Humor gospel – o lado santo da risada
- 10 de novembro de 2021
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Dominado por comediantes seculares, grupos se dedicam à comédia gospel com censura livre
Franciele Borges
A internet tem achado graça do humor evangélico por meio de grupos que se dedicam a produzir conteúdo com censura livre. O fato das paródias, stand ups, e piadas não terem conteúdo pejorativo e malicioso atrai grupos de religiosos tradicionalistas que não apreciam a reverência de um assunto espiritual misturado com o sarcasmo e humor.
É justamente isso que alguns membros de denominações diferentes têm feito para expor suas crenças de forma leve e, em alguns momentos, com tom de crítica sobre os erros cometidos pelas igrejas. Seja em forma de vídeo pelo YouTube, stand up, participação em rádio ou TV, os humoristas gospel apresentam de forma descontraída o que acontece dentro da sua crença.
Dessa maneira, é perceptível a visão de quem está dentro de uma igreja e de quem está fora mantendo críticas evasivas apenas por não gostar de ser religioso. A maioria das comédias incorporam alguma imagem de religiosidade como deboche; já os próprios evangélicos satirizam tanto o que há de bom e de ruim.
Mas não é porque existe humor gospel que qualquer comédia será aceita pela comunidade evangélica. Em 2019 o Porta dos Fundos fez um especial de Natal em que Jesus Cristo, figura principal no cristianismo, mantinha um relacionamento homoafetivo. O programa foi distribuído pela Netflix. Inúmeros cristãos ofenderam-se com a repercussão e profanação da imagem de um Cristo gay e pediram a retirada, bem como incentivaram as pessoas a não assistirem ao especial. Embora a intenção fosse que o programa perdesse audiência, o ataque à produtora do Portas dos Fundos e a repercussão negativa, fizeram a edição de Natal ser a mais assistida na época.
Fazendo piada de si mesmo
Jonathan Nemer, cristão e comediante, decidiu largar a profissão de advogado para se dedicar exclusivamente ao humor em apresentações de stand up. Sentindo que tinha o dom de fazer as pessoas rirem, ele que é membro da Igreja Evangélica Ágape, e mais o seu amigo Thiago Baldo, católico, resolveram criar o canal Desconfinados no YouTube para suprir uma lacuna do humor convencional que afasta o público religioso.
O objetivo do comediante é mostrar o que acontece dentro das igrejas de forma que não ofenda cada denominação. Dentro do humor, há críticas que mostram a realidade que muitos não conhecem. Há três anos ele fez um vídeo em que aparecia em uma sala com seu pastor conversando sobre o seu rebatismo. Entendia que tinha pecados que o afastaram de Deus e por isso queria renovar sua vida espiritual. O pastor concorda rebatizá-lo, porém, ele não consegue largar suas práticas pecaminosas e rebatiza várias outras vezes. A cena retrata os adventistas, que mantêm esse costume como algo normal.
Jonathan ironiza os hábitos de demais denominações, como Testemunhas de Jeová, católicos se confessando e práticas que não deveriam existir entre os cristãos, como a fofoca, adultério, roubo de dízimo e afins.
“Nossos esquetes não têm palavrão nem apelo sexual, são censura livre. Esse é o nosso único compromisso com a religião”, diz Nemer, que garante não ter grandes tabus na hora de escolher a temática dos vídeos. “Falamos dos erros da religião, de igrejas. Queremos levar as pessoas a refletir. Nossa ideia não é fazer evangelismo, é abrir os olhos dos cristãos. Por isso o nome, queremos tirar as pessoas de confinamentos mentais”, conta.
O jeito fácil de rir sem o constrangimento de uma piada mal colocada em questões delicadas favorece o mundo gospel crescer na audiência, porém, continua sendo um dos menos assistidos em comparação às demais produções seculares. Fica a critério do evangélico aceitar o nível de humor que deseja assistir. Assim como Jonathan Nemer, outros crentes têm entrado para o espaço de piadas e risadas gospel como o Paxtorzão, Fabíola Melo e tantos outros.