A festa dos penetras
- 26 de abril de 2017
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- Thamires Mattos
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A quantidade de pessoas que o seguem e fazem o mesmo com Trump aponta uma fissura no caráter da humanidade e alimenta um monstro chamado fundamentalismo. Todo extremo é tolo, além de egoísta
Emanuely Miranda
Como penetra de festa, ele chegou. Aquele não era o seu lugar e isso parecia óbvio demais para todos que o observavam. No entanto, ao invés de se sentir deslocado, assumiu a postura de protagonista das festividades. Chamou a atenção para si e se comportou como o tio bêbado que sempre estraga a serenidade das confraternizações familiares. Sem pudor, vomitou impropérios. Apesar de seu comportamento vexatório, foi aplaudido e convidado para o evento seguinte. O homem que outrora era penetra, ascendeu à ala vip e se tornou o rei do camarote.
Essa ascensão só foi possível porque os demais que estavam na festa lhe renderam aplausos a despeito de suas sandices inconvenientes. Os convidados são culpados pelo sucesso do penetra. Vamos dar nomes aos bois: todo ouvido globalizado já escutou sobre a festa mencionada que, na verdade, costuma ser mais conhecida como Eleições Presidenciais dos Estados Unidos. Os convidados são os eleitores e, nesse ano, eles escolheram o penetra estapafúrdio como próximo presidente do país.
A figura alaranjada, fruto de um possível bronzeamento artificial pago por sua fortuna oriunda de atividades empresariais, surgiu feito piada incoerente diante do cenário de seriedade frequentemente atribuído às eleições. Não dava para levá-lo a sério. Aquele não era o seu lugar e isso parecia óbvio demais para todos que o observavam. No entanto, ao invés de se sentir deslocado como deveria, assumiu a postura de protagonista das campanhas presidenciais. Chamou a atenção para si. Apesar de seu comportamento vexatório, foi eleito. O homem que outrora era piada, tornou-se risco e, por fim, virou realidade.
Essa ascensão só foi possível porque os eleitores lhe renderam votos a despeito de suas inconveniências. Os americanos são culpados pelo sucesso de Donald Trump. Não me surpreende o fato de haver uma criatura tão caricata quanto ele, só não compreendo o motivo pelo qual muitas pessoas o apoiam. Se o apoiam, certamente se identificam com seus pensamentos e gostam de suas propostas. Tem muita gente parecida com Trump. Há uma classe ególotra que se faz oculta e espera o surgimento de uma personalidade messiânica (ao avesso) para construir muros e perpetuar seus interesses. A força dessa classe assusta. A vitória de Trump é um termômetro que nos permite a constatação do diagnóstico de um ranço machista, homofóbico e xenófobico presente na sociedade. Entretanto, os americanos não detêm o monopólio desta mazela. Os brasileiros padecem do mesmo mal.
A terra do Tio Sam sempre se vangloria por sua suposta sapiência e desenvolvimento, mas se iguala aos povos latinos que lhe avizinham na hora de fazer escolhas políticas. Por aqui, o movimento Bolsomito cresce e assusta. Bolsonaro está para os brasileiros assim como Trump está para os estadunidenses. O deputado federal, Jair Bolsonaro, está em sua sétima legislatura na Câmara mesmo colecionando declarações e atitudes polêmicas que incitam a violência.
Por exemplo, em discussão com manifestantes, afirmou que o erro da ditadura fora torturar e não matar. Outra vez, em entrevista, admitiu que não seria capaz de amar um filho homossexual e até preferia vê-lo morto. “Não te estupro porque você não merece”, disse para a deputada federal Maria do Rosário. Esses são apenas três exemplos de absurdos proferidos por um político endeusado que arrasta devotos. Seus seguidores desejam colocá-lo no Planalto. A possibilidade de vê-lo sob o comando do nosso país apavora todos que cultivam o mínimo de sensatez e sensibilidade. Esse pavor é proporcional à corpulência da massa que o exalta.
A quantidade de pessoas que o seguem e fazem o mesmo com Trump aponta uma fissura no caráter da humanidade e alimenta um monstro chamado fundamentalismo. Todo extremo é tolo, além de egoísta. As extremidades estão isoladas e distantes de um princípio democrático chamado consenso. A ideia de que a virtude está no meio figura entre os mais preciosos legados deixados por Aristóteles. Se todos preconizassem o equilíbrio assim como orientou o filósofo, os penetras jamais tomariam conta da festa.