The Guardian: Jornal de opinião formada
- 30 de setembro de 2019
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- Thamires Mattos
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Ao contrário de jornais que começaram a falar sobre a Amazônia apenas quando os índices de queimadas subiram, o jornal inglês já falava sobre o assunto anos antes
Ana Caroline Gonçalves
Não é novidade para ninguém que o jornal britânico “The Guardian” é declaradamente de esquerda. Durante a temporada de queimadas deste ano, que voltou os olhos do mundo para a Amazônia, o britânico fez uma cobertura completa, mas com claras tendências políticas. Ao contrário de jornais que começaram a falar sobre a Amazônia apenas quando os índices de queimadas subiram, “The Guardian” já falava sobre o assunto anos antes.
Para podermos falar sobre o posicionamento do “The Guardian” referente às queimadas de agosto deste ano, é preciso contextualizá-lo em relação ao mesmo tema durante os últimos anos. Em 2012, a ênfase do Guardian estava voltada para o desmatamento e em como o Brasil agia para diminuí-lo. Nos anos que se seguiram, 2013 e 2014, poucas matérias tinham o foco em queimadas.
Em outubro de 2014, o Guardian publicou matérias relacionadas ao grande aumento do desmatamento na Amazônia em relação ao ano anterior. Menos de um mês depois, o jornal entra em controvérsia sobre o assunto, pois publicou outra reportagem, dizendo que o número do desmatamento havia diminuído em relação ao mesmo período de 2013.
Durante o final de 2014 e boa parte de 2015, o assunto foi silenciado. Todavia, foi em outubro de 2015 que o Guardian começou suas primeiras publicações sobre as queimadas na Amazônia e suas relações com o lobby agrícola.
Durante o período das eleições presidenciais no Brasil, em 2018, o jornal não mediu esforços para apontar o quanto o então candidato Jair Bolsonaro representava um risco para a Floresta Tropical. Ao combater o representante da Direita Conservadora, vê-se uma linha editorial de Esquerda no periódico, que, como mencionado, é constante.
Após a vitória de Bolsonaro, o Guardian logo publicou uma matéria sobre os índices de desmatamento na floresta tropical. Eles eram, até então, os piores dos últimos 10 anos. A reportagem enfatizou a probabilidade de piora após a entrada do ex-deputado federal na Presidência da República. Já no início deste ano, o jornal se dedicou fortemente a acompanhar a crise na Amazônia, e, sempre que possível, demonstrar sua oposição a Bolsonaro.
Em julho, em parceria com Repórter Brasil e a Bureau of Investigative Journalism, o jornal publicou uma grande reportagem que mostrava detalhadamente o agronegócio na Amazônia. No mesmo mês, o jornal assume uma posição declarada sobre as queimadas na Amazônia, e todas as matérias, desde então, envolvem o nome do presidente.
Em agosto, The Guardian publica a sua visão sobre Bolsonaro, e declara que ele é realmente o culpado pelos incêndios na Amazônia. Durante este período, o Guardian mostra também a mobilização dos países europeus em resolver a crise na floresta brasileira. O jornal também aponta que, apesar de parecer sob controle, a crise na Amazônia ainda deve piorar. E, mesmo após uma trégua na cobertura dos incêndios em setembro por parte da mídia internacional, o periódico inglês fez um levantamento sobre as áreas que são desmatadas todos os anos.
Ao contrário dos jornais tradicionais brasileiros, que têm, claramente, a sua linha política, mas não a assumem, o Guardian é assumidamente de Esquerda. Faz um acompanhamento detalhado sobre o caso da Amazônia há anos. Entretanto, ao contrário dos outros anos, em que poucas vezes se referia aos presidentes brasileiros, passou a se preocupar mais com Bolsonaro do que com as queimadas na Amazônia em 2019.