A cobertura política da BBC em meio as queimadas
- 30 de setembro de 2019
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- Thamires Mattos
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Ao narrar as recentes queimadas na Floresta Amazônica, a BBC Brasil destacou medidas do governo Bolsonaro
Thalita Gameleira
A repercussão do desmatamento na Floresta Amazônica tomou proporções mundiais. Líderes do mundo todo se pronunciaram sobre a situação, principalmente a respeito da gerência do Governo Brasileiro em meio à crise ambiental. Durante a sua cobertura sobre a recente crise político-ambiental, a BBC Brasil frequentemente abordou o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro.
Após o desafio do presidente brasileiro ao presidente da França, Emmanuel Macron, e à primeira-dama da Alemanha, Angela Merkel, a BBC Brasil fez uma reportagem intitulada “Por que Bolsonaro não deveria fazer ‘aposta’ com Macron e Merkel sobre desmatamento na Amazônia”. O presidente disse, em, pelo menos, duas ocasiões, que ambos deveriam sobrevoar um trecho da Floresta Amazônica com ele, e, “se eles encontrarem um quilometro quadrado de desmatamento entre Boa Vista e Manaus, concordaria com eles” sobre a falha na política ambiental brasileira. Na matéria, a BBC utiliza dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que são coletados por meio de um sistema conhecido como Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real) – que faz uso de imagens de satélite para vigiar a floresta. O veículo também consultou o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), uma organização da sociedade civil, conhecida por monitorar a floresta desde a década de 1990.
O objetivo da escolha desses órgãos é responder ao desafio feito por Bolsonaro à alemã e ao francês. O resultado? “De janeiro a maio de 2019, o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon registrou 922 episódios de desmatamento e degradação da floresta no trecho de 660km entres as duas cidades”. A reportagem também enfatiza outro ponto divulgado pelo Imazon: existem trechos em que as ocorrências de desmatamento são ainda maiores. É o caso de Santarém, no Pará, e Cuiabá, no Mato Grosso. Outro pronunciamento colocado em contraponto é o do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno. Para ele, os índices de desmatamento da Amazônia são manipulados. A matéria rebate a afirmação com uma frase do pesquisador Carlos Souza Jr., do Imazon. Ele ressalta que “o Brasil tem um sistema de monitoramento (do desmatamento) que é reconhecido mundialmente”.
Já nas reportagens “Itamaraty usa dados da era Lula para defender Brasil de críticas sobre desmatamento” e “O que as queimadas na Amazônia têm a ver com a economia e por que as eras Dilma e Bolsonaro fogem à regra”, a BBC aponta dados – em sua maioria, do Inpe – para ampliar o discurso de diminuição do número de queimadas na Amazônia tão firmado pelo Governo Federal. O veículo destaca a diminuição em 72% na taxa de desmatamento entre 2004 a 2018. Porém, desde 2012, no primeiro governo de Dilma Rousseff, essa taxa vem crescendo novamente. A matéria também acrescenta os números preliminares para 2019, que, segundo o sistema Deter, registraram disparo de 278% nos alertas do desmatamento na Amazônia Legal brasileira durante o mês passado. A porcentagem é comparada ao mesmo período do ano passado.
Recentemente, em sua página no Instagram, a BBC Brasil publicou o vídeo “A polêmica histórica dos interesses econômicos na Amazônica”. Lá, o jornalista João Fellet traça um parâmetro cronológico dos interesses econômicos na Floresta Amazônica nos últimos anos. O destaque vai, principalmente, para ações estrangeiras com aval brasileiro. Além disso, o vídeo relata a importância da união entre indígenas e geólogos, especialmente durante a Constituição de 1988 nas grandes demarcações de terras indígenas, com o objetivo de preservar boa parte de matérias-primas.
Em geral, a BBC News Brasil opta por uma cobertura ampla sobre situações político-econômicas relacionadas ao desmatamento na Amazônia. Diferente de outros veículos de comunicação, ela não escolheu manchetes tendenciosas. Usou dados do próprio governo e de entidades privadas, especialistas e representantes do setor público como fontes. Há intenção de transparência e preocupação em traçar um parâmetro geral e cronológico no debate sobre o desmatamento.