
Heróis não precisam salvar todo mundo
- 16 de outubro de 2025
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- Theillyson Lima
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A linha cronológica dos heróis da Marvel conta com uma sequência de 38 obras incluindo filmes e séries com cinco fases diferentes até o momento.
Késia Grigoletto
Quando eu tinha dez ou doze anos de idade, meu pai chegou em casa com dois box de seis filmes. Uma dessas tramas tornou-se uma das minhas preferidas até hoje, a trajetória do famoso lutador de boxe, Rocky Balboa. O outro box, tinha a imagem do meu ator de cinema preferido – Christopher Reeve, que voava pelo céu de forma muito natural, vestido de capa vermelha e macacão azul. O nome “Superman” era o título que estampava a capa.
Lembro da compaixão que senti ao ver o pequeno Kaleo, que viria a ser o Superman, quando separado de sua mãe, retirado de Krypton, seu planeta natal. Com o decorrer do filme fiquei ansiosa pelo momento em que Clark Kent (o nome que Kaleo recebeu na terra) se tornaria o Superman para salvar o mundo da fúria de Lex Luthor, que na época fora interpretado pelo gigante Gene Hackman. Ao final do primeiro filme, lembro-me de ter apenas o seguinte pensamento: “se eu fosse a Lois Lane, me casaria com o Superman”. No último filme da sequência, a única certeza que eu tinha, era que eu queria muito estar no lugar de Lois ou ser ela.
De lá para cá, o cinema mudou e o mundo dos super-heróis também. Uma das questões é que não se fazem mais heróis como antigamente. Uma atuação tão magnífica, pontual e assertiva como a de Christopher Reeve só houve uma: a dele próprio. Era impossível não se apaixonar por aquela figura imponente, forte, altiva, que estava realmente disposta a salvar o mundo e que além de ter uma beleza física estonteante, olhava para o próximo de forma caridosa.
Um universo que não pertence a todos
O conteúdo heróico não é feito para todos os públicos. A jornada do herói está constantemente sendo repetida em contextos diferentes. Para a grande maioria das pessoas que não são consumidoras assíduas do nicho, isso se torna chato e redundante. Nem todo mundo nasceu para gostar de algo tão específico, principalmente quando se trata de uma ficção tão ficcional.
Quando um carro gira três vezes no ar, em um filme como Velozes e Furiosos, apesar de ser totalmente irreal, é algo mais aceitável e compreensível que um “ser humano” que voa e possui visão de raio laser. Ou seja, para assistir filmes do gênero, a pessoa precisa realmente gostar e achar que há um espaço significativo na vida para a quimera.
Além de uma jornada repetitiva e da irrealidade presente, a suspensão da descrença é muito relevante no fato de nem todas as pessoas gostarem de heróis. Esse conceito, atribuído ao filósofo Samuel Taylor Coleridge, em 1817, consiste de maneira bem simplificada, dentro do contexto cinematográfico, no fato dos filmes frequentemente solicitarem do público a suspensão da descrença, ao aceitar elementos fantásticos na narrativa ou por exemplo, um vilão tornar-se herói.
Ainda no tocante a suspensão da descrença, ao assistir um filme o desejo para que o bem triunfe é predominante, a vida real já é suficientemente injusta, para que na ficção vilões como Loki e Cruella sejam retratados como bons. Há uma questão intrínseca à moralidade nesse aspecto, que é difícil suspender, pois há o envolvimento até de um debate do que é belo, justo e moral, ou seja, um dos maiores dilemas da vida humana pode ser encontrado nessa simples questão. Na grande maioria das vezes desejamos que o amor seja concretizado e que a justiça seja feita na sua forma mais concisa.
Nem tão perfeitos assim
Entre os últimos pontos, está a beleza dos heróis. Ao assistir um filme de super herói a beleza é esperada desde o aspecto físico até o aspecto moral, no entanto, isso é cada vez mais dispensável. O Deadpool é um perfeito exemplo disso. Como herói, além de ser totalmente isento de beleza física, é mal educado e totalmente desprovido de virtudes.
Por último, mas, não menos importante: o mundo heroico não é para todos, pois, para entender um único filme é necessário assistir diversos outros. Por exemplo, para entender o filme “Deadpool x Wolverine”, é necessário assistir antes os seguintes filmes: X- Men (2000); X- Men 2 (2003); X- Men: O confronto final (2006); X- Men Origens: Wolverine (2009); X- Men: Primeira classe (2011); X- Men: Dias de um futuro esquecido (2014); Deadpool 1 (2016); Deadpool 2 (2018); Logan (2017); Vingadores: Guerra infinita (2018); Vingadores: Ultimato (2019); e a série Loki. Para a maioria das pessoas é inconcebível assistir a mais de dez filmes para entender uma única história.
Heróis não são feitos para agradar o público em sua totalidade e empresas como Marvel e DC de uns anos para cá provam isso a cada novo filme que é lançado.