Brincando com fogo
- 28 de outubro de 2020
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Para início de conversa, informamos os ignorantes europeus que a prática da queimada, chamada coivara, já existia antes da invasão lusitana de 1500; raríssimas espécies vegetais sofrem autocombustão. A situação mais frequente ocorre no Cerrado, em decorrência da extrema seca; segundo a pesquisadora Erika Berenguer, da Universidade Oxford, os casos de combustão na Amazônia se devem unicamente à ação antrópica. Ou seja, criminosa, provocada pelo homem.
Praticada por alguns povos indígenas, a coivara se limitava a pequenas extensões de terra. Nada semelhante à devastação causada pelos atuais latifundiários, cujas fazendas são maiores do que muitos países europeus. Fato: ONGs estrangeiras na Amazônia, na Mata Atlântica, no Cerrado e no Pantanal não têm boas intenções com a natureza, com o país, sequer com os povos nativos ou pequenos proprietários, circunstância corriqueira na região do Parque Estadual do Marumby, Litoral paranaense. As denúncias contra a presença de piratas da flora e da fauna amazônicas chegam à imprensa há mais cinquenta anos. Todos os governos posteriores ao regime militar se tornaram culpados de omissão, sem exceção.
Nos anos 1960, missionários tiveram de se defender contra a acusação de contrabando de diamantes, não obstante alguns realmente praticarem crimes. Mais recentemente, japoneses patentearam o direito de comercialização internacional do açaí e do cupuaçu na Alemanha a fim de dificultar as reações jurídicas brasileiras. Perderam. Bem feito! O aloprado presidente francês Emmanuel Macron chegou a tecer ameaças ao Brasil, assim como o candidato democrata Joe Biden.
Sem moral
Exceto os países formadores da antiga Iugoslávia, nenhuma nação europeia – dessas que esperneiam – tem moral para falar mal dos sul-americanos ou ameaçar a soberania dos países nos quais se estende a Amazônia legal – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname. Propositalmente ficaram de fora a Venezuela, destruída pela implacável ditadura, e a colonizada Guiana Francesa, cujo território já perdeu mais de 50% da vegetação natural.
É bom relembrar que portugueses, espanhóis, ingleses, holandeses e, principalmente franceses, desmataram quase toda a Mata Atlântica no primeiro século da conquista da América. Mesmo assim, o Brasil ainda preserva mais de 60% das florestas naturais, o que representa pouco mais da metade do território, equivalente à metade da Europa. Enquanto isso, a França não tem um por cento de mata nativa, tampouco a Alemanha. Que se mantenham longe daqui em sua insanidade! Preocupem-se também com a devastação de florestas nativas no Congo, Camarões, Nigéria, Angola, Papua-Nova Guiné, Indonésia, Malásia, Brunei, Rússia.
Olhando no espelho
A obrigação de preservar a natureza pertence aos brasileiros. Para tanto, é preciso uma política ambiental séria. Por que ela não pode ser considerada hoje? Porque boa parte do latifúndio se encontra nas mãos de políticos ou de apoiadores, e esses pressionam o Congresso para impedir leis restritivas à ganância de seres irresponsáveis e inconsequentes. Há necessidade de fiscalização efetiva contra os abusos de queimadas, desmatamentos, contrabandos, grilagem, vampiragem, escravidão, assassinatos. A lei tem de ser aplicada implacavelmente, com multas milionárias e punições exemplares, tais como o confisco de bens, cadeia e deportação – no caso de estrangeiros. Omisso, o governo federal, tal como todos os anteriores, continua permitindo a perpetuação do poder lobista de fazendeiros junto ao Congresso Nacional, outro culpado pela devastação amazônica. Omissa, a imprensa (nacional e estrangeira) não faz a lição de casa e se ajusta única e exclusivamente às pautas ideológicas polarizantes de editores e proprietários idiotas.
Um recado final aos detentores de olhares nada confiáveis em direção à Amazônia: a Floresta Amazônica pertence aos brasileiros e se torna inaceitável qualquer ingerência nos problemas nacionais. Os europeus devem se preocupar com os idosos, abandonados pelos filhos, e os norte-americanos atentem para o excesso de crianças abusadas em seu país, sem a devida atenção dos pais.
Em suma: governo que não cumpre seu papel deve ser trocado democraticamente nas urnas. Imprensa que não cumpre sua missão deve ser desprezada e relegada ao esquecimento.