EL PAÍS – Eterna liberdade
- 5 de setembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Thamires Mattos
Por vezes me questiono: em uma sociedade tão conectada (e, ao mesmo tempo, depravada), qual é o real papel da imprensa? Somos bombardeados por uma massa de informações com pedaços de “útil” e “inútil”. Opiniões grotescas são expressadas por vários usuários de redes sociais. Durante o período da Copa do Mundo, vaias online estavam na moda. Nas últimas eleições presidenciais, é de desconfiar que algumas pessoas votaram pelo Facebook, pois seu perfil virtual virou palco de comício, com direito a oposição, brigas e total perda de noção de civilidade.
Por essas e outras, quando o assunto é religião, todo cuidado é pouco. As questões eternas, enraizadas em nós, são muito delicadas. Quem tem uma denominação, acredita que esta é a única certa. Quem não tem, acredita que todas estão erradas. E jornalistas não são robôs (alguns, pelo menos). Mesmo inconscientemente, expressão opiniões que manifestam sua preferência religiosa. Em um jornal de porte internacional, como o El País, não poderia ser diferente.
O jornal dá atenção especial a temas religiosos, principalmente os relacionados à Igreja Católica. Muitas notícias trazem fotos do Papa Francisco. Ele é, na maioria das vezes, retratado como uma espécie de “herói cristão”: vai contra tradições católicas, prega o amor e a aceitação, revela segredos do Vaticano e faz questão de promover reuniões ecumênicas. Até aí, nenhuma novidade. Francisco é pop mesmo. O diferencial do El País está no jeito de expor todas essas características de um homem que já é ícone. Juan Arias, teólogo e colunista do periódico, escreve que “Francisco está levando a cabo uma revolução no conceito de pecado, não para aboli-lo, mas para diversificá-lo, para entender que às vezes o que é considerado pecado no frio laboratório teológico é algo muito diferente na situação concreta, por exemplo, da mãe que se viu no apuro de precisar abortar por circunstâncias extremas da sua história pessoal”. No mesmo artigo, intitulado “O papa Francisco aboliu o pecado?” (06/01/2014), Arias retoma temáticas cristocêntricas e as aplica ao comportamento do “líder pop”.
Merecem destaque também os conteúdos sobre igrejas neopentecostais. A postura da Igreja Universal do Reino de Deus foi criticada abertamente pelo jornal na época da inauguração do “Templo de Salomão”, em São Paulo. O título da reportagem era sugestivo: “A Universal abre seu ‘templo ostentação’” E, que, em meio a uma queda no número de fiéis, a igreja de Edir Macedo inaugurou seu novo espaço. Uma das fontes citadas afirmou que o objetivo do “Templo” era reduzir as outras manifestações religiosas a nada.
O judaísmo e o islamismo também ocupam espaço no jornal, que mostra frequentemente os conflitos na Faixa de Gaza, creditados às diferenças religiosas. O combate ao antissemitismo e ao jihadismo é praticamente explícito para leitores assíduos. Críticas às interferências do governo americano na política de países predominantemente muçulmanos são constantes.
O jornal El País traz muita informação, e recheia seu conteúdo com opinião. Isso nos leva a pergunta inicial: qual o real propósito da mídia? A resposta não poderia ser mais simples: defender a democracia pura. Se a opinião ajudar nisso, o que há de errado?