CARTA CAPITAL – Mídia, religião e laicidade
- 5 de setembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Sandra Maciel
A religião tem sido motivo de discussões por longos anos. A tensão aumenta quando política e mídia ficam entrelaçadas no Brasil “laico”.
A atual Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 5o, inciso VI, dispõe que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos. É garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
A liberdade de consciência pode escolher tanto aderir a determinados valores morais e espirituais que não se confundem com nenhuma religião, quanto não admitir crença alguma. Esse é o caso dos ateus e agnósticos. Já a liberdade de crença, por sua vez, envolve o direito de escolha da religião e de mudar de religião.
Por conta desta lei o Brasil é considerado Estado Laico. No entanto, essa laicidade tem sido questionada em vários aspectos. A Constituição Federal, em seu art. 19, inciso I, preconiza que é vedado ao Poder Público estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.
Segundo o pesquisador Celso Lafer, o modo de pensar laico está na raiz do princípio da tolerância, base da liberdade de crença e da liberdade de opinião e de pensamento. Em sua obra “Estado Laico: Direitos Humanos, Democracia e República” ele afirma que “o modo de pensar laico teve o seu desdobramento nas concepções do Estado. O Estado laico é diferente do Estado teocrático e do Estado confessional. No Estado teocrático, o poder religioso e o poder político se fundem, como no Irã, por exemplo.
No Estado confessional existem vínculos jurídicos entre o Poder Político e uma Religião como no caso do Brasil império, cuja religião oficial era a católica”. O Estado laico, por sua vez, “é o que estabelece a mais completa separação entre a Igreja e o Estado, vedando qualquer tipo de aliança entre ambos”.
O ditado popular diz: “política e religião não se discute”. Mas, como dizia Aristóteles, “o homem é um animal político” em sua própria natureza. Já a religião é crer em algo, mesmo que este algo seja não crer em coisa alguma. Desta forma, todos têm sua religião. Assim sendo, somos levados a crer que todo o ser político é religioso e todo o ser religioso é político.
Consequentemente, atrás dos lideres de estado e dos veículos de comunicação, existem homens políticos e religiosos. Neste contexto é interessante analisar a exposição da religião na mídia, e as tendências religiosas atrás dos veículos ou dos profissionais de comunicação no Brasil. E ao que parece a laicidade no Brasil é manipulada.
A revista Carta Capital em seu discurso, a princípio expõe sua defesa aos direitos laicos no país. A matéria Juiz ‘reconsidera’ decisão e diz que candomblé e umbanda são religiões do dia 21 de maio de 2014, defende os direitos constitucionais da liberdade religiosa contra o estado.
Constatou-se em análise mais profunda, em relação à mídia e religião, que na maior parte das matérias a Carta Capital procura mostrar a força atuante da Igreja católica na mídia e na política.
Através de críticas abertas em títulos como Papa é um Feliciano com muito mais poder e o apoio da Globo, do dia 23 de julho de 2013, a revista mostra sua desaprovação ao clero e à Rede Globo. A matéria traz a seguinte linha fina Homofobia, machismo, apego ao dinheiro, religião interferindo no Estado. Os motivos que inspiram o ‘fora Feliciano’ se aplicam ao papa. Com o agravante de que ele é bem mais poderoso. A revista mostra a similaridade da postura de Feliciano com a do Papa nesta matéria. Mesmo dando a entender uma injustiça a Feliciano, os coloca no mesmo grau de culpabilidade. Ou seja, condenam tantos os evangélicos quanto os católicos. Além disso, há o cabo de guerra com a Rede Globo que frequentemente é alvo de críticas na revista.
A revista tenta defender o estado laico condenando a igreja católica, a Globo e os evangélicos como Edir Macedo. Com títulos como Francisco ou Pilatos? e linha fina O Papa foi no mínimo omisso no período mais tenebroso da ditadura Argentina, do dia 24 de março de 2013, e O poder dos evangélicos na política – Os evangélicos crescem com efeitos importantes na política, mas só Deus conhece o desfecho dessa história em 12 de agosto de 2014, nos perguntamos: onde está a laicidade quanto aos evangélicos e católicos nas matérias da Carta Capital?
Devemos compreender a profundidade de respeitar a liberdade religiosa do outro. Por trás da Carta Capital existem homens “animais políticos e religiosos”.