COP 30: uma COP de centavos

A COP 30 reuniu cerca 195 países e cerca de 42 mil participantes.

Késia Grigoletto

Quantos problemas um único evento é capaz de ter? A COP 30 veio para mostrar que não há limites para sonhar com a quantidade de problemas para entregar. Foi o chanceler da Alemanha falando que ir embora do Brasil o deixou feliz, foi o Trump (que só liga para meio ambiente para falar de petróleo) criticando o ambientalismo de centavos do Lula, foi um pavilhão incendiado e mais alguns problemas que tomariam mais alguns parágrafos de descrição e tornariam o texto cansativo.  

Que evento vergonhoso, o presidente Lula prometeu mundos e fundos e entregou quase nada. Se um presidente que defende as pautas que ele defende, permite um fiasco de COP como foi essa, era melhor ter deixado o Bolsonaro no lugar, que prometia quase nada  e entregava o que prometeu. 

A COP do desmatamento 

Eu tenho o grande privilégio de ser nortista, sou acriana e meu estado tem 84% de sua vegetação territorial preservada e como uma nortista que ama o seu estado e entende que a realidade do norte é muito peculiar, eu posso afirmar que a floresta, a amazônia em si, é algo muito importante para o nativo. A amazônia é fonte de renda, de vida e de muita abundância. Um exemplo disso, é a castanha-do-pará, uma fonte de renda para milhares de famílias. Em 2024, duas mil toneladas da castanha foram responsáveis por 16 milhões de dólares. 

O desmatamento florestal gera muito sofrimento e graves consequências todos os anos. Ao propor a construção de uma estrada que prometia a redução de tempo no trânsito, o governo operou uma obra com um gasto de mais de 150 milhões de reais e com o desmatamento de centenas de árvores. Apesar do governo afirmar que a obra já era discutida há mais de 20 anos, calhou de ficar pronta justamente para o evento. Se o próprio governo age dessa forma, o recado que fica é que quem quiser desmata e faz o que quiser. 

O fato em si levanta muitos questionamentos: como um governo que se diz tão preservador da Amazônia condena centenas de hectares ao desmatamento prestes a hospedar um evento climático mundial num país como o Brasil ? Como um governo que se diz defensor dos mais vulneráveis, se importa mais com as aparências do que com o bem estar e o sustento de sua própria população ? 

Falta de infraestrutura e segurança 

Na lista de desastres colecionados nesta COP, está o incêndio da Blue Zone. Na tarde da quinta-feira (20), o pavilhão dos países que pertenciam a Blue Zone pegou fogo e todo o local da COP foi evacuado, só voltando a ser reaberto na parte da noite. A suspeita é de que o incêndio possa ter sido causado por um micro-ondas que estava instalado em um dos estandes. Isso é muito vergonhoso, nas edições anteriores do evento, coisas deste tipo não aconteceram. Se esta for realmente a causa do incêndio, será que o Brasil não possui competência para instalar uma fiação elétrica decente? 

Outra falha de segurança aconteceu logo no início do evento. Alguns manifestantes invadiram um perímetro da Blue Zone que só podia ser acessado por pessoas credenciadas. A guarda que estava responsável pelo local não conseguiu conter a manifestação e policiais da ONU que foram enviados de Nova York precisaram intervir e quatro deles acabaram feridos. 

No entanto, não para por aí, porque o Brasil resolveu construir uma coletânea de vergonhas da COP. O secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas enviou uma carta para Lula apontando problemas na infraestrutura e na segurança do evento. Isso é mais um sinal do grande amadorismo do Brasil. O mais impressionante é um presidente no terceiro mandato de governo que quer assumir um protagonismo internacional, porém,  que não possui uma equipe minimamente capaz de organizar uma conferência climática com um pouco de decência. 

De todos os eventos que o Brasil já sediou a COP 30 foi sem dúvidas o mais fracassado, foi vergonhoso, o que deu certo durante a conferência foi ínfimo ao que deu errado.  E dessa forma o Brasil vai eternizando a fama que tem no exterior de ser um país, em que as coisas não são levadas a sério, ou que são feitas de qualquer jeito. O grande poeta e cantor Renato Russo não poderia ter sido mais preciso para descrever o Brasil quando escreveu :

Terceiro mundo se for

Piada no exterior…

Que país é esse?

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