “camarote” são famosos que foram convidados pela produção do programa. Eles são colocados em uma casa, durante três meses, sem internet, sem nenhum contato com o mundo exterior, podendo apenas interagirem entre si. Toda semana existe uma votação para indicar pessoas para a eliminação, é o chamado “paredão” Mas quem elimina? O público! As pessoas podem ver o que acontece na casa 24h por dia e, toda terça-feira, podem votar no site em quem eles acham que deve sair. Toda essa abstenção e dedicação dos participantes, não é feita à toa, o vencedor leva pra casa um prêmio no valor de R$1,5 milhão.
Com isso, as redes sociais acabam virando um campo de guerra para torcedores do reality. Os fãs saem em defesa de seus protegidos, discutem, brigam, expõem erros dos rivais, falam como se alguns nunca errassem e…cancelam, cancelam muito. Esperam chegar o paredão do “vilão” e o colocam em uma cruz, expõem tudo de errado que a pessoa fez e a tratam como se não fosse digna de perdão e empatia. Mas o que acontece quando o jogo acaba? Essa perseguição continua?
O que vem depois…
O BBB é um jogo complicado. A pessoa que entra não é julgada por erros em alguma atividade ou pelas provas que deixou de ganhar, mas por quem ela é. Julgam suas qualidades, defeitos, fraquezas, inseguranças, coisas que não temos como mudar de um dia para o outro ou até mesmo dentro de um programa de TV. São características que levam tempo para serem trabalhadas.
É claro! O participante se propôs a isso e deve ser eliminado quando o público achar certo, mas quando acaba, o que sobra é a pessoa. O jogo fica para trás, ela pode rever a família, os amigos, trabalhar, encarar mais profundamente seus monstros internos e evoluir. Isso é “ser” humano. O BBB, o reality show, ficaram para trás, o que sobra vai além do dinheiro do programa.
Calma, empatia e saber reconhecer quando foi longe demais, são atitudes essenciais para quem quer assistir a programas assim. Não é necessário concordar com tudo que um participante faz ou passar pano para todas as atitudes, mas quando chegar no final, é bom lembrar que tudo não passa de um jogo e que a vida vai muito além das paredes do Projac. Cancelar ou santificar um participante mostra que não aprendem nada com o jogo.