Cenário do continente africano
- 15 de maio de 2018
- comments
- Thamires Mattos
- Posted in Análises
- 0
Às etnias e grupos de pouca importância para o governo de muitas regiões do continente africano resta viver temendo pelo dia de amanhã
Kelwin Ramos
O continente africano vive, em grande parte de seu território, um cenário de guerras civis e instabilidade, tanto política quanto econômica. Se trata de um continente onde os países tem sua economia muito fragmentada e, por consequência, são incapazes de gerar riquezas para suas respectivas populações.Mesmo possuindo o atributo das grandes reservas naturais, a África esbarra em obstáculos na hora de gerenciar suas riquezas. O maior deles é que, por serem exportadores apenas de gênero alimentícios e minerais, ficam totalmente dependentes da variação internacional dos preços. Cada vez que esse preço abaixa, há crise financeira no continente e, por consequência, endividamento. Em se tratando dos recursos minerais africanos (como diamantes e petróleo), pode-se dizer que sua acessibilidade não é para muitos. Os poucos grupos da elite que têm acesso a essas matérias-primas acabam por financiar guerras civis, deixando o desenvolvimento socioeconômico de lado; desenvolvimento esse que não é primeiro plano desde os tempos de colonização no continente.
A luta insana dos grupos dominantes pela autoridade dentro de uma estrutura de poder, está diretamente ligada ao terrível tempo de colonização do continente. A história explana como a atual problematização que há na hierarquia das estruturas políticas africanas remetem à época da colonização europeia. O continente africano, então explorado por diversas potências europeias, viu suas tribos serem misturadas. Muitas delas, sendo historicamente rivais, foram levadas a um mesmo país e obrigadas a viverem sob a mesma cultura. Com as lutas por independência após a Segunda Guerra Mundial, as tribos começam disputas ferrenhas; cada uma tendo a intenção de estabelecer seu poder sob as demais.
Perduram, ainda hoje, grandes e sangrentos conflitos entre essas tribos. São massacres após massacres, tudo em nome do poder. Darfur e Ruanda são exemplos disso. É esta a situação conturbada que vive o continente africano nas últimas décadas.E ao fim de cada conflito, a supremacia desses países tem sido alternada.
Darfur e Ruanda
Os genocídios em ambas as regiões, por conta de diferenças étnicas e religiosas, põem um sinal de alerta em relação a presença das hierarquias nas estruturas de poder do continente africano.
Em Ruanda, no ano de 1994, o mundo presenciou os extremistas étnicos hutus massacrarem 800 mil pessoas em apenas cem dias. Os hutus, 85% da população de Ruanda, tinham como alvo os tutsis, que haviam dominado o país por décadas. Foram feitas listas dos alvos a serem mortos para que se encontrassem as vítimas mais facilmente. Na rádio, era feita a convocação para se “eliminar as baratas”, referindo-se à morte dos tutsis. Além de anunciarem na rádio os nomes a serem eliminados, ainda faziam barreiras nas estradas para identificar a etnia e matar à facão os tutsis.
Houve, ainda, milhares de mulheres tutsis que acabaram sendo mantidas como escravas sexuais. Tempos depois, um grupo de exilados tutsi avançou de volta à Ruanda com um movimento pela paz. Conseguiram não só a paz, mas o líder do então grupo se tornou o presidente de Ruanda. Ele, Paul Kagame, é visto como um intolerante à dissidentes, já que foram encontrados mortos vários de seus adversários. Seu governo proíbe falar de etnia em Ruanda, alegando que assim haverá menos derramamento de sangue; embora seus críticos acreditem que esse é apenas um tipo de remendo de algo que irá estourar de novo no futuro.
Em se tratando de Darfur teremos uma situação um tanto similar e, por conta disso, muito se falou de Darfur como a nova Ruanda. O conflito de Darfur também se trata de um governo com a intenção de acabar com rebeldes que tinham religião e etnias diferentes. A ONU contabiliza o número desumano de 300 mil mortos e milhares de refugiados como consequência desse conflito. O estopim para esse massacre foi quando o oeste do Sudão, região de Darfur, começou a reivindicar sua independência em 2003. O argumento para tal é que o governo a qual pertenciam se preocupava em atender apenas os interesses da elite e que, com tal hierarquia estabelecida, eram tratados com total desinteresse.
Com isso, a região de Darfur, que é composta quase que totalmente por negros e têm por atividade econômica a produção de agricultura desubsistência, começou a ser atacada de forma muito violenta pelo governo. Apoiado pela milícia dos árabes que habitavam o local, o governo sudanês tinha a pretensão de acabar com os rebeldes. A ONU tem tido dificuldades nas tentativas de apaziguar as situações, sendo uma delas o fato de que a China, atuante no Conselho de Segurança, tem vários acordos com o governo sudanês para a importação de petróleo e minérios em geral. A forma com que é estruturado o governo sudanês parece só diminuir a esperança de paz para o país.
Darfur e Ruanda são apenas exemplos de como tem-se formado, no continente africano, estruturas de poder fortemente hierárquicas. O comportamento da elite, na maioria das vezes, não é respeitoso para com os direitos humanos. A corrupção vem provando ser inerente a qualquer tipo de estrutura de poder.Elimina-se o respeito às leis para se ter o sucesso de determinado grupo. Chegam a agir de maneira agressiva, quando julgam necessário, para manter sua dominância na hierarquia. Ao passo que a elite busca deter todo o poder e autoridade no país, não se tem desenvolvido uma cultura igualitária. Às etnias e grupos de pouca importância para o governo de muitas regiões do continente africano resta, então, viver temendo pelo dia de amanhã.