Crise energética é descontada na conta de luz da população
- 20 de outubro de 2021
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Quem sofre as consequências do despreparo governamental é o próprio povo.
Mariana Santos
O Brasil está passando por uma longa crise na oferta de energia elétrica. É preocupante mas não é novidade para a população que tem lidado com as bandeiras tarifárias desde janeiro de 2015. Em meio à crise hídrica, tudo o que o brasileiro precisava era de uma previsão meteorológica capaz de abastecer as usinas hidrelétricas. Entretanto, a chegada do fenômeno La Niña piora a situação do povo que carrega o país nas costas.
Quando o Estado é incapaz de fornecer energia elétrica suficiente para a população, o governo tem a opção de se preparar com antecedência, dar atenção aos estudos meteorológicos e elaborar um plano executável para poupar as hidrelétricas no caso de secas. No Brasil, contudo, a decisão tomada, mandato após mandato, foi deixar que os problemas se acumulassem até que a situação se tornasse insustentável.
Em 2001, o país enfrentou a sua pior crise energética, a qual foi creditada ao avanço industrial da época. Conhecido como o “Apagão de 2001”, o período foi marcado pela falta de chuvas, o que representou um grande problema, considerando que cerca de 85% da energia provinha de usinas hidrelétricas. Atualmente, a dependência dessas usinas diminuiu, mas o problema permanece.
Em 2020, o Ministério de Minas e Energia publicou uma pesquisa feita em parceria com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Os dados mostraram que 65% da produção energética do país era derivada das usinas hidrelétricas, ou seja, apesar de não ser tão alarmante quanto 20 anos atrás, a crise hídrica atual afeta diretamente a “conta de luz”.
Como forma de lidar com a situação, são aplicadas bandeiras tarifárias, criadas em 2015. As bandeiras funcionam como um mecanismo de controle que visa diminuir o consumo de energia aumentando seu custo para a população. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) explica que dependendo da bandeira indicada, o consumidor tem, ou não, acréscimos no valor pago pela energia. De forma mais clara, quem sofre as consequências da falta de planejamento governamental é a população.
Imersos em uma crise que vai desde a esfera política até a econômica, os brasileiros se mostraram insatisfeitos com a alta no custo da energia. Como resposta, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), disse que pediria ao diretor da Aneel que fosse revogada em novembro a bandeira de escassez hídrica, criada em agosto de 2021.
Em entrevista para a CNN, Jerson Kelman, ex-diretor da Aneel, explicou que caso a bandeira tarifária seja revogada, os impactos da crise energética serão ainda maiores no ano de 2022. “Não tem jeito, o custo terá de ser pago. As empresas não produzem energia tendo prejuízo”, disse Jerson, explicando que o déficit pode ser descontado na forma de impostos ou até mesmo subtraído da verba destinada a outras demandas do governo como saúde e educação.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico, o nível dos reservatórios das hidrelétricas do sudeste e centro-oeste é o mais baixo desde o início da série histórica, nos anos 2000. O cenário piora graças ao fenômeno La Niña que começa a diminuir ainda mais as chuvas desta primavera e que pode durar meses.
La Niña é um fenômeno natural que acontece nos intervalos entre o El NIño e a normalização das temperaturas do Oceano Pacífico. No Brasil os principais impactos são as chuvas intensas nas regiões norte e nordeste ao mesmo tempo em que o sul, sudeste e centro-oeste sofrem com a seca. Na prática, os reservatórios que hoje estão vazios, podem ficar ainda piores nos próximos meses.
Diante do risco de desabastecimento de energia, alguns lugares do país podem sofrer “apagões”. Pedro Cortês, professor do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, disse para o site de notícias Brasil de Fato que “se ele [governo] perceber que há uma possibilidade de ‘apagão’, ele pode reduzir a carga, na medida do possível, para os locais mais isolados”.
As circunstâncias deixaram bem óbvia a necessidade de investimento expressivo em outros meios de produção energética. No dia 15 de julho o ONS publicou que as térmelétricas são responsáveis por 26% da produção de energia no país, contudo, esse método além de caro é muito poluente.
Uma opção para geração de eletricidade de forma mais limpa é a energia eólica, hoje responsável por 14% da produção no Brasil. Os investimentos nessa modalidade só começaram em 2002, com a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa), criado pela Lei nº 10.438/2002. O melhor momento para a criação de programas como esse foi há 30 anos atrás, mas o segundo melhor momento é agora.