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Ausências na COP 30: o que está por trás das decisões dos países

  • 25 de novembro de 2025
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  • Theillyson Lima
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Líderes de 4 dos 5 países que mais poluem não estão na COP 30.

Amanda Talita

Já imaginou uma conferência sobre clima em que alguns dos maiores emissores de gases de efeito estufa simplesmente não comparecem? Pode parecer improvável, quase irresponsável, mas essa foi a realidade da COP 30 em Belém. O evento que deveria simbolizar avanço global pela sobrevivência climática acabou escancarando como geopolítica, conflitos internos e interesses econômicos moldam e fragmentam um debate que deveria ser universal. Embora 191 países estivessem credenciados, foram as cadeiras vazias de determinadas potências que mais chamaram atenção.

A ausência de certos países não foi apenas um gesto diplomático, mas uma mensagem política calculada. Em uma conferência que representava urgência e ação coletiva, a decisão de alguns governos de não enviar representantes de alto escalão evidenciou divergências profundas sobre o papel das COPs, sobre o ritmo da transição energética e sobre a credibilidade do sistema multilateral da ONU. No conjunto dos ausentes estavam justamente países que, sozinhos, respondem por mais da metade das emissões globais. Só EUA, China e Índia somam mais de 40%. A decisão de não enviar seus líderes interfere diretamente na efetividade das negociações, já que boa parte das metas só avança quando há aval presidencial.

Entre os países ausentes estavam nações em conflito, governos politicamente instáveis e regimes que enxergam as conferências climáticas como ameaça direta a seus modelos econômicos. A ausência funcionou como protesto silencioso, ou nem tanto, contra o que consideram pressão ocidental, desequilíbrio no financiamento climático e críticas ambientais que não pretendem aceitar.

Ausências que dizem muito

As justificativas oficiais variaram entre “complexidade logística” e “incompatibilidade de agendas”, fórmulas diplomáticas usadas para suavizar escolhas essencialmente políticas. Em outros casos, o silêncio predominou, reforçando a indisposição de dialogar sobre o clima. Em Belém, diplomatas relataram que algumas delegações sequer responderam às tentativas de confirmação, evidenciando uma estratégia consciente de distanciamento.

Havia ainda um componente geopolítico claro: a COP 30 foi marcada por choques entre blocos econômicos sobre financiamento climático, compensações históricas e metas de emissões. Países altamente dependentes de combustíveis fósseis avaliaram que comparecer a Belém seria se colocar em um palco desfavorável. A ausência virou ferramenta diplomática, sinalizando resistência. Nos bastidores, negociadores da União Europeia afirmaram que a ausência de grandes potências “recuou o relógio das negociações”, já que temas críticos — como o novo marco de financiamento — não avançam sem consensos políticos entre gigantes da economia global.

O contexto econômico também pesou. Diversas economias, especialmente no Hemisfério Oriental, enfrentam desaceleração, inflação e dependência crescente de setores poluentes. Comparecer à conferência significaria encarar debates capazes de pressionar suas atividades mais lucrativas. O Sudeste Asiático, que ampliou o uso de carvão nos últimos dois anos, demonstrou resistência em assumir metas mais rigorosas sem garantias financeiras robustas. A percepção geral era de que as COPs cobrariam muito mais do que ofereceriam.

Com Donald Trump em seu segundo mandato, os EUA retornaram ao isolacionismo climático. A saída definitiva do Acordo de Paris foi apenas o início: a ausência de representantes norte-americanos de alto nível na COP 30 marcou distanciamento ainda mais expressivo. Historicamente, a presença dos EUA é determinante para destravar compromissos e pressionar outras nações a agir. Sem Washington, boa parte das negociações sobre financiamento, especialmente o novo fundo de US$ 100 bilhões anuais, empaca.

Mas Trump não foi o único a deixar a cadeira vazia. A COP 30 registrou a ausência dos líderes da China, Índia e Rússia, três dos principais emissores globais. Embora tenham enviado delegações técnicas, a falta dos chefes de Estado esvazia o peso político das negociações. Xi Jinping não foi. Narendra Modi também não. Vladimir Putin manteve distância. Juntos, EUA, China, Índia e Rússia representam mais de 55% das emissões globais, mesmo assim, seus líderes não compareceram. Sem eles, temas estruturais, como revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e acordos de cooperação tecnológica, ficaram praticamente congelados.

O Japão justificou sua falta alegando compromissos parlamentares. Já a Argentina, sob Javier Milei, manteve indefinição até o último momento. A ausência final do presidente reforçou sua postura negacionista e o entendimento de que, para certos governos, o debate climático segue sendo tratado como opção ideológica, e não como urgência global. Especialistas apontam que Milei também evitou a COP para não enfrentar pressões por políticas ambientais que contrariam sua agenda ultraliberal.

Interesse político

Boa parte das economias ausentes depende intensamente de petróleo, carvão ou gás natural. Qualquer compromisso firmado em conferências climáticas implica mudanças estruturais profundas, capazes de alterar receitas nacionais, relações com elites econômicas e até estabilidade interna. Não ir é uma forma de evitar assumir compromissos antes mesmo que eles sejam discutidos. Países do Golfo, por exemplo, até compareceram, mas sob níveis reduzidos de representação, sinalizando desconforto com metas de eliminação dos combustíveis fósseis.

Em diversos países, o negacionismo climático também virou estratégia eleitoral. Líderes rejeitam acordos ambientais porque isso agrada sua base política, mesmo diante de eventos extremos cada vez mais frequentes. Negar a ciência tornou-se narrativa, e a COP 30 sentiu as consequências dessa retórica. Nos EUA, o discurso de Trump de que “acordos climáticos prejudicam trabalhadores” cresceu, e sua influência repercutiu em delegações latino-americanas alinhadas à sua agenda.

Outro ponto central é o financiamento climático. Desde a COP 21, países em desenvolvimento cobram promessas que, em sua maioria, permanecem no papel. Para muitos dos ausentes, participar de mais uma conferência sem avanços concretos nos recursos pareceu inútil. A ausência, nesse caso, se tornou protesto. Delegados africanos afirmaram em Belém que “sem dinheiro, a transição é ficção”. A frustração tomou conta dos debates.

Países como Venezuela e Cuba enfrentaram entraves até na hospedagem: foram barrados de um navio de cruzeiro devido a sanções internacionais. Um episódio que mostra como disputas geopolíticas externas ao clima afetam até a logística do evento. O Brasil tentou intervir diplomaticamente para evitar o constrangimento, mas esbarrou em barreiras legais impostas pelas empresas de cruzeiro.

Nos bastidores, entidades da sociedade civil criticaram a redução no número de crachás. Organizações tradicionais relataram restrições de acesso, enquanto a ONU alegou capacidade limitada frente ao aumento do número de credenciamentos. O sentimento geral, porém, foi de frustração, limitar vozes num momento crucial da crise climática só amplia o desequilíbrio do processo. A presença da sociedade civil sempre foi o contraponto ao peso dos lobbies fósseis, que, segundo observadores, nunca foram tão numerosos quanto nesta edição.

O que fica depois do vazio?

Alguns países nem participam formalmente porque não integram o Acordo de Paris, casos de Irã, Líbia, Iêmen e Eritreia. Ausências esperadas, mas que reforçam o abismo global na governança climática. Em um mundo em que eventos extremos se multiplicam, ainda há países inteiros desconectados do pacto mínimo que sustenta a discussão climática.

Para o Brasil, anfitrião da conferência, o vazio deixou um dilema incômodo. O país buscava se firmar como liderança global e catalisador de consensos, mas encontrou um cenário fragmentado, marcado por disputas entre potências e esvaziamento político. Diplomatas brasileiros admitiram que a ausência de grandes líderes dificultou acordos e reduziu o impacto final da conferência, frustrando parte das expectativas do Itamaraty.

A COP 30, portanto, expôs uma questão incômoda: o sucesso das conferências climáticas depende justamente daqueles que mais se afastam delas. A crise de representatividade das COPs se aprofunda, alimentada por interesses nacionais, impasses financeiros e descrença crescente no multilateralismo climático. Especialistas alertam que, se o processo continuar sendo esvaziado, novas instâncias paralelas, como alianças regionais ou acordos bilaterais, podem assumir o protagonismo.

Enquanto interesses nacionais continuarem se sobrepondo ao interesse coletivo, o vazio deixado por essas cadeiras não será apenas simbólico, será determinante para o futuro de todos.

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