A grande comissão
- 5 de setembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Alysson Huf
“Então, Jesus aproximou-se deles e disse: ‘Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu ordenei a vocês. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos’”– Evangelho segundo Mateus, capítulo 28, versos 18 a 20.
Estas palavras de Jesus ecoam na mente dos cristãos há mais de dois mil anos e funcionam como combustível para a obra missionária das igrejas em todo o mundo. Desde o surgimento das primeiras comunidades cristãs, anunciar o Evangelho, as boas notícias do Reino de Deus, são o grande objetivo daqueles que decidiram seguir o sábio de Nazaré. E ao longo dos tempos, a pregação dos valores messiânicos evoluiu, adaptando-se aos diferentes contextos geográficos, históricos e culturais.
Primeiro, os evangelistas faziam prosélitos por meio dos grandes discursos, dos sermões bem elaborados e de retórica minuciosamente trabalhada. De vez em quando, se necessário, escreviam suas mensagens em papiros e pergaminhos que seriam lidos por seus irmãos de fé em lugares distantes, onde a voz dos pregadores não podia ser ouvida. No entanto, esse tipo de material, por ser caro e de difícil manuseio e conservação, foi usado de maneira bem econômica por séculos. Até que Gutenberg criou uma estranha máquina que facilitou a vida de muita gente, especialmente a dos religiosos mais engajados com a obra evangélica.
No século XX a situação mudou mais ainda. A invenção do Rádio e da Televisão mudou a forma de o mundo se comunicar e os religiosos, que não vivem em outro planeta (embora pretendam fazê- lo), acompanharam o progresso. No caso do Brasil, muitas denominações mantinham publicações impressas em circulação pelo país, mas foi a Igreja Adventista do Sétimo Dia a primeira denominação a se aventurar no evangelismo via ondas de Rádio (década de 1940) e via Televisão (década de 1960). Hoje, todos os brasileiros conhecem ou assistem a programas religiosos da TV aberta, das mais variadas vertentes e dos mais diversos pastores, profetas e apóstolos, como o famoso Show da Fé. Além disso, muitas denominações, cristãs ou não, são detentoras de canais de TV e de emissora de rádio que veiculam programação proselitista 24 horas por dia. Com a internet, aquelas religiões de menor popularidade, que não tinham recursos para pagar um horário nos meios de comunicação em massa, também encontram um lugar ao sol para vender os seus peixes (e seus cinco pães).
Todo esse engajamento midiático teve início na busca por cumprir a ordem de Jesus apresentada no primeiro parágrafo deste texto. O intuito de divulgar a mensagem que dá o tom à vida de tantas pessoas é o que leva os principais segmentos religiosos a usarem as mídias como plataforma de pregação. É claro que as ambições mercadológicas contaminaram alguns desses segmentos, mas não dá para afirmar que esse é o caso de todos os religiosos. Muitas denominações ainda mantêm uma programação que não é pautada pelo escândalo, nem pelo sensacionalismo barato que anseia arrebanhar fiéis inocentes. Não joguemos fora o bebê junto com a água suja.