A importância da cobertura local
- 5 de junho de 2024
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- Theillyson Lima
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Os jornais gaúchos também participaram da tragédia.
Isabella Maciel
O desastre natural que assola milhares de famílias no Rio Grande do Sul gerou uma comoção nacional para ajudar os moradores das regiões afetadas pelas enchentes. Essa tragédia resultou em novos problemas para o estado, mas também movimentou os brasileiros, famosos, grandes empresas e instituições para ajudar os mais afetados. Mas a pergunta que fica é: como ficou a cobertura jornalística local?
Para entender como foi feita a cobertura local no início das enchentes, foi realizada uma análise das matérias publicadas dos dias 31 de abril a 10 de maio no portal de notícias Gazeta Zero Hora, Agora RS e G1, Portal de Notícias da RBS.
Cobertura no início das enchentes
A chuva forte em Santa Cruz do Sul começou no dia 27 de abril, se estendendo por mais 10 dias, sobrecarregando as bacias dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí que transbordaram e devastaram lares, lembranças, famílias e vidas que foram perdidas nas enchentes.
As águas das bacias chegaram ao Guaíba e à Lagoa dos Patos por serem interligadas, o que acabou tirando mais pessoas de suas casas. O Rio Grande do Sul já havia sofrido com enchentes no passado, mas em 2024 a água atingiu um nível nunca visto antes. A região da serra também não ficou ilesa das enchentes, sofrendo com deslizamentos de terra na região.
Entre os dias 27 e 29 de Abril os portais abordaram as chuvas, os impactos e a previsão para os próximos dias no sul do país, pois o Inmet emitiu uma previsão de intenso volume de chuvas. Mas só a partir do dia 30, quando as duas primeiras mortes foram registradas, que a internet foi a loucura. A Gazeta compartilhou um vídeo que mostra a Força Aérea Brasileira (FAB) realizando o resgate de pessoas ilhadas.
No dia 1 de maio, a Gazeta Zero Hora registra as atualizações de mortos, desaparecidos e número de deslocados pela enchente, já o Agora RS bombardeia o site com atualizações sobre o nível do Taquari, evacuação de áreas de risco, suspensão de operações do Catamarã e traz notícias menos abrangentes, trazendo o olhar para o que está acontecendo em cada canto do estado. E o vídeo de uma mulher sendo arrastada pela correnteza em Candelária viraliza na internet.
Na quinta-feira (2) não se falava em outra coisa, o Guaíba havia ultrapassado a cota de inundação, a barragem 14 de julho se rompe parcialmente e o rio Taquari passa dos 30 metros e atinge o maior nível da história do Rio Grande do Sul. O país inteiro já se movimentava para ajudar o estado, as páginas principais dos portais de notícias praticamente só rodavam notícias do RS, instruções de como ajudar, atualização de como os abrigos se encontravam, o que a defesa civil havia pedido de doações.
O final de semana começou com o pé esquerdo, com a notícia da atualização das vítimas no fim da sexta-feira, com 39 mortos e 68 desaparecidos. No dia seguinte a Gazeta repassou a notícia de que a Conmebol havia adiado os jogos do Inter e Grêmio pela Libertadores. O resto do final de semana foi o puro desastre, Guaíba atingiu 5 metros, as águas atingiram rodoviária, aeroporto, centro histórico, arena e centro de treinamento do Grêmio, a enchente bateu o recorde de 1941 sendo considerada o maior desastre natural do estado.
A tragédia foi tão grande que as pessoas começaram a entrar em estado de pânico, o que gerou o surgimento de algumas fake news, então a Gazeta foi lá e publicou uma reportagem sobre o que era de fato real e o que não era. Enquanto isso, o Agora RS e o G1 divulgavam a recomendação da evacuação de Sarandi, Cidade Baixa e Menino Deus. Ainda foi divulgada a ação do grupo Carrefour, que congelou os preços dos alimentos de todos os mercados do estado até o dia 31 de maio.
Na terça-feira (7) notícias com o rosto de famosos começaram a surgir, “Neymar envia jatinho com doações…”, “Médicas, Ex-BBBs, …”, manchetes como essas ocupavam o espaço na página principal da Gazeta. Enquanto isso, o Agora RS priorizou anunciar os pedidos de evacuação, doação, e pontos bloqueados no estado.
Diferenças entre os veículos
As matérias produzidas pela Gazeta tem o objetivo de alcançar o público e levar a informação de uma forma mais objetiva e condensada. Enquanto o Agora RS tem uma pegada bem mais local, uma produção mais frenética do jornalismo sobre que está acontecendo, muito focado no hard news e na colaboração com o estado e a divulgação sobre cada pedacinho da tragédia e não só o que é comercial.
Já o G1 tem um fluxo de produção bem mais antigo e tradicional, então, o portal contou com muita notícia hard news, análises de possíveis desdobramentos, produção de conteúdo em vídeo e texto. E ainda contou com uma reportagem sobre a linha cronológica da tragédia.
Porém, apesar das diferentes produções, o objetivo é o mesmo: levar a notícia à quem pode ajudar. Em momentos como esses de tragédias, o trabalho do jornalista não é só levar a informação e manter a população informada, mas também é fazer essa notícia chegar a quem pode ajudar.
A produção de jornais locais é vital para o jornalismo, pois proporciona uma cobertura detalhada e contextualizada de eventos e questões que afetam diretamente as comunidades. Esses veículos desempenham um papel crucial na promoção da transparência, responsabilização e participação cívica, oferecendo informações que muitas vezes são negligenciadas pela mídia nacional.
Em um cenário no qual a mídia globalizada pode complicar as necessidades e preocupações locais, os jornais locais garantem que essas questões recebam a atenção necessária, contribuindo assim para uma sociedade mais informada.