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Os limites da inclusão no mercado estético

  • 5 de novembro de 2025
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  • Theillyson Lima
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Indústria da beleza amplia discursos sobre diversidade, mas segue presa a barreiras estruturais que dificultam o acesso de milhões de consumidores.

Amanda Talita

O mercado de cosméticos, que por décadas foi construído com foco em um público específico, está vivenciando uma transformação impulsionada pela crescente demanda por acessibilidade e inclusão. A discussão sobre diversidade, que antes se limitava à representação de diferentes tons de pele e tipos de cabelo, agora abrange questões mais amplas, como mobilidade, deficiência visual e autonomia na experiência de compra e uso dos produtos. Embora o setor tenha feito avanços importantes nos últimos anos, ainda existem desafios estruturais que evidenciam lacunas significativas no acesso à beleza, revelando a necessidade urgente de um movimento mais profundo e genuíno em direção à inclusão de todos os consumidores.

Além da cor

Historicamente, a indústria da beleza se apoiou em padrões restritivos, priorizando a uniformidade e o consumo de massa. A crescente pressão de consumidores mais atentos e críticos forçou o mercado a repensar a diversidade de tons de pele e texturas de cabelo, incluindo linhas mais amplas e representações mais variadas em campanhas publicitárias. No entanto, a inclusão vai muito além do tom de pele: milhões de pessoas convivem com limitações físicas ou sensoriais que impactam diretamente a maneira como consomem cosméticos.

No Brasil, dados do IBGE apontam que existem mais de 17 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, enquanto mundialmente esse número ultrapassa a marca de 1 bilhão de indivíduos. Esses números evidenciam a urgência de políticas de acessibilidade e produtos adaptados, ainda que o setor pareça tratar o tema de forma periférica.

Esses obstáculos contrastam com o tamanho do próprio setor: o mercado global de beleza ultrapassou US$ 600 bilhões em 2024, e, segundo relatório da McKinsey, mais de 40% dos consumidores declaram que comprariam com maior frequência de marcas que oferecessem produtos acessíveis. Ou seja, enquanto a demanda cresce, as soluções seguem limitadas, deixando claro que o problema não é falta de mercado, mas falta de prioridade.

Incluir esse público exige repensar desde o design até a distribuição. Produtos que possam ser facilmente abertos por pessoas com mobilidade reduzida ou que ofereçam uma experiência sensorial mais acessível a quem tem deficiência visual, por exemplo. Isso também exige que o mercado esteja disposto a ouvir as demandas desse público e que se coloque no lugar de quem não tem todas as condições que são muitas vezes tidas como “padrão”.

Esses números falam por si só e reforçam a necessidade de um olhar mais atento para a criação de produtos e experiências acessíveis a todos. Só quando a indústria de beleza começar a tratar a acessibilidade como parte integral de seu processo criativo e de marketing, poderemos falar em uma verdadeira inclusão, que vá além das tendências momentâneas e se consolide como parte da estrutura do setor.

Promessas não cumpridas

Surgem ainda contradições claras: campanhas publicitárias enfatizam diversidade e representatividade, mas produtos acessíveis permanecem limitados e muitas vezes não chegam às prateleiras de maneira ampla.

Além disso, o setor enfrenta polêmicas sobre o real compromisso das marcas com a inclusão. Questionamentos sobre greenwashing e “inclusão performática” aparecem frequentemente: enquanto empresas comunicam preocupação com a diversidade, a implementação prática de produtos acessíveis e tecnologias adaptadas ainda é tímida, restrita a nichos ou protótipos. O resultado é uma sensação de promessa não cumprida, que mantém grande parte do público excluída.

Ainda que as campanhas mostrem rostos e corpos diversos, a verdadeira transformação no mercado de cosméticos precisa ir além da fachada. Há um vazio entre a mensagem e a realidade das prateleiras. Produtos que realmente atendam a diferentes necessidades de mobilidade, sensibilidade e autonomia muitas vezes são limitados a iniciativas experimentais, lançamentos pontuais ou até campanhas de marketing que buscam gerar engajamento, mas sem um comprometimento real com a mudança estrutural. Isso gera uma frustração evidente para os consumidores que buscam uma experiência de compra verdadeiramente inclusiva.

O maior desafio está na falta de continuidade dessas iniciativas. Muitas vezes, o foco está na criação de algo visualmente atrativo, um produto que se encaixe bem no discurso de diversidade, mas que não tenha a funcionalidade real que possa atender a todos. Isso cria um ciclo de promessas que não se materializam, reforçando a ideia de que a inclusão é mais uma estratégia de marketing do que uma prioridade legítima. As marcas ainda precisam dar passos significativos para tornar esses produtos acessíveis em larga escala, e não apenas para uma parcela limitada do público, caso contrário, a sensação de exclusão permanecerá presente para muitos.

O papel da tecnologia

A tecnologia surge como um recurso essencial para superar barreiras de acessibilidade. Ferramentas digitais, aplicativos de realidade aumentada e sistemas de inteligência artificial podem facilitar a escolha de tons, simular a aplicação de produtos e fornecer informações táteis ou auditivas sobre os cosméticos. Ainda assim, a adoção dessas soluções é desigual: grandes centros urbanos recebem mais atenção e investimento, enquanto regiões periféricas e populações de baixa renda ficam à margem dessa transformação.

O desafio, portanto, não se limita à criação de produtos, mas à democratização do acesso à tecnologia que viabiliza uma experiência inclusiva. Para que o setor realmente avance, é necessário repensar o mercado de ponta a ponta: do design à distribuição, do marketing à experiência de compra, considerando a diversidade funcional dos consumidores. A tecnologia pode ser uma aliada poderosa, mas seu impacto real só será alcançado quando houver uma distribuição equitativa e uma adaptação que alcance todas as camadas da sociedade.

Os limites da inclusão 

Outro ponto crucial envolve a cultura corporativa e a formação dos profissionais da indústria. Muitas equipes de desenvolvimento e marketing ainda tratam acessibilidade como estratégia de comunicação, não como necessidade prática. Essa visão limitada resulta em soluções superficiais que não atendem às demandas reais de uma população diversa. A inclusão exige um processo mais profundo, com treinamento contínuo, pesquisas qualitativas e contato efetivo com pessoas que vivenciam diariamente dificuldades de acesso ao mercado de cosméticos.

A responsabilidade social do setor vai além do lucro. Produtos inclusivos não apenas ampliam a base de clientes, mas geram impacto social positivo ao quebrar barreiras históricas. Ignorar essa dimensão reforça desigualdades e afasta consumidores que buscam marcas comprometidas com o bem-estar coletivo.

Apesar de avanços na representação étnica e de gênero, a acessibilidade para pessoas com deficiência ainda avança lentamente. O setor vive uma tensão constante entre inovação e práticas tradicionais: enquanto campanhas exaltam diversidade, as prateleiras continuam carecendo de produtos realmente acessíveis. A inovação, portanto, precisa deixar de ser discurso e se transformar em ações concretas.

Para que a mudança seja efetiva, a indústria precisa compreender que inclusão não é ornamento estético nem estratégia de imagem. Trata-se de responder a uma demanda social urgente, removendo barreiras presentes nos produtos, nas campanhas, nas lojas e nas plataformas digitais. Só com compromisso contínuo e investimentos estruturais será possível construir um mercado verdadeiramente acessível, onde todos possam participar plenamente da experiência da beleza.

Inovação acessível

A democratização da beleza exige medidas concretas, muito além de campanhas publicitárias. Embalagens de fácil abertura, sistemas táteis ou digitais de identificação de cores, fórmulas adaptadas a limitações motoras e equipes de atendimento capacitadas são exemplos de soluções capazes de transformar o mercado.

Essas inovações redefinem a forma como consumidores interagem com os produtos. Embalagens que podem ser abertas com uma única mão e rótulos em braille, alto-relevo ou áudio garantem mais autonomia a pessoas com deficiência visual ou motora. Tecnologias que ajudam a identificar tons de pele ou simular a aplicação de cosméticos facilitam a escolha do produto, reduzindo a dependência de vendedores ou de lojas físicas.

A acessibilidade, porém, não beneficia apenas um grupo específico. Produtos pensados para pessoas com deficiência se tornam mais intuitivos, ergonômicos e confortáveis para todos. Afinal, quem nunca enfrentou uma embalagem difícil de abrir ou um aplicador desconfortável? Quando a inovação considera diferentes realidades, ela eleva o padrão de qualidade de todo o setor. Avançar nesse sentido não apenas corrige desigualdades históricas, mas melhora a experiência de uso de forma ampla, agregando valor econômico e social ao mercado da beleza.

O futuro da indústria

O debate sobre acessibilidade no mercado estético mostra que diversidade não pode ser apenas simbólica. Representatividade de tons, texturas e estilos é importante, mas precisa vir acompanhada de soluções que garantam autonomia real a todos os consumidores. Não basta ampliar paletas de cores ou exibir campanhas diversas se os produtos continuam incapazes de atender às necessidades de pessoas com diferentes habilidades. A inclusão exige atenção às demandas funcionais, desde o momento da compra até o uso diário.

Esse desafio vai muito além de boas intenções. Ele depende de inovação tecnológica, design adaptativo, políticas públicas que incentivem a acessibilidade e, sobretudo, de uma mudança cultural dentro da própria indústria. É uma oportunidade de construir um mercado que não apenas respeite as diferenças, mas que se torne mais eficiente, inteligente e acolhedor ao fazer isso. Quando acessibilidade e inovação caminham juntas, o impacto é profundo: melhora a qualidade de vida dos consumidores e fortalece a sustentabilidade e o crescimento da própria indústria.

Para manter relevância em um cenário cada vez mais crítico e consciente, o setor da beleza precisará criar produtos que alcancem todos os corpos, habilidades e realidades. A verdadeira inclusão não é tendência; é responsabilidade social e cultural. As marcas que compreenderem isso e atuarem de forma proativa ocuparão um papel central na construção de um futuro mais equitativo para todos.

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