Cópia fiel: um ato de amor
- 19 de abril de 2023
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- Theillyson Lima
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Como o apreço ao universo literário justifica o hate da falta de essência das adaptações de seus universos favoritos.
Hellen de Freitas
As adaptações cinematográficas de obras literárias famosas vêm ganhando um espaço gigante nos últimos anos ao reunir ambos os mundos de fãs de livros e filmes em um só lugar.
Afinal, quem não quer ver os seus personagens favoritos que até aquele momento existiam apenas em sua imaginação, ver finalmente como são universos inteiros saindo de páginas e páginas escritas elaboradamente por seus autores admirados. Imagina a sensação que milhares de Potterheads (fãs da saga Harry Potter) sentiram ao visualizar Hogwarts inteira em uma tela de cinema, ou o sentimento dos fãs ao ver Katniss Everdeen lançar a primeira flecha em Jogos Vorazes (filme inspirado na saga “The Hunger Games”). Com certeza, é um sonho realizado.
Entretanto, nem tudo são flores, afinal passar a essência de um livro inteiro em apenas um ou uma sequência de filmes, não é fácil. Os livros são muito bem elaborados e ricos em detalhes para que possam passar através de palavras toda uma história que apenas ganha vida na cabeça dos leitores. Já os filmes, passam tudo através do visual, sejam emoções ou paisagens, em um curto período de tempo.
Parece fácil, certo? Errado! Exatamente por ter que encaixar tantas informações em uma minúscula caixa, muitas vezes as adaptações deixam a desejar no quesito de ser fiel a milhões e milhões de fãs que já estavam anteriormente inseridos naquele universo, e esperavam ansiosamente para ver suas histórias favoritas transformadas em longas. Será que eles estão equivocados?
Lobozinho vermelho?
Para entender melhor essa indignação dos fãs de livros best-seller que vão para as telonas, vamos pegar exemplos inseridos na infância e cotidiano comum. Quando pequeno todos ouvíamos a história da “Chapeuzinho Vermelho”, uma garotinha que usava uma capa vermelha e estava indo visitar a casa da sua vovozinha, até que é interceptada pelo “Lobo mau” e blah blah blah. Todo mundo conhece essa história.
Agora, vamos supor, que peguem essa história clássica com uma grande fanbase e prometam uma adaptação com o estúdio da Warner. Claro que todos vão ansiar pela estreia. Fãs histéricos irão nas portas dos cinemas para aguardar o momento de assistir o filme da tão sonhada “Chapeuzinho Vermelho”. Só que… surpresa! A Chapeuzinho não existe, em seu lugar o Lobo se transforma na nossa querida protagonista, a Vovozinha na realidade é a vilã e a capa vermelha agora do então Lobozinho é azul.
A queda seria grande, o amor que todos tinham seria transformado em aversão pelas gigantescas mudanças que tiraram completamente a essência de uma história tão querida e atemporal.
Claro que isso é hipotético e exagerado, mas dá para entender um pouco de como ficam os corações de diversos apreciadores das obras literárias.
O ladrão de adaptações
Eu admito que entendo completamente o hate que várias adaptações como: Percy Jackson e o Ladrão de Raios e Amor e Gelato tiveram após seu lançamento, ambos os filmes descartaram a essência dos livros e focaram apenas em partes do enredo, decidindo através de fontes das suas cabeças o que iria permanecer e o que excluir das tramas.
Os filmes do Percy, por exemplo, colocaram adultos crescidos e barbudos para interpretar crianças de 12 anos, sendo que um dos destaques das obras literárias era acompanhar exatamente o crescimento dos personagens ao longo de suas jornadas.
Nesse caso, dá para entender a indignação, pois se perdeu a essência, o relacionamento e intimidade que deveria existir entre os personagens e os fãs da saga. Mas eles receberam uma segunda chance, por isso agora estão refazendo todo esse universo do zero através de uma série da Disney na qual os semideuses são realmente crianças e prometem seguir fielmente a história tradicional. A única mudança foi uma das protagonistas ser preta e não loira dos olhos azuis como originalmente, mas a natureza da personagem, segundo o autor dos livros, é a mesma sem perder nada. Se você fica incomodado, tem um outro nome para esse tipo de sentimento.
A magia das palavras
A arte das palavras e obras sempre estiveram ligadas com as pessoas em geral. Para muitos é entediante, mas na realidade tem uma magia indescritível dentro desse mundo. Eu como leitora árdua, sempre almejo por ver algumas das minhas histórias favoritas serem moldadas até chegar em grandes telas de cinema para que eu possa visualizar tudo que eu conhecia e amava de forma “tátil”. Quando essa expectativa é quebrada, meses e anos de aguardo simplesmente se mostram sem valor, parece tudo uma grande perda de tempo.
Essas são palavras de apenas uma pessoa insignificante, mas tente projetar milhares e milhares de outros como eu que esperaram a mesma quantidade de tempo ou mais para finalmente colocarem rostos em desconhecidos e contemplar o campo verde e castelos que eram apenas fantasias distantes.
Sim, eu sei, pode parecer bobeira, pode ser exagero, mas histórias tem mais poder do que imaginam. Histórias mudam a vida de pessoas, histórias moldam e enriquecem aqueles que são apaixonados e ficam enfeitiçados pelas frases lidas em páginas que um dia já estiveram em branco.
Os livros tornam pessoas chatas em especiais, e até mesmo salvam vidas. Então, não venha me dizer que não é nada demais, pois apenas quem está inserido nessa grande comunidade pode opinar. Vamos ver se você passa a se incomodar quando os três porquinhos virarem os três ratinhos e o terrível Lobo Mau se tornar um gato.