EL PAÍS – De médico e louco todo mundo tem um pouco
- 22 de maio de 2015
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- Thamires Mattos
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Juliana Dorneles
Da frase de Machado de Assis que diz: “De médico e louco todo mundo tem um pouco” surgiram outras do tipo: “De médico, louco e técnico de futebol todo mundo tem um pouco”, ou talvez, “de safado, médico e louco todo mundo tem um pouco”. Mas eu venho propor uma nova versão: “De médico, cientista político e louco todo mundo tem pouco”. Um exemplo clássico é a manifestação das pessoas em época de eleição. Muita gente fala como se fosse PHD em Ciências Políticas, sendo que muitas vezes não sabe nem quais são as ideologias do partido que apoia. Mas já falamos bastante de eleições no ano passado, então vamos virar a página e viajar para o ano de 2015. Encontramos agora, um país dividido entre os que apoiam a diminuição da maioridade penal e os que são contra.
Porém não são só as pessoas que estão se manifestando. As mídias, em geral, também expressam seu ponto de vista. Por isso, devemos ter muito cuidado para não sermos manipulados. A dica mais eficaz é não perder o senso crítico e analisar bem a imprensa, pois nenhum jornal é isento de opinião. Com este pensamento dei uma analisada no jornal El País. Tirei algumas conclusões e comprovei o que está escrito acima. Vamos comigo dar uma olhada?
Bom, das oito reportagens que falavam da diminuição da maioridade penal, apenas duas mostram os lados opostos da discussão. Somente nelas é possível encontrar fontes favoráveis e contrárias à Proposta de Emenda Constitucional que propõe reduzir a maioridade penal no Brasil – PEC 171/93. Do restante, cinco se posicionaram contra e apenas uma se assumiu a favor.
É interessante notar a sutileza do El País ao conduzir o assunto. Em nenhum momento o jornal faltou com respeito ou expressou escancaradamente sua opinião. Entretanto só o fato da maioria das fontes apoiarem a mesma vertente já torna a notícia tendenciosa. Na reportagem, intitulada No Brasil, os adolescentes são hoje mais vítimas do que criminosos é apresentada a forte oposição de algumas instituições com relação a PEC, como a OAB, CNBB e UNICEF. Até aí tudo bem, o problema é que o contraponto ou opinião oposto ficou aquém do esperado.
E o resultado não poderia ser outro. Uso-me como exemplo. Quando comecei a ler as reportagens, estava livre de qualquer opinião. Contudo, ao terminar as leituras, surgiu em mim uma grande tendência contrária a PEC e, por isso, oposta a redução da maioridade penal. Fiquei com a impressão de que além de ser o posicionamento correto, havia um grande apoio das Instituições e, até mesmo, dos cidadãos. Mas ao pesquisar sobre o tema, descobri que, segundo uma pesquisa do Datafolha, 87% dos brasileiros são a favor da redução da maioridade penal. Logo, há uma discrepância de ideias entre a opinião pública e o modo como o El País trata o assunto.
O jornal El País incutiu sutilmente uma ideia na cabeça do leitor, que se não fosse cuidadosamente analisada, passaria despercebida. Para não cairmos nessas pequenas armadilhas midiáticas, para termos a nossa própria opinião e não sermos meros fantoches de poderes maiores, devemos aguçar o nosso senso crítico e, dessa forma, poderemos ser um pouco médicos, um pouco loucos e, com muita propriedade, conhecedores da política.