CARTA CAPITAL – Carta para menores de 18
- 22 de maio de 2015
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- Thamires Mattos
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Leonardo Lacerda
O longo e exaustivo debate sobre a redução da maioridade penal permeia nos últimos meses as diversas esferas sociais. Mas se engana quem pensa que o tema é recente para mídia. Pelo menos, não para a Carta Capital. As centenas de matérias sobre o assunto e pesquisas encomendadas pela revista, que ganharam forte repercussão no período eleitoral, refletem um olhar delicado do veículo pelo assunto. Se “não há nada novo debaixo do céu”, como afirmava Salomão há mais de três mil anos, porque a parcialidade midiática tomaria outro rumo?
Para início de conversa, não há conversas para a Carta Capital. Quando suas matérias não se baseiam em um comentário feito pela base esquerdista do Congresso, a revista dá oportunidades para defesas “rasas” da oposição nas linhas sobre a redução da maioridade penal. Para um diálogo eficaz são necessários apenas um emissor e um receptor. Isso a revista faz muito bem: o emissor sempre é alguém contrário a redução e o receptor é você, leitor. Entretanto, a semanária não trabalha com licenciatura em letras, mas sim com jornalismo. E no jornalismo, pelo menos dois emissores com opiniões divergentes devem ser ouvidos para que seja construída uma matéria às beiras da imparcialidade.
Não é ousadia afirmar o quanto seus títulos e linhas finas sugerem um tom “radical” quanto àqueles que são favoráveis as novas medidas. Na publicação online do dia 17 de maio de 2013, a revista chega a relacionar as propostas da redução da maioridade penal com o fascismo. O comentário por parte do ministro Gilberto Carvalho foi mínimo, contudo mereceu ganhar o título da reportagem. Ao longo da publicação, o tema é discorrido a partir da fala de Carvalho.
Em abril de 2015, a revista enfatiza um país que se choca com o resto do mundo na publicação intitulada Brasil vai na contramão mundial ao debater redução da idade penal. Uma pesquisa apontou que 80% dos países consideram que jovens só podem exercer sua maioridade penal a partir dos 18 anos. Várias fontes foram consultadas, entretanto todas estavam unidas por um só ideal. Não há oposição. Assim, pelo visto, o mundo parece concordar com a Carta ou pelo menos 80% dele. A revista mostrou que nossos vizinhos uruguaios também são contra a diminuição da maioridade penal.
Ao falar da bancada favorável a redução, Carta Capital satiriza a direita com um título sugestivo, divulgado em abril deste ano: Bancada BBB domina o congresso. O termo foi sugerido pela deputada petista Erika Kokay e faz a alusão aos deputados evangélicos (Bíblia), aos ruralistas (Boi) e ao Congresso (Bala). O nome de um programa que a revista não vê com bons olhos foi utilizado para reforçar o desgosto desta com certos parlamentares.
Mesmo que a bancada “bíblia” seja favorável à redução, a Carta Capital afirma que evangélicos, católicos e simpatizantes não apóiam a aprovação da PEC 171. Então chegamos a uma aparente contradição, já que uma pesquisa divulgada pela revista apontou que 89% dos entrevistados eram a favor da redução da maioridade penal. Como os evangélicos elegeram a bancada “bíblia” como representante, como podem eles – a ala católica, jurídica e militante – “estarem juntas contra a redução da maioridade penal”? Talvez seja exagero ou radicalismo. Com certeza, um pouco ilógico.
Quanto a Carta Capital, fica no ar a dúvida: seria ela uma revista institucionalizada e pertencente aos combatentes da PEC 171 ou seria informativa e com interesses ocultos? É preciso dar voz aos diferentes, ser ouvido e saber ouvir. Mostrar os dois lados da história é fazer jornalismo e nisto consiste a inatingível imparcialidade.