Hospitalidade francesa
- 27 de outubro de 2015
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- Thamires Mattos
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A França colonizou parte da África, sobretudo a Argélia. São, aproximadamente, cinco milhões de muçulmanos vivendo em território franco e a maioria vive nas periferias. Além disto, as políticas impostas a eles são aversivas.
Daniela Fernandes
Há séculos atrás, os europeus fugiram de seus países em busca de novos locais onde pudessem recomeçar suas vidas, já que suas respectivas regiões estavam devastadas pela fome, guerra, intolerância religiosa, entre outras crises. Nos dias atuais, o continente europeu continua a conviver apenas com a emigração, mas também e, principalmente, com a imigração. Contudo, segundo o jornal Le Monde Afrique , o anfitrião não tem cumprido um papel hospitaleiro para com os refugiados. Em especial, os franceses que a cada dia que passa se mostram demasiadamente xenófobos.
A França, historicamente, foi uma potência que colonizou parte da África, sobretudo a Argélia. São, aproximadamente, cinco milhões de muçulmanos vivendo em território franco, dos quais a grande maioria vive na periferia do país. O número é expressivo e as políticas impostas a eles são aversivas. Por exemplo, desde 2010, é proibido o uso da burca. O então presidente, na época, – Nicolas Sarkozy– afirmou que o traje não era bem-vindo na França. Uma polêmica nacional em torno de apenas 1.500 pessoas que utilizavam a veste. Além disso, anos antes, em 2004, o governo proibiu o uso do véu islâmico e de outros símbolos religiosos em escolas públicas. Medidas como essas reforçaram o espírito xenófobo dos franceses e inflaram a opinião pública.
Outro exemplo preconceituoso e que foi a gota d’água no dia 7 de janeiro de 2015 ocorreu na redação da revista Charlie Hedbo , impresso que passou dos limites, segundo os radicais, ao ridicularizar a religião islâmica. As publicações tinham cunho preconceituoso, porém é preciso pensar na censura como algo injustificável. Do mesmo modo, as ofensas religiosas justificadas pela liberdade de expressão e democracia não são válidas. Assim, para tudo deve haver bom senso e equilíbrio. Lembrando que essa não é uma questão francesa, nem europeia, mas sim mundial. Então, basta entender como isso tudo é canalizado para se perceber as diferenças entre as nações.
Na França, o desemprego é grande e a maioria dos desempregados são muçulmanos, logo a concorrência cresce. Dessa forma, o preconceito pode estar ligado a questão econômica e não apenas religiosa, pois não há dados que corroborem que os imigrantes islâmicos são adeptos a violência. Contudo, nesse caso francês, há um ingresso de pessoas ligadas a grupos que têm ações e treinos terroristas atuantes no Oriente Médio. Assim, é preciso integrar os jovens imigrantes, pois eles são os alvos mais fáceis de grupos terroristas, ou seja, a ausência da integração não passa de um “tiro no próprio pé” dos franco-governantes.
O que chama a atenção por ser contraditório é como a mídia francesa aborda o assunto xenofobia. Na matéria intitulada “Un agent immobilier condamné pour discrimination” (‘Agente imobiliário é condenado por discriminação’), publicada no Le Monde , expõe um problema enfrentado por uma mulher cujo nome tem sonoridade estrangeira e não nativa (francesa). Devido a característica de seu nome, ela não pode alugar um imóvel, já que houve hesitação do corretor de imóveis. Após relatar o fato, o texto continua e se posiciona contra o acontecimento mostrando a necessidade de uma denúncia. Também afirma que “este trabalho mostra que ainda é urgente agir contra a discriminação seja na área de moradia, lazer ou emprego”.
Na teoria midiática alguns veículos franceses condenam quaisquer tipos de discriminação, entretanto, na prática, o que se percebe é o crescimento do sentimento xenófobo, exemplificado por depoimentos como o dado pelo senador republicano Rand Paul. “Eu acho que você também tem que garantir o seu país. Isso significa, talvez, que cada imigrante muçulmano que quer vir para a França não deve ter uma porta aberta para vir”, disse ele no programa de rádio de Sean Hannity, referindo-se a radicalização islâmica na Europa.
A situação da xenofobia francesa tende a se agravar devido ao crescente apoio aos partidos de direita e extrema-direita, fato que é visto como empecilho para aqueles que almejam a democracia e a integração dos imigrantes. A solução não deve ser tomada por vias violentas, pois estas já se provaram historicamente ineficientes. Assim, vias alternativas precisam ser colocadas em prática.