Indústria midiática da China: um fantasma em ascensão
- 20 de setembro de 2023
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- Theillyson Lima
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O maior país do mundo é líder nas bilheterias de cinema, mas tem influência discreta no Brasil.
Gabrielle Ramos Venceslau
Com a globalização é esperado que o Brasil receba influência cultural de diversos países. Essa é uma ideia conhecida como “soft power”, aquela estratégia que Hollywood criou para propagar o estilo de vida americano, por exemplo. Em outras palavras, é quando um país conquista corações e mentes das pessoas além das suas fronteiras.
Alguns países têm dominado essa influência sob os outros. Dos Estados Unidos já estamos acostumados, mas atualmente os países asiáticos vem se destacando cada vez mais por disseminar a sua cultura. Dentre eles, os principais são o Japão e a Coreia do Sul.
No Brasil, o termo “Otaku” tem se popularizado para fãs de mangás e animes. Isso porque essas produções se encontram cada vez mais comuns para venda, na internet ou plataformas de streaming. Há até mesmo casos nos quais as histórias de mangás são adaptadas para animes. Isso também disseminou o “cosplay”, que é uma fantasia que interpreta os personagens marcantes dessas produções.
Outra influência é a coreana, que não se limita apenas às produções audiovisuais, mas também à moda, estética e música. Os coreanos alavancaram uma forte cultura no brasil com o estilo musical K-pop, com as séries conhecidas como k-dramas e com a divulgação de seus métodos estéticos.
Mas em meio a tantos conteúdos japoneses e sul coreanos, onde está o gigante chinês? O maior país do mundo, com 1,412 bilhão de pessoas, não exerce tanta influência no Brasil em relação aos outros asiáticos. Por que isso acontece?
Hollywood não é importante para eles
Se você não acompanhou todos os lançamentos da Marvel, não se preocupe. Você não foi o único! No seu caso, talvez tenha sido por opção. Já os chineses, por determinação das autoridades. Neste país, é muito comum a censura a conteúdos que não estejam de acordo com a filosofia do governo.
Esse contexto se intensificou com a pandemia, pois o governo que precisava controlar a abertura e capacidade das salas de cinema também passou a limitar o que seria exibido nesses locais. Assim, o governo chinês destinou os melhores horários e dias para filmes nacionais que passavam uma forte mensagem política.
Após a pandemia, a China praticamente recuperou seu mercado audiovisual. Entre 2017 e 2019, as bilheterias renderam US$ 9 bilhões na China. Já em 2021, renderam US$ 7 bilhões. Neste mesmo ano, a quantidade de filmes americanos exibidos no país caiu 39% em relação a 2020.
Não falta investimento em produções
A China é um país que investe muito em sua indústria cinematográfica. Em 2017, o país arrecadou US$8,4 bilhões em bilheteria, um crescimento médio anual de 23,6% desde 2014. No mesmo ano, a indústria de rádio e televisão contribuiu com mais US$90 bilhões para o PIB da China, segundo um relatório oficial divulgado pela Administração Nacional de Rádio e Televisão (NRTA).
Por dois anos consecutivos, 2020 e 2021, a China ultrapassou os Estados Unidos em relação a arrecadação de ingressos de cinema. Em 2020, o filme chinês “The Eight Hundred” foi a maior bilheteria do ano no mundo. Então, você pode pensar: um filme chinês conquistou o público de diversos países, mas é aí que você se engana. O épico de guerra ficou conhecido praticamente no território chinês. Mas por que isso acontece?
A China e o fechamento global
Na China, não somente o conteúdo estrangeiro sofre com a censura, mas também o conteúdo nacional. O governo chinês controla as produtoras e distribuidoras audiovisuais ao exigir licenças para as suas atividades. Ou seja, autorizações são necessárias antes e depois de qualquer produção. Isso se aplica até mesmo para conteúdos que serão divulgados na internet.
Mesmo com a dificuldade da fiscalização desses conteúdos por causa do rápido avanço das plataformas de streaming, os estúdios se submetem a políticas autoritárias e centralizadoras do governo para garantir que suas produções entrem em cartaz. Isso ocasiona, cada vez mais, a divulgação de filmes com visões favoráveis ao regime do governo.
Em 2017, a indústria cinematográfica chinesa produziu 970 filmes, os quais foram responsáveis por 82% dos lançamentos no país e 58% de toda a receita da bilheteria chinesa. Dessa forma, apenas 18% de conteúdos estrangeiros entraram nos cinemas durante a época.
Mercado audiovisual focado neles mesmos
Produções audiovisuais chinesas são focadas neles mesmos, não havendo uma real preocupação para disseminação desse conteúdo para outros países. Afinal, as temáticas são focadas na propaganda positiva do governo.
Isso causa um certo isolamento em relação a divulgação das produções chinesas, pois as poucas exportações que ainda acontecem, em sua maioria, são de filmes e programas de TV para outros territórios com falantes de mandarim, como Taiwan e Hong Kong.
É por isso que, em comparação ao Japão e à Coreia do Sul, o gigante chinês não faz tanto sucesso por aqui. Apesar disso, as coproduções da China com outros países são mais prováveis de se tornarem populares mundo afora. Exemplo disso são os filmes de ação, como Karatê Kid.
Além disso, com a popularização da cultura do anime e k-drama, algumas produções também têm ganhado espaço nos streamings. Contudo, estão presentes em menor quantidade em relação aos japoneses e coreanos. Por isso, a maioria dos fãs desses conteúdos chineses acabam consumindo em sites piratas, que possuem traduções e legendas feitas por comunidades de fãs.
Conheça algumas produções chinesas
- Well-Intended Love (2020)
Xia Lin é uma atriz de pouco sucesso que precisa de um doador de medula óssea para continuar sua carreira. Ela conhece o CEO de uma grande empresa que passa a ser sua maior esperança. Ao longo da história, os dois encontram o amor verdadeiro.
- Jardim de Meteoros (2018)
É um remake do dorama Taiwanês de mesmo nome e o mangá japonês “Boys Over Flowers”. A história conta a vida escolar de Dong Shancai e seus conflitos com os garotos mais populares do colégio. O drama colegial retrata a diferença financeira e de personalidade entre o personagem principal e este grupo.
Disponível em: Netflix
- A caminho da Lua (2020)
É uma animação da Netflix co-produzida com o chinês Pearl Studio. O filme narra a história de uma garota que constrói uma nave espacial e embarca para a lua a fim de provar ao seu pai a existência de uma deusa mística.
Disponível em: Netflix
- O Tigre e o Dragão (2000)
Uma jovem guerreira chinesa, durante a dinastia Qing, rouba a espada de um famoso espadachim. Ela vive aventuras e um romance com um homem misterioso. O filme venceu quatro categorias do Oscar.
Disponível em: Google Play Movie, Apple TV, Amazon Prime Video e YouTube para locação.
- Big Fish & Begonia (2016)
Uma garota de um reino mágico se transforma em um golfinho a fim de explorar o mundo dos seres humanos. No enredo, ela conhece um jovem e embarca em uma missão que ameaça os dois universos.
Disponível em: Netflix