A Hora da Venenosa: a subversão do jornalismo de fachada
- 1 de novembro de 2023
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- Theillyson Lima
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Manual de como uma fofoca pode ser ilegal.
Ana Beatriz Toyota
Atualmente as mídias audiovisuais trazem palco muitas vezes para conteúdos sensacionalistas. A ênfase excessiva em escândalos e na vida privada dos famosos é uma prática que não apenas invade a privacidade das pessoas, mas também desvia a atenção do público de questões mais importantes e relevantes. A obsessão por sensacionalismo em detrimento da ética jornalística é uma tendência preocupante que precisa ser repensada, a fim de preservar a integridade e a credibilidade do jornalismo como um todo.
O quadro “A Hora da Venenosa” faz parte programa jornalístico “Balanço Geral”, conhecido no mundo profissional como um mau exemplo de ética jornalística, uma vez que é centrado no sensacionalismo e na emoção dos telespectadores. Tudo isso é realizado com o intuito de receber um bom “feedback” do público e aumentar a audiência com coberturas até mesmo abusivas, não respeitando a ação de autoridades mediante a um crime, sendo invasivo em situações de risco de vítimas com o objetivo de manter com a preocupação excessiva a fim de conseguir o “furo” perfeito.
Fabíola Reipert
A jornalista e apresentadora de “A Hora da Venenosa”, Fabíola Reipert, começou sua carreira na coluna Zapping do Jornal Agora, do Grupo Folha, onde atuou por onze anos. Dentro da TV, estreou em 2003 no Superpop, no quadro “Vai Encarar?” oferecido pela Rede TV. Fabíola entrou para o Portal R7 produzindo uma coluna entre 2009 e 2016 e desde 2014 comanda o quadro “A Hora da Venenosa” com Reinaldo Gottino e Renato Lombardi dentro do Balanço Geral.
Por comandar um quadro de fofoca, a jornalista esteve presente em diversos conflitos envolvendo a justiça e famosos. Um dos mais conhecidos foi com a atriz e cantora brasileira Larissa Manoela. O caso ficou conhecido, e terminou com intervenção da justiça. Nesse episódio, Fabíola havia publicado uma coluna com o título “Larissa Manoela é vista com Filho de Leonardo e levanta suspeita de gravidez”, texto que causou desconforto no público porque na época a atriz tinha apenas 14 anos. A notícia sensacionalista e caluniosa causou incômodo principalmente nos pais, que resolveram buscar os meios legais para intervir.
“Larissa Manoela, aquela atriz-mirim que começou a namorar bem cedo (agora está com 14 anos), tem sido vista em companhia de outro rapaz. A bola da vez é João Guilherme, filho do cantor Leonardo. Há rumores nos bastidores de que a menina estaria grávida, devido a uma barriguinha saliente, mas a atriz nega a informação, inclusive não confirma que esteja namorando. O tempo dirá, né?”, apresentava o texto, que acabou sendo retirado do ar.
Em primeira instância, Fabíola foi condenada a pagar uma indenização de 30 mil. No entanto, a mesma recorreu e em uma segunda instância a justiça declarou que Larissa não havia sofrido danos morais. “A atriz [Larissa], naturalmente conquistou a fama almejada, e terá de aprender a conviver com ela. Deverá se despir do seu excesso de sensibilidade, e compreender que a divulgação de informações e críticas a seu respeito, são meros consectários da profissão escolhida e da posição conquistada. Portanto, é caso de se rever a sentença apelada. Considerando os requisitos da responsabilidade civil, não vislumbro a presença de atitude ilícita tampouco de dano”, concluiu o acórdão em sua colocação oficial.
O caso foi levado ao Supremo Tribunal de Justiça, que manteve a decisão de segundo grau.
A decisão da Justiça, que absolveu Fabíola Reipert da acusação de dano moral por insinuar uma gravidez da atriz quando tinha apenas 14 anos, levanta questões relevantes sobre os limites da liberdade de imprensa e o respeito à privacidade, em um contexto em que as redes sociais e a busca incessante por notícias sensacionalistas frequentemente tiram cada vez mais o foco para o jornalismo de qualidade.
Liberdade de imprensa
Depois da polêmica que foi o caso de Fabíola em “A Hora da Venenosa” com a atriz Larissa Manoela, a resolução foi dada com um acordo de indenização de 26 mil para a atriz a fim da mesma fechar o processo. Com a derrota de Larissa, a jornalista publicou em suas redes sociais “Vence a liberdade de imprensa contra a censura!”. Essa declaração dividiu opiniões principalmente dentro do meio profissional. A dualidade em relação à liberdade de imprensa e o sensacionalismo/fofoca reflete um dilema constante, porque toca naquilo que é liberdade daquilo que é antiprofissional.
A liberdade de imprensa é um princípio fundamental em democracias, garantindo o direito dos jornalistas de investigar e reportar notícias sem censura governamental. Ela desempenha um papel essencial ao expor corrupção, abusos de poder e questões de interesse público.
No entanto, essa liberdade muitas vezes se desvia para o sensacionalismo e a fofoca, que exploram aspectos pessoais e escandalosos da vida de figuras públicas, comprometendo a integridade jornalística. A diferença principal está na ética e responsabilidade dos profissionais da mídia: a liberdade de imprensa responsável busca informar e educar, enquanto o sensacionalismo e a fofoca visam a obtenção de audiência fácil.
Para diferenciar a liberdade de imprensa do antiprofissionalismo, é crucial considerar a intenção e a qualidade do jornalismo. A liberdade de imprensa deve ser guiada pelo compromisso com a busca da verdade, pela verificação rigorosa de fatos e pelo respeito aos princípios éticos, como a proteção da privacidade quando não há interesse público claro. O antiprofissionalismo sensacionalista, por outro lado, negligencia tais princípios em busca de manchetes com informações não verificadas e exploração de questões pessoais sem relevância pública. É essencial para os consumidores de notícias e os próprios jornalistas discernir entre essas abordagens, promovendo a transparência, a responsabilidade e a educação do público sobre os padrões jornalísticos adequados.