A Mulher Maravilha do Brasil?
- 11 de novembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Apesar de manter sua linha editorial, Carta Capital seguiu o rumo dos outros periódicos brasileiros. A imagem da presidente Dilma Rousseff vem sendo modificada: não destruída.
Thamires Mattos
A revista Carta Capital é conhecida por sua linha editorial. Provavelmente, o “império” de Mino Carta é o único a professar ideais esquerdistas entre as grandes semanárias brasileiras. O periódico conta com um design, de certa forma, “oposto” à sua arquiinimiga nas bancas: Veja . Enquanto Carta utiliza fontes finas e fundos claros, Veja é intensa. Páginas amarelas para entrevista pingue-pongue, fontes grossas e capas claramente tendenciosas. A maioria dos leitores de periódicos se conforma em saber que “a Veja é contra a Dilma”, mas muitos não formam opiniões sólidas sobre Carta Capital .
De maneira leve (em comparação com a Revista Veja ), Carta Capital mostra o que pensa. Quando a reportagem de capa trazia a instabilidade do Governo Brasileiro, o background era o branco da paz. Uma Dilma em pé, de costas e com os pés tortos mostrava insegurança – mas, acima disso, certeza. Certeza de que tudo ficaria bem, e que o olhar desconfiado que ela joga é para trás, e não para o futuro. Certeza de que o Brasil pode ser ótimo.
Ao ser eleita presidente (ou presidenta, como preferir), a Carta Capital lançou uma edição especial. Na capa, podemos ver uma Dilma sorrindo e acenando para o público. Seu rosto reluz de felicidade. Ela veste uma de suas “marcas registradas”, o terninho vermelho. A chamada? “Mulher e presidente”. Afinal, para Carta , mulher não só pode como deve ser tudo isso se assim desejar. Esse é outro aspecto interessante da revista: ao contrário de suas “rivais”, faz questão de estampar o feminismo em suas edições. Talvez por isso a ascensão de Dilma Rousseff ao poder tenha um apoio “potencializado” de Mino Carta.
Em 2011, a revista mostra uma Dilma firme em suas decisões e buscando a identidade de seu governo. Uma presidente forte, que consegue desafiar os Estados Unidos durante uma Assembléia das Nações Unidas. No entanto, dentre este grupo de capas lisongeiras, uma outra chama atenção. Intitulada “07 de junho de 2011: com a demissão de Palocci, Dilma Rousseff de fato toma posse”, a imagem é o “retrato presidencial” em uma parede. A foto oficial de Dilma após sua posse em 2011, emoldurada. Carta Capital prega a originalidade de Dilma diante dos percalços enfrentados durante sua primeira gestão.
A partir de 2015, Dilma Rousseff começou a ser retratada de maneira mais crítica. Imagens como um sapato de salto quebrado habitaram as capas dE Carta Capital . O bombardeio da mídia contra o governo da petista não deixou Mino de fora, afinal. Cartas de baralho trazem a mensagem “Impeachment: a sorte está lançada”. Na edição “Quatro anos pela frente”, a imagem de uma Dilma olhando para o horizonte em tons envelhecidos é pouco esperançosa e remete a um futuro sem glória e conquistas para o Brasil.
Apesar de manter sua linha editorial, Carta Capital seguiu o rumo dos outros periódicos brasileiros. A imagem da presidente Dilma Rousseff vem sendo modificada: não destruída. Deixou de ser a “mulher maravilha” tupiniquim. Se tornou o símbolo de um país desestruturado e sem grandes expectativas. Mostra um governo vazio, confuso, desorientado – que anda para todos os lados em busca de soluções, mas apenas cria mais problemas. É claro: Carta não é ríspida ao passar essas informações. É sutil, até romântica. Mostra as mudanças do Brasil sem receios, mas pauta suas informações pelo pensamento popular.