Fake news que inundam as redes
- 5 de junho de 2024
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- Theillyson Lima
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A disseminação de fake news durante a tragédia do Rio Grande do Sul ilustra o impacto devastador que a desinformação pode trazer.
Julia Viana
As fake news, ou notícias falsas, podem ser usadas para se referir a notícias fabricadas, ou seja, são informações incorretas, geralmente usadas com motivações ocultas, como benefícios econômicos ou políticos. Elas se tornaram comuns na atualidade e representam um grande perigo, pois se espalham rapidamente, apelando para o emocional do leitor e visando prejudicar certos ambientes e pessoas.
As fake news têm impacto em diversos aspectos da sociedade, desde a política até o jornalismo, e podem levar à polarização e desinformação, costumam ser sensacionalistas e apelativas, atraindo a atenção dos usuários e provocando reações emocionais. A disseminação de fake news é facilitada pelo avanço da tecnologia e o crescimento do uso das mídias sociais, contribuindo para a rápida propagação de boatos.
O compartilhamento de informações fraudulentas tem grandes consequências, apesar de parecer inofensivo. No Brasil, a disseminação de uma fake news resultou em uma tragédia, na qual uma mulher foi linchada até a morte por moradores da cidade de Guarujá, em São Paulo. Além disso, a propagação de fake news contribuiu para o crescimento alarmante no número de casos de sarampo no Brasil em 2018, o que acarretou em uma campanha intensa realizada pelo Ministério da Saúde para combater essas falsas informações sobre vacinas.
Fortes chuvas
Ao acompanhar os jornais e portais de notícias no final do mês de abril foi possível acompanhar a tragédia no Rio Grande do Sul. Ela foi desencadeada por fortes chuvas que causaram inundações e deslizamentos de terra, resultando em um número alarmante de mortes. Fatores como o fenômeno El Niño, o aquecimento global e a falta de infraestrutura adequada agravaram a situação, afetando centenas de municípios e deixando um cenário de destruição, escassez de água potável e desabastecimento.
Assim, diante da situação devastadora, a resposta exigiu a mobilização de equipes de resgate e a solidariedade da população para lidar com as consequências imediatas das chuvas. Porém, além das consequências para todo o estado, outro fator ajudou a agravar os impactos desse desastre, a propagação de fake news. A tragédia no Rio Grande do Sul ressalta a urgência de políticas eficazes de prevenção e resposta a desastres naturais, bem como a importância de combater a propagação de informações falsas que podem prejudicar os esforços de ajuda e recuperação.
Fake nas enchentes
Mesmo deixando 172 mortes, 42 desaparecidos, 2,3 milhões afetadas e cerca de 580 mil pessoas desabrigadas no Rio Grande do Sul, a cultura da propagação das fake news pode atingir um número muito maior que esse, ao distorcer informações importantes e fazendo com que essa ação propague pânico e agrave ainda mais a crise. Notícias deste teor surgem com a reutilização de imagens antigas para contextos atuais e boatos e suposições compartilhados na internet.
Segundo o levantamento do Atlas/CNN, publicado pela CNN, a fake news atrapalhou cerca de 65,2% dos gaúchos. Esse dado evidencia como a propagação de informações falsas tem influenciado a percepção e a tomada de decisões da população no Rio Grande do Sul, mostrando que as fake news não apenas distorcem a realidade dos fatos, mas também criam um ambiente de desinformação que pode afetar questões sociais, políticas e até mesmo de saúde pública.
Para fortalecer o combate à desinformação, o governo gaúcho, o Ministério Público (MP) e a Polícia Civil estão investigando as fake news sobre as enchentes. Notícias falsas, perfis fakes e golpes online se espalharam nas redes sociais durante a tragédia no estado, prejudicando o trabalho das equipes de salvamento. Em meados de maio, a Advocacia-Geral da União (AGU) e as plataformas digitais assinaram um acordo para combater a divulgação de informações falsas relacionadas às enchentes.
A propagação na prática
Dentre muitas notícias falsas, o portal Aos Fatos desmentiu as mentiras criadas em detrimentos da tragédia. O primeiro caso, foi a divulgação da lista que mostra nomes de crianças sem os pais abrigadas em universidade de Canoas foi um destaque, a lista na realidade, é de pessoas desabrigadas alojadas em uma igreja em outro município gaúcho. A divulgação dessa lista levou 5.000 compartilhamentos no Facebook e 1.700 curtidas no Instagram até a tarde do sábado (11/05). Foi feita uma retração e alerta por meio do promotor de Justiça João Paulo Fontoura de Medeiros desmentido as fakes propagadas.
Outro exemplo foi um vídeo legendado com a frase “força aérea portuguesa decola com donativos arrecadados rumo ao Brasil”. Esse vídeo mostra a decolagem de um avião de carga da Força Aérea Portuguesa que tem sido divulgado nas redes como se a aeronave trouxesse doações do país para o Rio Grande do Sul. Porém, o vídeo original foi feito em 2023, o que foi esclarecido pela Força Aérea Portuguesa declarando que não aconteceu nenhuma missão relacionada ao transporte de doações.
Esse vídeo acumulou cerca de 320 mil visualizações no TikTok até o dia 14 de maio, sem contar os compartilhamentos feitos via WhatsApp, não podendo estimar o alcance obtido. Como esperado, durante o período da enchente no Rio Grande do Sul, a proliferação de fake news agravou ainda mais a situação já crítica enfrentada pela população, desencadeando transtornos, a devastação física e humanitária, mas também expôs um problema crescente e preocupante, a disseminação de fake news.
Combate as fake news
Os portais de notícia estão adotando diversas estratégias para combater as fake news relacionadas às chuvas no Rio Grande do Sul. Entre as medidas, destacam-se a verificação de informações falsas, assim como a criação de uma força-tarefa dedicada a identificar e contestar essas notícias enganosas. O governo do Estado e a prefeitura de Porto Alegre disponibilizaram chaves Pix próprias para receber doações às vítimas das fortes chuvas e elaboraram um guia para ajudar a população a não cair em golpes ao fazer doações.
O governador Eduardo Leite alertou sobre possíveis fraudes envolvendo doações e recomendou buscar canais de ajuda confiáveis, como a imprensa e canais institucionais. A Polícia Civil e a Polícia Federal estão ativamente investigando e desmentindo publicações de fake news sobre as doações para as vítimas. Diversas instituições de autoridade do Rio Grande do Sul estão empenhadas em desmentir informações falsas e responsabilizar os autores dessas notícias espalhadas na internet.
O governo do Rio Grande do Sul criou uma força-tarefa de checagem e contestação de fake news relacionadas às chuvas no estado. Essa equipe monitora, apura e identifica informações falsas, disponibilizando os resultados para a imprensa e compartilhando nos perfis oficiais do governo. Além disso, estão sendo divulgadas formas seguras de ajudar a população afetada e orientações para que as pessoas verifiquem a fonte da informação e consultem outras fontes confiáveis para confirmar a veracidade dos dados.
A Polícia Federal iniciou investigações para apurar supostos crimes cometidos por aqueles que publicaram fake news sobre a tragédia no Rio Grande do Sul. O ministro da Secretaria de Comunicação Social mencionou que solicitará a identificação dos autores dessas notícias falsas, incluindo parlamentares e influenciadores envolvidos. A Advocacia-Geral da União também está investigando declarações de um jornalista sobre as consequências das chuvas, visando assegurar que todos os responsáveis sejam devidamente punidos.
Antes, durante e depois
As chuvas do Rio Grande do Sul não são as únicas enchentes que precisam ser combatidas, a disseminação de fake news durante esse período ilustra claramente o impacto devastador que a desinformação e a propagação de informações falsas em diferentes fases da crise pode trazer.
Antes das enchentes, a propagação de notícias falsas já havia criado um ambiente de desconfiança e polarização, dificultando a disseminação de informações corretas e a preparação adequada da população. Durante a tragédia, as fake news foram intensificadas, espalhando pânico e desinformação, o que comprometeu os esforços de resgate e assistência humanitária, trazendo mentiras, muitas vezes sensacionalistas, desviando recursos e atenção, prejudicando ainda mais as comunidades afetadas.
A luta das pessoas afetadas por esse desastre ainda persistirá, as consequências das fake news ainda continuarão a reverberar, com golpes envolvendo doações e desconfiança generalizada entre os cidadãos. Isso mostra a necessidade de um combate rigoroso e constante à desinformação, enfatizando a importância de medidas preventivas e uma resposta para minimizar os danos causados por esse fenômeno. Mas, até que ponto as consequências da fake news serão sentidas pelo Rio Grande do Sul?